Historia final 555

 

 

Introdução


O autor desse prefácio, eu Samuel Rodrigues Carneiro, vejo como uma introdução necessária para que vocês, prezadas e prezados, possam entender a maneira da composição deste meu livro em forma de diário. Entendam, comecei a escrever quando estava prestes a sair com a bicicleta, o meu intuito não era transformar em uma obra literária, desculpem a presunção, pois não chega a tanto, e sim apenas, um diário de bordo de um ciclo-viajante, entretanto, logo percebi que estes meus relatos seria importante para alguém que pretenda fazer uma ciclo-viagem e deseja saber como foi minha experiência, porque descrevo no exato momento em que acontecem os fatos, tenham essa obra análoga a um diário de bordo de um viajante de bicicleta.

O que vou falar aqui, principalmente nesse parágrafo, eu tenho certeza que já deve ter acontecido com vocês. Às vezes a gente planeja uma aventura em seus pormenores e quando chega o instante exato, o dia em que estava marcado para sair, algo de inusitado acontece, aquela coisa bem inesperada que faz com que vocês - como aconteceu comigo, mudar seus planos. No parágrafo seguinte vou relatar quais foram os infortúnios que tive que interromper, alterar e outros, então vamos lá.

Tudo programado para sair no dia cinco de dezembro, eu fazia a contagem regressiva. A bicicleta já está pronta, os itinerários formados, de nada e por nada iria mudar, ledo engano. Não quero estender os acontecimentos com pormenores, porque esses detalhamentos estarão contidos nesta obra. Comecei minha viagem de bicicleta no dia cinco de dezembro e quando eu já havia passado por Piraju, São Paulo, a uns oitenta quilômetros, mais ou menos, notei que o meu RG não se encontrava comigo, não sei se perdi, extraviou, ou o que aconteceu; então resumindo, sem RG fica impossibilitado de eu prosseguir a viagem de bicicleta e voltei para providenciar a segunda via.

Como era início de dezembro e eu havia programado essa data para poder chegar ao Cassino em pleno verão, esse infortúnio então tocou o meu coração de fazer a viagem só no ano de dois mil e vinte e três e eu curtiria a família nas datas festivas de fim de ano e ano novo. 


Nesse parágrafo, vou tentar fidelizar a abordagem sobre a composição desse diário, para poderem ler e entender. Como vocês percebem, essa minha aventura, foi dividida em vários momentos, a pouco eu citei que estava programado a sair para um determinado dia de dezembro, estando eu em módulo “contagem regressiva”, naqueles dias antes, escrevi uns maus traçados poemas, poemas de angústia para o grande dia. Sou assim: estou atribulado, à espera de! Minha cabeça fervilha com palavras desconexas. Como dizia uma música antiga: "não sou poeta, sou apenas um ciclista, pois o tema que me inspira é esse insano rolê no pedal". Logo após os mal delineados poemas, que vão estar na segunda parte desta obra, literalmente comecei a escrever o meu dia a dia viajando, entretanto, foi até Piraju.

O parágrafo acima foi apenas para dizer que essa minha obra começa com a viagem oficial, os pormenores do meu diário de bordo de um viajante de bicicleta, entretanto não quero furtar de ninguém à possibilidade de ler aquilo que escrevi antes de sair; o que eu registrei no meu diário antes do dia dois de fevereiro a data oficial.

— Primeira parte: quando vocês virarem a folha, já vão entrar diretamente na história a partir do dia dois, de Ourinhos até o Arroio Chuí;

— Segunda parte: começa o conteúdo da minha contagem regressiva antes do dia cinco de dezembro, que eu poderia dizer que são poemas mais lindos, entretanto se Luiz Vaz de Camões pudesse ler, com certeza se contorceria no túmulo. As maltratadas linhas poéticas, não deixem caros leitores, o poeta ouvir isso, porém as maltratadas linhas, vêm do coração.

— Terceira parte: vai do dia xxx de dezembro, do meu retorno de Pirajú, até o dia dois de fevereiro.

 

Tenho dito. Que Deus abençoe a todos nós, e a academia brasileira de Letras, que me aguardem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradecimentos

 

Grato ao marronzinho, o parceiro da estrada, nos dias e nas madrugadas, nunca não, eu estava sozinho. Só não tinha a boca calada, mesmo sem álcool e sem vinho, como "hablava" esse marronzinho, falava de tudo e de nada.

 

Muitas vezes brigava comigo, Caso eu o deixasse na chuva, Quando eu passava por Garuva, em que busquei um abrigo; Lugar cheio de pé de uva, Ele brindou comigo, Falou ao pé do meu ouvido: nossa amizade não faz curva

 

Pensa, o cara é companheiro e irmão muito afável, Marronzinho, admirável, só que nunca tem dinheiro; mas enfim, muito agradável, sempre puro e verdadeiro; às Vezes meu conselheiro, às vezes irresponsável.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capitulo I

 

 

MINHA VIAGEM DE BICICLETA

 

Hoje eu tenho tempo

Na totalidade do meu tempo,

Que importa se no meu rosto bate o vento;

Neste instante não há sofrimento,

Nem também busco nenhum evento,

Caso eu encontrar, eu comento.

Agora é todo meu, o tempo.

Vi pastando ao longe, um jumento,

E eu tenho que ele tem “momentos”;

Eu vi pastando ao longe um jumento,

Eu parei para observar aqui do acostamento,

E ficou somente a brisa do vento.

 

 

Hoje é dia 15 de janeiro de 2022.

 

E como sempre eu digo, aqui é um diário e tem uma sequência cronológica, então não devo furtar-me de relatar o que vem acontecendo, pois ainda não estou na estrada. Depois de amanhã é dezessete e já vimos, é a data de eu ir ao Poupa-tempo pegar a minha segunda via do RG. Se caso nenhum compromisso pendente, a única sugestão é montar (montar de subir) na bicicleta, não olhar para trás e sair em ciclo turismo, pois o que tiver para se resolver será feito na estrada. Qual o motivo de eu explicitar sobre compromisso a ser resolvido? Eu não sei se vocês vão entender, talvez seja que enquanto você, no caso eu, está na sua casa e não saiu para a aventura, sempre alguém fala: ah, desocupado, faz isso ou faz aquilo.

 

Para situar, hoje é primeiro de fevereiro de dois mil e vinte e três. Amanhã bem cedo eu vou partir aqui de Ourinhos, Chavantes, Ribeirão Claro e já preocupado com o local de dormir, porque fiz uma breve consulta no "Google maps" e não vi posto nenhum, entretanto, vi naturezas exuberantes, qualquer coisa a gente cai no mato para o acampamento selvagem, ainda não sei, só o futuro dirá. Hoje são os preparativos para a partida de amanhã, itinerário? Nunca sei ao certo, é assim mesmo, totalmente baseado nas incertezas, como sempre falo nos meus vídeos, um trecho da música de Leandro e Leonardo, "eu não sei para onde vou pode até não dar em nada".

 

Inicia-se, a EXPEDIÇÃO Praia do Cassino.

 

Hoje, dois de fevereiro, saí bem cedo, era tanta “badulaqueira” que pensei que a bicicleta não ia aguentar, estava na casa da filha, eu e o genro, nós tomamos algumas cervejinhas, hoje estou com uma “inhaca” que cheguei até parar antes de chegar Chavantes. Entrei em uma rua de terra e desmaiei ali por almas horas. Nesse exato momento, estou parado em baixo da ponte aqui em Chavantes no sentido Ribeirão Claro, a “inhaca”, mal-estar, já passou, quem sabe foi porque tomei água com sal, cloreto de magnésio e querosene, chumbo derretido, nem tanto Samuer. O que fica na vida da gente quando viajamos de bicicleta, é o tempo, tempo e é aquilo que você tem em demasia.

 

De Chavantes tomei rumo a Ribeirão Claro, ledo ilusão que seria só descida - no momento que eu escrevo, estou próximo de Carlópolis, às vezes me pego escrevendo fora do local que estou relatando -, só subida, uma descidinha pequena e uma subidinha grande. Ontem acampei as margens da estrada, um pouco antes de chegar em Ribeirão Claro, era uma entradinha maneira e dava se para esconder de quem passava na rua, parei fiz minha comida. Montei a barraca e cai para dentro, a chuva foi a noite toda, todavia, enfim, noite perfeita. E, o segundo dia, antes de desmontar a barraca, fiz o meu café, comi os ovos que tinha cozinhado na noite anterior e fui em direção a Ribeirão Claro para encontrar um posto de gasolina e dar uma carga no celular, no entanto, o carregador molhou tive que comprar outro, porém, são detalhes da viagem. Agora pretendo acampar um pouco antes de chegar Carlópolis, espero que a noite seja maravilhosa igual ontem, apesar de muita chuva.

 

 

Quando eu escolhi passar por essa região, que vai sentido Ribeirão Claro a Carlópolis, imaginei as belezas que eu via no “Google maps” é assim que eu faço quando vou traçar um trecho, uma vez que não conheço a região, então escolho pela beleza panorâmica e essa é região das águas, de muitas represas, parecia me apetecer, se assim posso dizer. No entanto, confesso que é muito linda a região, mas é de serras, subidas intermináveis, descidas nem tantas. Eu sei que o viajante de bicicleta não pode reclamar desses quesitos, porque sempre vai passar por algo similar, entretanto essa região de Ribeirão Claro até Carlópolis, ou mesmo antes de Ribeirão Claro, é como diz o ditado: “é o ó do borogodó”

 

Já caminhando por algum tempo, retificando, pedalando; escolhi um local para descanso, quem sabe passar a noite. Parei perto de uns eucaliptos. Como tinha feito o jantar no ontem e a metade a estava em um “mine cooler”, então sentei a sombra das árvores e comi, a comida estava ótima. Tudo indicava que teria uma excelente noite, pois o céu estava azul, no entanto, do lado de cá da cerca e mesmo assim era bem escondido, mas do outro lado da cerca, estava verdinho, o gramado de pastoreio bem lisinho e sonhava eu, em montar a barraca do outro lado, porém o que respeito são as cercas, se pelo menos os proprietários aparecessem por ali eu o solicitaria as permissões, entretanto, nada que fosse inviável (do lado de cá da cerca) nos eucaliptos, então decidi montar minha rede. A noite parecia ser maravilhosa, pois o dia estava ensolarado. Montei a rede por volta das 19h00min, porque percebi que depois de uns trinta minutos começaria escurecer, segundo informação da internet. Coloquei a lona de cobertura, só por encargo de consciência, já que, em minha mente, nada ia acontecer, não ia cair uma gota d'água de chuva. O imprevisto, estava cochilando e as 19h40min começou um temporal, parecia o ciclone Catrina. A lona não estava tão segura, eu não achava ser necessário prendê-la. Vento batia que parecia que iria arrancar as árvores. Eu imaginava naquele instante que estivesse no centro de um pesadelo. Julgava que dessa noite não passaria. Teria que tirar a lona, se enrolar nela e sentar em algum canto. Passou pela minha cabeça várias coisas no momento. Encarei a realidade; levantei no meio da chuva, um temporal que parecia estar na Flórida; amarrei as lonas de acordo arrastando a para baixo para me proteger dos ventos; fixei outro canto e amarrei mais para cima a rede, tudo embaixo de chuva e mesmo após parar a chuva, ouvindo esporadicamente os ventos. O temporal continuou a noite toda; entanto eu sou xucro, coloquei sacos de ração no pé; blusa de frio e a capa que tenho de chuva, tipo aquelas que motoqueiros usam; estava meio úmida, mas o peito estava seco, as mãos estavam frias, porém colocava no meio das pernas e o pé gelado, no entanto, nem muito, pois estava dentro do saco de ração e assim dormir a noite toda. No outro dia. Acordei bem cedo, ao clarear o dia, o tempo já tinha parado um pouco aquela insanidade quando foi verificar os rescaldos. A bicicleta fora jogada no chão, apesar de estar bem encostada na árvore. Tudo estava revirado, então juntei os cacos, os rescaldos, fiz uma varrição para ver se não havia extraviado nada, montei a bicicleta e caiu na estrada.

 

Nada de novo nesse diário, a estrada continuava aquelas grandes subidas e mine descidas, mas para minha alegria o que mais tinha nesse itinerário, eram as goiabeiras. A preocupação maior era não ter feito ainda o café, porém seguia meu trecho. Muito difícil parar em algum canto para fazer, porque não tinha nenhum espaço (ou muito vento, ou falta de um local propício) e acabei não fazendo, entretanto, pois sem meu cafezinho não sou ninguém, no entanto, goiaba, era o que não faltava e cheguei até juntar algumas para vir comendo.

 

O celular estava zerado, então parei em um pequeno patrimônio, ou um pequeno povoado e em uma pequena venda e dei uma carga, aproveitando para um de jejum de um bolinho de carne e uma Coca-Cola, ambos estavam perfeitos. Depois da pequena carga, segui meu trecho e vim parar aqui, (escrevo a palavra aqui, pois significa que é de onde estou escrevendo) no posto de gasolina antes da saída de Carlópolis. Antes de prosseguir a viagem, eu parei antes no mercado e comprei um Gatorade. Não posso esquecer que ainda tinha goiabas na bicicleta e acabei comendo, eu iria até comprar uma marmita, mas não estava com muita vontade e dentro da barraca eu comi um miojo cru como se fosse um biscoito. Montei a barraca no fundo do posto por autorização do dono e agora aguardo para sair amanhã cedo, mas antes de sair quero certificar que o celular tenha pelo menos cem por cento de bateria.

 

Saindo de Carlópolis

 

 

 

A noite foi bem tranquila no posto em Carlópolis, acordei cedo demais, quando isso acontece, a gente volta dormir de novo, simples assim. Tendo em vista que o posto não era vinte e quatro horas e sim com horário normal de expediente, então não daria para fazer nada, nem carregar o celular. O dia começou a clarear no horizonte, então montei minha bagagem, carreguei o celular e cai na estrada. Já não era mais aquelas “subidonas e descidonas”, aclives e declives acentuados, de Ribeirão Claro até Carlópolis, porém de vez em sempre, as subidas não muito íngremes, mas intermináveis, não resmunga, viajar de bike é isso.

Acredito ser época de colheita da goiaba, pois estava eu encostado em uma sombra e passou um caminhão carregado de goiaba, parou para conversar comigo. As pessoas têm muita curiosidade. Perguntou para onde ia, de onde vinha, o que estou fazendo, o que levo; foi uma investigação total, mas no final me deu três goiabas gigantes. Tem-se uma coisa que gosto na estrada é conversar.

A viagem não foi muito cansativa, pois há trinta e dois quilômetros à frente, cheguei a mais um Postos ProTork e agora cedo aguardando o celular carregar, essa correria tem que se fazer direto, ficar sem carga no meio do caminho não é nada legal porque além de fazer esse diário, ainda faço os vídeos do "YouTube" e "Instagram"

 

Ontem eu saí do posto próximo a Joaquim Távora, que por sinal um ProTork, aqui no Paraná estão de parabéns e o pedal rendeu uns trinta e dois quilômetros mais ou menos, eu sei que muitos devem estar se perguntando, por que tão pouco? É a estrada que não ajuda, além de ser apenas subidas e descidas intermináveis, também péssimo acostamento, por incrível que pareça a gente tem que disputar a pista com os caminhões, tanto é que estou aqui verificando o próximo posto e está a quarenta e nove quilômetros, mas infelizmente, acredito que não vai dar, uma vez que, conversando com caminhoneiros aqui no posto Cristo Reis, que dormir essa noite, eles dizem que ainda continua as longas subidas e as pequenas descidas; como eu sempre digo, eu não tenho pressa de chegar, porque sei que quando lá estiver, vou querer voltar.

 

O posto que eu estou, sua razão social é: Cristo Reis II, é um pouco antes de Wenceslau Brás, um lugar gostoso, tive boa noite de sono, foi bem receptivo para montar minha barraca, cafezinho, wi-fi, e mais algumas coisas; principalmente, totalmente grátis e mais alguma coisa. Nesse instante, dou uma carga no celular para sair no mínimo há quase cem por cento, já subi um vídeo para o YouTube, vou me suprir de água, porque não sei onde vou dormir, tudo está improvável, possivelmente dormirei no mato, acampamento na natureza, no entanto, como eu digo, o futuro pertence a Deus e não a mim.

 

Sobre ontem, na saída do posto Cristo Reis II, antes de chegar a Wenceslau Brás, eu sabia que a distância entre um posto de combustível da estrada e outro, era um pouco grande, não que fosse algo impossível, pois era quarenta e nove quilômetros A estrada nessa região não colabora, sendo extremamente redundantes, imensas subidas, imensas descidas e muitos locais a gente tem que descer da bicicleta, mesmo na descida, mas por quê? Acostamentos não prestam. Preparei me, para quem sabe, acampar, levei bastante água, deixei o celular bem carregado e fui para a estrada, no entanto, conclui os quarenta e nove quilômetros.

 

Já no Auto Posto Hulk em Arapoti, Paraná, foi ótimo para acampar, pois me forneceram um local coberto para colocar a barraca, no entanto, o posto que é dentro de cidade. As diferenças entre os postos nas estradas e aquele que são dentro da cidade, são as pessoas que ficam por ali e a gente não dorme muito sossegado, por isso eu prefiro posto de gasolina nas estradas. O Auto Posto Hulk não tinha café, só no restaurante ao lado, o carregador era uma dificuldade, porque não tinha tomada de energia do lado de fora, então tinha que deixar o celular lá dentro carregando. Desta forma não aprecio muito, no entanto, não havia percebido que na outra saída da cidade tinha outro posto, então o que fiz logo de manhã cedo? Peguei meu celular, fui até a saída da cidade do outro lado, parei por uns instantes, carreguei o celular, o café era cortesia, tomei duas xícaras e peguei a estrada. As horas? Nove da manhã, mais ou menos, eu tenho que parar em algum canto para poder passar o protetor solar e arrumar bicicleta em geral.

 

Avistei um restaurante de estrada, encostei minha bicicleta e reparei que tinha banheiro, havia uma moça humilde limpando, peguei minhas panelinhas sujas e perguntei para ela: posso levar ali no banheiro, ela autorizou. Dei aquela enrolada básica, puxei algumas conversas e voltei para acabar de fazer o que eu tinha a fazer. Ela me ofereceu café, de forma brincalhona, eu disse: se for de graça eu quero. Peguei o cafezinho e ela perguntou-me se eu não queria um pãozinho, balancei a cabeça na afirmativa que sim, aguardei humildemente do lado de fora, quando ela me trouxe dois lanches de muçarela; conclusão, a estrada é terrível, mas existem pessoas boas, no entanto, na ciclo viagem a gente não tem muito o que escolher, é encarar as dificuldades, e como diz o ditado: bola para frente, ou assim dizia o saudoso Ricardo Boechat: toca o barco.

 

Reflexão deste momento que pedalo a brisa dos ventos e o sol no meio céu. Hoje eu tenho tempo, hoje eu tenho todo tempo, que me importa se no meu rosto bate o vento; hoje não há sofrimento, hoje eu não busco nenhum evento, mas se eu encontrar eu comento; hoje eu tenho o tempo e eu vi pastando ao longe um jumento, eu tenho que ele tem e é um rebento, parei para observar ló aqui do acostamento e a brisa do vento.

 

Piraí do Sul

 

A caminho de Piraí do Sul, entrei na cidade para ver se encontrava um selante para roda da bicicleta, selante é um líquido que se coloca dentro da câmera do pneu para quando furar ele vedar, no entanto, a bicicletaria não tinha. Seguir em frente até o Auto Posto Ipirangão, como toda sorte pouco é bobagem, meu primeiro furo de pneu; não é novidades, a única novidade é a minha pressa de chegar ao Posto. Reparos do pneu sanado e no Ipirangão aproveitei para fazer alguns outros consertos na bicicleta, o dia estava lindo e maravilhoso, esse Posto que cito, o Ipirangão, uns dez quilômetros a frente de Piraí do Sul.

 

Estava eu consertando a bicicleta e eis que chegou outro viajante de bike, então preparamos tudo para montar barraca, entretanto, quando estamos no posto, gostamos de colocar as barracas quando começa anoitecer. Ainda era dia, final de tarde e antes de montar a barraca eu consegui duas marmitas, de graça no restaurante e decidimos comer antes de tomar banho. Inesperadamente, começou a chover e não parava mais, já estava dando onze horas, até que decidimos montar a barraca, mesmo molhados, cada um em um canto, e assim fora a noite. No dia seguinte, algumas quilometragens à frente, no restaurante Meneguelli, acampamos em uma cobertura e as coisas começaram a melhorar. De quando nós estávamos, estávamos por quê? Agora são dois? Sim, lá no posto ipirangão no dia anterior, eu e Laudenir Rodrigues vamos fazer o pedal juntos por alguns dias, ou até Curitiba, o restaurante Meneguelli também é posto de combustível, já se passaram dois dias.

 

Abóbora na rodovia

 

Ao sair do Posto O Cupim Panorâmico em Ponta Grossa, Paraná, a caminho de Campo Largo, na beira da estrada devido quedas de sementes dos caminhões ou outros motivos, havia vários pés de abóboras e também de milho, sabemos que são sementes que germinam naturalmente, encontramos várias abóboras do tipo cabotiá, novinha e com certeza ira fazer parte do cardápio do jantar de hoje. Eu e o Laudenir fizemos um ótimo jantar, cada um cozinhando sua parte, mas em comum uma cabotiá.

 

 

Terceiro Ciclo viajante

 

Quando acampamos no posto faltando cinco quilômetros para chegar em Curitiba, à noite apareceu o outro ciclo viajante que vinha de outros destinos. Nas estradas encontramos vários viajantes de bicicleta, pois é uma modalidade que parece estar fazendo sucesso.

De Curitiba em diante, o parceiro Laudenir Rodrigues, tomou seu destino sentido Santa Catarina e eu adentrei a cidade de Curitiba para encontrar uma bicicletaria e fazer os devidos reparos na bike. A cidade de Curitiba é enorme, no entanto, não me amedrontou e a cortei de fora afora porque o meu destino era fazer a Estrada da Graciosa, Rodovia PR-410. Até chegar a esta esplêndida Estrada, eu ainda haveria de pernoitar em dois postos de combustíveis, no entanto, não quero aqui estar relatando o passo a passo para não ser redundante.

Descer a estrada da graciosa é uma sensação incrível e perigosa, mas é linda! Também muito íngreme e meus freios estava falhando, por isso fiz aqueles reparos em Curitiba. São aproximadamente dezesseis quilômetros de paralelepípedo escorregadio que mais parece um sabão, na parte de asfalto é tranquilo.

 

A Graciosa foi apenas uma etapa nesse transcorrer da viagem com descidas íngremes e a frente, já não, não tão íngremes com o antes, a cidade de Morretes, Paraná, uma continuação do que vimos por toda a extensão da Graciosa, lindas paisagens e belos momentos para o pedal. Em Morretes eu parei para poder colocar o selantes no pneu da bike, porque em Piraí do Sul não houve possibilidades, a bicicletaria não tinha esse produto.

 

Um dia antes de direcionar-me a cidade de Matinhos, litoral paranaense, eu pernoitei em um posto de gasolina que não era vinte quatro horas e só para no outro dia fazer o trecho. Agora na cidade litorânea, descendo a serra, desde a Graciosa, sem nenhuma subida. Atravessei de barcaça para Guaratuba e ficarei no "Camping Municipal de Guaratuba".

A ciclo-viagem é algo que a gente não pode por expectativa em nada, a cada instante uma mudança de itinerário, de humor, de tudo, mas o que encanta é isso, nada é certo, tudo é duvidoso, todos os destinos podem ser alterados e toda a história pode ser reescrita só não esse meu diário, pois quero seguir a originalidade do que acontece.

 

Nesta minha cicloviajem, eu tento ser um polivalente, edito vídeos e envio para internet, escrevo o livro em forma desse diário, às vezes dá um parafuso em minha cabeça; perco-me nas edições, atraso os envios dos vídeos, faço confusão até com os meus próprios conteúdos; e com relação ao livro que escrevo, nem sei qual página parei. Entretanto, o legal é que nada como uma barraca montada oito horas da noite e todo o tempo para pensar no assunto.

 

Faltando um pouquinho no tempo, um dia ou dois. Hoje, dezoito de fevereiro, carnaval, sábado, resumo de ontem: acampei em um posto de gasolina próximo de Morretes, Paraná. Quando a caminho, ainda da cidade de Matinhos, em que fazia um café na beira da estrada, fui informado que havia esse camping aqui na cidade de Guaratuba, apesar de que era um pedal meio puxado em distância, o itinerário basicamente formado por declive.

 

Agora na cidade de Guaratuba, com suas belas praias, fui até o camping e a minha primeira impressão foi das melhores, aparentemente sem muitas informações eu digo que é um camping excelente. Procurei um lugar ótimo no gramado, montei a barraca e saí para um “role”, não muito insano, até a praia para dar aquele mergulho merecido. Como eu estava meio careta, passei no mercado e comprei duas latinhas de Brahma, só para dar um grau e ver o mar com outros olhos, também banhar no oceano. No mercado da cidade comprei mais alguns itens para o jantar. Na volta para o camping, comprei, de novo, é claro, mais duas latinhas e foi o suficiente para eu chegar fazer minha comida.

 

A noite estava perfeita, no entanto, o imprevisível aconteceu, caiu um dilúvio, não literalmente falando, choveu a noite toda. O problema maior não é a estabilidade da barraca quanto a chuva, ela aguenta muito, é, sim, o local onde eu a coloquei que formou uma lagoa. As minhas roupas estavam todas molhadas e só tinha um calção seco, então tive que ficar pelado dentro da barraca para não molhar o calção, até que eu pudesse sair e procurar um lugar coberto para estender meu isolante térmico e acabar a noite e assim terminou o transtorno maravilhoso da minha noite no camping.

 

No outro dia, pretendo ficar mais um dia aqui no camping municipal de Guaratuba, tenho que lavar minhas roupas. Mudei o local da barraca e coloquei no ponto coberto, inclusive esse ponto, nem era permitido, mas caso excepcional, não que eles autorizaram, porém, mudei para passar a noite, se pedir para desmontar eu desmonto. Mesmo sendo um maluco, sou a favor da lei e da ordem, para mim as coisas são assim, ou elas podem, ou não. Nesse exato momento em que escrevo, são nove horas e vinte minutos, estou indo ao mercado comprar um sabão para lavar as roupas, se vou comprar uma latinha de cerveja? Está na lei.

 

Os perrengues no cicloturismo, apesar de a primeira vista ser uma coisa ruim, é a parte melhor, é aquilo que mais vamos lembrar quando retornar: chuva em excesso, ou a ausência dela; postos de combustíveis que não permitem acampar, ou tem um barulho fora do comum quando estamos dentro da barraca; durante o dia a dificuldade de cozinhar na beira da pista, pois o vento é interminável, ainda o vácuo de ar dos caminhões; pneu que fura embaixo de uma tempestade e tem que desmontar tudo a sua bagagem; eu poderia enumerar uma centena de itens, entretanto, estes os perrengues no momento são os melhores.

 

 

Deste ponto do livro em diante, vou alternar levemente a maneira de descrever essa “Expedição Praia do Cassino”. O motivo que me levou a tal decisão é que eu vinha descrevendo, diariamente, “in loco”, semelhantemente a um diário com por menores dos acontecimentos de cada momento. Eu sei que o cicloturismo é dinâmico e a cada instante acontecem novos eventos. Vou tentar modificar agora, não escrever o passo a passo do meu dia, pois, sim, as lembranças do que aconteceu, para aperfeiçoar e simplificar os fatos. A história relatada aqui será em formato de lembranças de quem passou por lá, análogo a um escritor que confortavelmente escreve em um teclado de um computador numa página de “Word”, entretanto pretendo ser fiel aos acontecimentos, ou se bons, ou se ruins, pois aqui não é uma obra de ficção. Vou começar os meus relatos, que ainda estão fresco em minha memória por Guaratuba, PR, passando por Garuva, SC e até o famigerado, no bom sentido é lógico, do guarda do posto de combustível que não permitiu eu montar minha barraca, então não pernoitei e sim sentei próximo às bombas de combustível e passeia a noite.

 

Em uma nova forma de escrever, eu sentado no conforto do meu quarto tem um note book a minha frente, descrevo o que aconteceu a partir de Guaratuba, não é mais um diário escrito no momento. Nem preciso abalizar a beleza que é o Camping Municipal de Guaratuba, quando eu digo beleza, quero dizer um lugar excepcional; entretanto, achei um pouco caro, não sei se era porque eu me hospedei em pleno carnaval, época de temporada ou se o preço é realmente tabelado o ano todo. Eu passei dois dias lá. Sobre minha estadia, foi perfeita, talvez possa alguém ter passado por esse camping que não tenha essa mesma visão que eu tenho, mas, para uma pessoa que dorme em posto de gasolina, qualquer ranchinho é um “Taj Mahal”.

 

Saí bem cedinho do camping em direção a Garuva, SC, ainda sem ter conhecimento das condições das estradas, não fazia nem ideia do que me esperava, quando eu digo condições das estradas, quero dizer sobre aclives e declives, ou simplificando subidas e descidas, pode até parecer que não, mas é o que mais preocupa o viajante de bicicleta, porque chuva e sol, ou qualquer condições climáticas que não seja granizo, aí nem tanto, não é! Para o viajante de bicicleta não importa, apesar que eu tenho uma predileção por chuva, mesmo assim levo uma capa.

A minha preocupação com as condições das estradas, resumia se em sumidas e descidas, sendo repetitivo, no entanto, não posso me furtar em abordar tal fato; me enganei principalmente até Garuva, SC. Saindo de Guaratuba, basicamente adentrando no início de Santa Catarina, enfatizo que quem vai sentido ao sul, se houver alguma subida, é elevação isolada, ou inexistente. Já dando um “spoiler” “até o fim da Expedição Praia do Cassino, não teve mais subidas”, e fico imaginando o viajante de bicicleta que faz o sentido oposto, quer dizer, vem do sul para o norte, na lógica que, se por analogia: foi só descida para mim, então para quem vem não necessita aqui relatar.

 

Como dizia minha mãe: o tempo estava meio brusco, o seu significado é: tempo fechado, um chove não chove. Ao viajar de bike, a gente pensa que o tempo, ou a climatologia da terra se importa com o mero insignificante viajante de bicicleta pelas estradas deste Brasil ou do mundo e tudo resume em: “é porque estou pedalando”; se faz sol, é porque estou na bicicleta; se para de chover, é para me castigar; E aí mora arrogância de um indivíduo, as condições atmosféricas, ou as condições climáticas ignoram tudo e todos, nem para esse viajante de bicicleta, nem tanto quanto o agricultor, ou aquela pessoa que construiu sua casa em uma encosta com perigo de deslizamento; e assim eu ficava num longo discurso, ("de mim para eu mesmo", não sei se gramaticamente é correto assim que se escreve mas era o retrato da minha guerra interior) numa eterna batalha naval com a chuva ou a não chuva. Quando colocava a capa de chuva, parava de chover, quando tirava, começava a chover, nem tudo está perdido e no final entramos num acordo. Coloquei a capa de chuva e disse ao tempo: quer chover, chove, (cai alho, porque não falo palavrão) não quer chover, não chove, e ainda cantarolava Guilherme Arantes, “deixa chover, deixa a chuva molhar, dentro do peito tem um fogo ardendo e nada nunca vai se apagar”.

 

E digo: os perrengues do viajante de bicicleta devem ser aceito com bom humor e alegria, porque é só disso que vai lembrar depois que terminar a viagem, nada mais vai importar. O chover, ou não chover, essas e outras situações que não posso mudar, acompanhou-me em quase o meu itinerário, e mais no final eu irei expor como resolver. Perrengues e bônus, com certeza fiz a minha viagem na temporada das goiabas maduras.

 

 

Em Guaratuba, ontem, para explicitar esse próximo assunto, eu havia ido ao mercado e comprado meio quilo de bisteca de porco, já ciente que ia fazer a janta de ontem para sobrar para o almoço de hoje. Na noite de ontem temperei as bistecas e hoje pela manhã, antes de sair do camping, eu as fritei e coloquei um pouco de água cozinhando até secar, porque é a única forma de trazer essas carnes sem estragar, trazê-la pré-cozinhada. Agora nesse exato instante que escrevo, no posto que vou pernoitar, peguei minha caneca com as carnes, coloquei dois miojos, e uma particularidade aqui do Sul, é que todos os postos têm água quente, pois é muito apreciado a quem usa chimarrão, entretanto para mim, eu uso a água quente para fazer meu miojo e agora é com bisteca de porco já pré-frita, pré-cozinhada e muito deliciosa, além dessas utilidades, podemos dizer que se você tiver um pacotinho de café solúvel, tem se um cafezinho sem muito trabalho.

 

 

Após jantar o macarrão com bisteca e me sentindo satisfeito, passei a noite no posto. Alguns perrengues aconteceram ao ser o único posto de gasolina que não fui autorizado a montar barraca. No momento que cheguei, já fui informado pelo segurança que não tinha essa autorização, no entanto, havia permissão de pernoitar na marquise do restaurante ao lado do posto, quando fui até o local onde eu poderia pernoitar com a minha barraca, encontrei dois indivíduos que para mim não gerava confiança, então preferir ficar no posto mesmo sem montar a barraca.

 

Sobre ontem, eu sei que nem um posto é obrigado permitir que a gente possa pernoitar, no entanto, eu acho que, deixando bem claro que a minha opinião - é uma maldade, um viajante de bicicleta carregado de tralha, não poder montar uma barraca num canto qualquer, sendo que esse viajante não é nenhum marginal, usuário de drogas, arruaceiro e nem ninguém que quer ficar aprontando ali, apenas quer pernoitar. Já disse e volto a enfatizar: sentado ali na frente do posto, num canto qualquer sem atrapalhar ninguém, isso eles não podem impedir, então se não me permite montar barraca, não monto, fico a noite cochilando sentado. Entretanto, devo dizer a quem pretende pegar estrada e viajar de bicicleta, acampando em postos de combustíveis na estrada, isso é um fato raríssimo, digamos um em cem.

 

Desde que sair do posto onde os seguranças eram maldosos (apenas um humor), cheguei cedo ao próximo posto na estrada. Estou em Santa Catarina a uns dois dias. O posto Ipiranga, que vou passar novamente à noite, no ano passado já havia acampado nele. Na viagem de bicicleta ou cicloturismo as coisas funcionam mais ou menos assim, uns dias chovem e outros dias fazem sol, uns dias você come, outros dias passa fome, uns dias pega perrengue em postos, outros dias é semelhante a Taj Mahal. A vida do estradeiro de bike é análogo a uma roda gigante e a cada noventa e nove vezes que está lá em cima, uma vez em embaixo, infelizmente quando termina a viagem a gente apenas lembra-se daquela vez que esteve em baixo. Então a realidade é, nas dificuldades, dar risada das mazelas, essa é a magia do viajar de bicicleta. Outra sensação que temos é que durante o dia, quando pedalamos, ficamos imaginando onde vamos pernoitar, mas eu costumo dizer o seguinte: Deus proverá e até hoje sempre proveu. No posto que agora estou, cheguei cedo, local onde vou pernoitar é uma marquise, no entanto, é coberto e já fiz um propósito comigo, todas às vezes que for pernoitar em local coberto e não tiver pernilongo, apenas utilizarei do isolante térmico e travesseiro inflável.

 

Cheguei cedo e sentir vontade de comer algo com sal, por isso carrego alguns miojos, raramente eu janto miojo ou almoço, ocasionalmente, apenas faço uma boquinha. Os postos de gasolina, principalmente aqui na região sul, quase todos eles têm máquinas de água quente a uma temperatura de quase cem graus, então facilita a vida, é só colocar o miojo na panela a água quente e deixar cozinhar naturalmente. Do que falei aqui sobre não montar barraca, apenas colocar isolante térmico, coberta e travesseiro, fazer um miojo logo cedo; é que vou passar o dia inteirinho no posto, eu cheguei às 10:00 da manhã e vou ficar até ao anoitecer para arrumar o “cafofo” o cantinho de dormir. Fatos de hoje

 

Na cicloviagem sempre temos uma dúvida sobre amanhã, como a letra da música de Leandro e Leonardo: eu não sei para onde vou, pode até não dar em nada, minha vida segue o sol no horizonte dessa estrada e não nego, na cicloviagem o que mais temos é horizonte na estrada; esse horizonte é diferente, pois sempre estamos observando e nunca termina, entretanto, sempre mudando o seu formato, às vezes montanhas, pradarias, colinas, ou às vezes apenas a estrada que some no final da abóbada terrestre e não levando a lugar nenhum. A gente sente de tudo, todavia única coisa que não sentimos é a tal da depressão. Talvez eu esteja - análogo aos dizeres populares -, enchendo linguiça, entretanto, a verdade é, tudo que falo aqui, é a sensação de um ciclo viajante.

 

Onde estou agora no contesto deste maravilhoso Estado de Santa Catarina? Acredito estar a uns oitenta ou noventa quilômetros do Balneário Camboriú, na estrada existe uma dificuldade de sabermos qual cidade que é, porém, isso, talvez não importe nesse exato momento e sim o caminho que fazemos. Ao bem da verdade, entretanto, a minha verdade, além de não sabermos a cidade que estamos, muitas outras coisas, não sabemos quando estamos ciclo viajando, como, por exemplo, o dia que é hoje, tanto do mês como da semana; a hora exata, se não pegarmos o celular para olhar; o que anda acontecendo de notícia no meu estado, no meu país e no mundo, também é claro se não entrarmos no “Twitter” ou sites de notícias, o cicloviajante acaba se desligando. Também raramente ficamos sabendo do que está acontecendo em sua casa, de uma coisa eu sei, se ninguém se comunica é porque não aconteceu nada de ruim e é vida que segue. Esse tipo de viagem, de bicicleta, faz com que a pessoa se desligue um pouco do mundo real.  Tudo isso que ponderei, foi apenas para dizer que eu não sei a cidade que estou e a única informação é, transformando-me numa redundância, estou há uns noventa quilômetros do Balneário Camboriú e cinquenta e cinco de Itajaí.

 

 

 

Algo que percebi é que às vezes eu estou aqui escrevendo e relatando sobre a minha viagem de bicicleta e o leitor não faz ideia de onde estou, então entendo que de agora para diante, principalmente quando eu lembrar, vou situar a minha localidade. Nesse momento em que eu saio desse posto de combustível e dormir igual uma criança sonolenta, a noite toda sob a marquise e sem montar barraca, já abordei esse quesito anteriormente, estou partindo por essa Br101 sem fim, que quem me observa, percebe uma bicicleta gigantesca e cheia de tralhas, porém devo informar que nada do que levo é tão pesado assim, o bauleto que é um plástico duro e não pesa nada, o mais pesado talvez seja a barraca dois quilos e setecentos gramas, que é enorme. A minha localidade de hoje, outra vez não sei o nome da cidade, no entanto, tenho noção que estou a cinquenta e cinco quilômetros de Itajaí, sentido Balneário, mas hoje vou passar, antes de Itajaí, por Barra velha. Eu não faço muito ideia do meu itinerário por já ter passado por aqui no ano passado, a única coisa que sei é que não existe distância, se dez quilômetros, se vinte, ou se quarenta, quem sabe mais de cinquenta, o meu dia é comandado pelo nascer e pôr do sol e assim o viajante de bicicleta segue seu caminho, preocupações, não! Nem com alimentos, nem com o sol que arde na cabeça ou se vier chuva. Para se alimentar na estrada, tenho algumas opções: a primeira é parar e cozinhar o meu macarrão com massa de tomate e alguns pedacinhos de linguiça que a gente vem comprando ou ganhando; segunda é parar em um restaurante de estrada, a possibilidade de eles fornecerem comida é de noventa por cento e gratuitamente. Aí então as pessoas ficam imaginando o que é comer gratuitamente, pois eu digo: quando você olha para um ciclo viajante na estrada, o estereótipo que você vê é uma pessoa cansada, barbuda, cabeluda e as roupas meio surrada, esse é o pré-requisito. Aí alguém irá dizer: não entendi para que esse pré-requisito, eu vou tentar explicar, pois nas minhas escritas, não quero negligenciar nada do que acontece: você para a bicicleta onde pode visualizar, adentra o estabelecimento de uma forma bem humilde e pergunta para a moça do caixa: vocês não forneceriam um pouco de comida, e a informa que está viajando de bicicleta, pois esta é a senha, com certeza você vai sair dali com uma bela marmita. Entretanto, eu oriento sempre a descrição, chega fala baixo e aguarda lá fora, também evitar restaurantes pequenos e sem freguesia, porque aí é difícil. Garanto que até hoje, todos os lugares que cheguei, eu comi e algumas vezes nem pedi, apenas parei para tomar uma água gelada ou pegar um pouquinho de wi-fi ou dar uma carga no celular e a pessoa me ofereceu. Quando você diz, vocês não forneceriam um pouco de comida, estou viajando na estrada, você pode ser rico, ter dinheiro, entretanto não está mentindo solicitando um pouco de comida e está viajando na estrada, porque ambos os fatos são verdadeiros, caso houver uma recusa ou qualquer outra situação, usem aquele trecho da Bíblia: Vire as costas, bata o pó da sandália e vai embora, porem, tal o fato não aconteceu comigo e apesar de ter desviado um pouco do assunto sobre a localidade, voltamos para o próximo parágrafo no tema original.

 

Quando eu passei em Barra Velha, na rodovia e loja Havan a minha frente, a Estátua da Liberdade, deu-me uma sensação de estar em Nova York, apesar de gostar mais deste lugar, Barra Velha do que aquela cidade norte-americana. Acredito que essa estátua com seu nome, a “Liberdade”, representa um pouco o que é a vida de um viajante de bicicleta, A tal a liberdade. Sintetizando, eu digo o que entendo por liberdade, não só o viajante de bicicleta, como também qualquer outra prática de aventura, ou seja, do que for. Liberdade é você ir até onde quiser e até o momento que quiser, caso não quiser, voltar; como diz a constituição, o direito de ir, vir e permanecer e eu ainda acrescento o voltar. A liberdade é uma essência única que habita o seu universo, não digo para que você não tenha respeito com os compromissos, pois a liberdade vem com responsabilidades. Nós somos seres únicos, nascemos sozinhos e morreremos também sozinhos, o que fica nesse intervalo é a vida, os compromissos, o direito de você fazer o que quiser, desde que não prejudique terceiros.

 

Encerrando o hoje, mais um posto de gasolina com o local coberto, diferentemente do posto anterior, nesse vou montar a barraca porque percebi alguns pernilongos e amanhã saio daqui cedinho, se assim Deus permitir para chegar à cidade de Balneário Camboriú.

Esse posto, igualmente ao anterior em que dormir na marquise, na outra vez que fiz esta cicloviagem eu fiquei nele, (Expedição Serras Catarinense - 2022), para mim está facilitando, pois é só parar naqueles postos que parei há um ano. Não estou tão longe de Camboriú e lá com certeza vou ficar no camping em que fiquei o ano passado, tudo é assim, como se fosse uma repetição, porém facilita a vida. O camping da Chapecoense é ao lado da torre onde o proprietário é o menino Ney, o ano passado ele me ligou e pediu para que eu subisse até lá nas alturas, entretanto não quis e hoje, ele sabendo que estou chegando disse-me que vai me aguardar; apenas uma fake News, não pode perder o senso de humor, amanhã saio bem cedo Camping chapecoense.

 

Ontem eu deixei bem claro que o posto de gasolina fora o meu local de acampamento e ao lado do posto existe um hotel elegante, com hidromassagem personalizada, restaurante gourmet, sauna e piscina no quarto, todavia não quis pernoitar nesse hotel porque acampar no posto é o máximo, antes de vocês acreditarem, já volto com a redundância repetitiva de uma fake News, não nego! O posto é extraordinário. O senso de humor na estrada é elevadíssimo, talvez por não ter ninguém para a gente compartilhar um bate-papo ou uma piada, a gente brinca conosco mesmo, parece até um pouco estranho, mas assim sou eu na estrada. Converso comigo e respondo a mim, discuto comigo e às vezes até brigo comigo; também, conto piada para mim, essa é a história de eu ficar no hotel, é lógico que se fosse de graça eu não rejeitaria.

 

“Antes de eu entrar no assunto que é o tema central destes livros, viajar de bicicleta” vou relatar uns por menores de como tomo minhas decisões. Eu sei que realmente é estranho, entretanto eu converso comigo, tomando minhas decisões e até dando bronca em mim, todavia, eu não sei qual é o eu verdadeiro, ou eu interlocutor na segunda pessoa, ou se existe essa tal segunda pessoa. Um pequeno exemplo, eu digo para mim uma situação hipotética: vou entrar ali e respondo para mim, não sabendo se esse eu, ou é a segunda pessoa, ou a terceira, ou quarta. Respondo assim: Mas será que vale a pena entrar ali, e até falo meu nome, mas com pseudônimo de “Somewhere”-, mas será que vale a pena entrar ali “Somewhere”; e, o outro eu rebate: ah sim “Somewhere”, ah sim “Somewhere”, deve valer a pena. Depois de um diálogo prolongado, eu comigo mesmo e eu, então, tomo as decisões cabíveis. Só mais um pormenor, às vezes nesse diálogo eu brigo comigo, eu xingo, mostro o dedo do meio e mando tomar naquele lugar, porém no final de tudo, estou bem. Parece estranho, não é? É assim que funciona e nem por isso me considero uma pessoa com insanidade, apenas o meu role que é insano.

 

A minha localidade atual é Itajaí, uns vinte e cinco quilômetros do Balneário Camboriú. A viagem está ótima, o pedal se desenvolve de forma deliciosa, os pneus não furaram mais após a intervenção com selante para tampar os pequenos furos que aconteçam, e chuva? Choveu ontem, anteontem e vinha chovendo já uns três ou quatro dias. Na manhã de hoje começou chovendo, às vezes prefiro, porque apesar de molhar tudo, é refrescante, portanto agora, por volta de nove horas, o sol surge no horizonte. Eu estava com muitas saudades do astro-rei, quando o vi, senti uma felicidade imensa, mas sei também que mais tarde ele vai esturricar minha cabeça. Quem dera se o dia todo fosse igual o amanhecer, aquele solzinho no leste, bem apático, cor de cúrcuma, açafrão-da-terra, no entanto, aquecendo o corpo de forma sutil. Quem dera se o dia todo fosse assim, apenas quem dera, porque quando o sol sobe na abóboda celeste, em cima do eco dome, fica a pino, é como se estivéssemos num forno, ainda que esteja ventando, o dia é excruciante, entretanto se estiver ventando temos um bônus da brisa. Porque ao pedalar e transpirar, molhamos a camisa, essa camisa molhada age como um filtro resfriando o corpo, ao transpiramos em junção com a brisa, criamos um auto refrigerar eterno. O bônus maior é quando estamos suados e encontramos uma descida.

 

Ao falar em goiaba, mais uma vez é como lembrar a música de Cazuza: "exagerado" ou simplesmente redundância, repetição, um tanto desnecessário, é de novo voltar ao assunto, porém o que posso fazer. Não tenho certeza, entretanto acho que peguei a temporada das goiabas. Sinto-me como Alico nos países das goiabeiras. Desde quando estava em São Paulo e entrei no Estado do Paraná, agora em Santa Catarina, goiabeiras abundantes e pasmem, todas bem maduras. Não se espantem se até o final dessa expedição eu virar uma goiaba ou um pé de goiaba, para assim eternizar o meu ser.

 

 

Finalmente, cidade maravilhosa, essa quanto aquela, Balneário Camboriú cheia de encantos mil, assim como fiz no ano passado, hospedei-me no mesmo acampamento, porque em vez de ficar procurando novas opções eu opino por fazer algo que já deu certo, até porque, o camping da chapecoense, na minha opinião é o mais bem localizado e barateiro. Caso algum de vocês, caros leitores e leitoras, estiverem a fim de saber detalhes desse camping, é só assistir o vídeo do meu canal, lá eu filmei a placa onde consta a razão social e o telefone. A vantagem do camping, quando se compara ao acampar nos postos de gasolina, é que a gente pode guardar as coisas e curtir a cidade.

 

Balneário Camboriú, semelhante à ilha de Floripa com o codinome, “ilha da magia”, eu classifico o Balneário como “Terra mágica onde tudo pode acontecer”, tome cuidado com o que você pede nesse lugar, mas também, aqui é semelhante a Vegas, tudo o que acontece no Balneário, fica no Balneário. Na minha expedição, estive em Guaratuba, lindíssima a cidade, entretanto não se compara ao Balneário. Se fosse para fazer uma classificação de notas, essas duas cidades, Guaratuba seria oito pendendo para nove, é uma boa avaliação e Balneário não teria como eu dar mais de dez porque não existe. Do camping da chapecoense até as praias, existe um elevador que transporta você de um lado a outro do rio, totalmente panorâmico, passando por cima da orla do rio onde ficam os barcos dos magnatas, assim começa a beleza da cidade. As praias são como nunca outras vistas, longas, sei que houve intervenção humana, entretanto para melhor (a intervenção humana se faz necessário quando assim desejamos, exemplo uma senhora que fazem implante de silicone ou um rapazola que tem uma harmonia facial ou qualquer outra que seja) eu sei que essa analogia é um tanto tosca, mas quis explicitar que quando é para melhor tudo é válido, por toda extensão, areia branquinha de um lado e do outro os prédios. Fato agonizante de Balneário, pelo menos para mim, a maioria dos edifícios é superfino e alto, que dá até aflição na gente. Quando eu falo que os prédios são finos, não é que eles são garbosos e sim finos na espessura, assemelha uma tábua no sentido vertical.

 

 

Capitulo II

 

Já no dia de partida para deixar essa maravilhosa cidade de Balneário Camboriú, volto enfatizar: o camping da Chapecoense vale a pena verificar.

 

Não devo e nem vou reclamar da chuva, do Sol, dos barulhos dos caminhões ou de outros fatores, mas ela, aquela menina má, a chuva, não me abandona, abençoada água que cai do céu. Não quero mais abordar sobre a chuva torrencial e sim falar de algumas praticidades que venho adotando na minha viagem. Como sabemos, estou saindo de Camboriú e ontem como eu estava na cidade, a bicicleta bem guardada e aproveitei para ir ao mercado fazer umas comprinhas. Comprei uma porção de pernil, já picado, tipo a passarinho, para o jantar de hoje e cozinhar uma quantidade suficiente para comer amanhã. Costumo dizer que é comida francesa, de “Dedontè”. Eu  havia comprado o “Toddy”, ou achocolatado, entretanto estava muito ralo, então quero incrementar, pois no mercado comprei da mesma quantidade do achocolatado, a mesma de leite em pó, e também aveia. Os postos de combustíveis da região sul, já falei, todavia falo de novo: tem maquininhas de água quente que facilita a vida da gente, rimou. Pois, se quiser tomar um chocolatinho gostoso, é só colocar essa mistura de achocolatado, leite em pó e aveia em uma caneca, pegar água quente há quase 100 graus e “Voilà” eis aqui!

 

 

 

Na viagem de bicicleta, ou cicloturismo, uma coisa que a gente deve fazer e não se furtar e facilitar de todas as formas possíveis e imagináveis, conhecer histórias de outros ciclos viajantes com seus exemplos, do que eles fizeram para facilitar a vida. Eu sei que nem tudo enquadra, o que deu certo para um pode não dar para outro. Essas ideias têm que proliferar e ressalto, se vier fazer uma cicloviagem para o sul, com certeza o café já está garantido, porque um pacotinho de  solúvel e uma caneca é o suficiente, apesar que, noventa e nove por cento dos estabelecimentos das estradas tem café cortesia. Com a tal maquininha de água quente, pode até facilitar sua vida em cozinhar o seu alimento, pois ao pegar a água quente para levar ao fogareiro, já é menos combustível que você vai gastar. Já houve situações que eu até cozinhei ovos com a água quente, é lógico que coloquei uma vez, aguardei três minutos, mais outra vez e mais outra vez, totalizando 9 minutos, sem acender a espiriteira; ah sim, claro! Mas outra vez trocando a água.

 

Quando passo por Santa Catarina, me encanto e pode chover, chover, e chover, a paisagem nunca vai alterar; ou, explicando melhor, o cenário vai ter seu bônus de serração e de nevoeiro, entretanto ela continuará linda. Assim eu abordei em um vídeo no “Youtube”: “Santa dos meus pecados chama se Catarina, entretanto como o pecado normalmente é a parte melhor da vida, com todos os respeitos devidos e sem prejudicar ninguém”; então amo o Estado de Santa Catarina. Que me perdoem as pessoas que tenha uma religiosidade desse estado.

 

 

Cheguei ao posto e vou pousar, como todos eles, ou quase todos, sou bem atendido. Já são mais ou menos quinze horas e então vou comer minha comida francesa, “Resté D'Onté”.  O que estou percebendo aqui no Estado de Santa Catarina em comparação com a última viagem é a quantidade de pessoas do trecho que encontro nos postos de estrada. para especificar o que são pessoas do trecho, não são aquelas que enquadram como mendigos, nem também as que tem problemas mentais ou abandonam tudo e sai a andar pelo mundo, todo largado e sujo. As pessoas do qual me refiro e encontrei nos postos de Santa Catarina, tem suas particularidades, entretanto não acontece em todo o Estado, e sim, próximo das cidades grandes; Florianópolis, Joinville e outras. Percebi ao contatar com elas, que as mesmas abandonam tudo e sai caminhar pelas estradas, porém não muito longe de suas casas e se estão longe, exemplo, estou próximo de Balneário Camboriú, elas vieram ou de carona, ou de ônibus. Não é confuso, apenas quero dizer que elas saem das suas casas, contudo sempre orbita a sua antiga residência, E no caso das que moram longe, alguns gaúchos e outras paulistas ou paranaenses, foi porque veio de carro, carona e ou outros e acabam andando de um posto a outro, pois ali tem um lugar seco, comida e ainda outros apoios. De forma muito rudimentar, vou traçar um perfil psicológico sem estender muito sobre elas: a primeira vista, a gente fica assustado, entretanto, são pessoas de bom coração e as características mais unânimes, é elas quererem repartir o que tem; caso tenha dois pacotes de bolachas, elas querem dar a você um pacote; caso tenha duas bolachas, elas querem dar uma a você; sobre a bolacha foi apenas um exemplo. 

 

  

Eu já estava quase pronto para ajeitar o meu “cafofo”, então apareceram dois ciclos-viajantes, dois jovens, bem jovenzinhos, que resolveram conhecer o Brasil em cima da bike. Eles encostaram a bicicleta e eu fui recepcioná-los e mostrar que sou da paz, Gaby e Luar resolveram ficar.  A garota disse viajar levando o seu gatinho, na minha santa inocência imaginei que fosse um recém-nascido, aqueles gatinhos pequenos, entretanto não, era um gato parecido com o “Garfield” no seu tamanho, é lógico, pois era todo marrom de uns oito quilogramas mais ou menos. Na verdade, era uma matilha, ou por ser gato o seu coletivo é “gataria”: Gaby, luar e Milton. Milton é o gato. Antes de encerrar o dia, fiz até uma entrevista com eles, e o Milton se exibia, subindo e descendo do compartimento na bicicleta onde ele estava alojado, na entrevista abordamos sobre a vida deles; os motivos de caírem na estrada, os anseios e os medos; fatos interessantes que tem acontecido até o momento; até onde almejavam seguir a viagem; e um bate-papo descontraído.  Eles disseram que estão vindo do Rio Grande do Sul, cidade de Porto Alegre; Estiveram algum tempo na “ilha da magia”,  é assim que é conhecido a ilha de Florianópolis; pretendem fazer o Brasil através do litoral e outros pontos turísticos, do sentido sul ao norte, apesar que esse itinerário, na sua totalidade, é só subida, porém cada um vai para onde quer; tiveram problema no Morro do Cavalo, pior Serra de Santa Catarina e assim deu-se o final do dia, à noite, adormecemos e no outro dia bem cedinho, despedi-me dos dois, desejando-os boa viagem e seguir meu caminho.

 

 

Não é que eu tenha muita pressa, entretanto, gosto de sair dos postos de gasolina antes do amanhecer, o motivo é que já que vou pedalar em um sol de arrebentar, então aproveito para pedalar nas manhãs que são mais frescas.

 

Quem segue esse caminho que estou fazendo, na rodovia federal BR-101, tem de um lado o oceano e do outro as montanhas, poderia até não falar sobre esse assunto, entretanto é um espetáculo ímpar. De onde estou nesse momento, mostrando aqui a minha localização, no pedal de hoje eu vou passar por Florianópolis. Queria até entrar e experimentar a “ilha da magia”, entender porque tem esse nome, no entanto, o meu intuito é outro e sim chegar na Praia do Cassino. Tenho minhas reclamações, porém minhas ressalvas sobre a cidade grande, que não é nada que aprecio, no entanto, ela te oferece recursos. No ano passado, na minha expedição, serras catarinenses, eu passei por aqui e tive um certo problema com a rodovia federal BR -101, quando começa o perímetro urbano de Florianópolis e vai até a cidade próxima, na BR, passa a ser inexistente os acostamentos, em pelo menos quinze quilômetros. Esta situação não altera muito, pois você pode ir magiando a rodovia federal, contudo é um empecilho, porque as margens são bem movimentadas, pessoas, veículos e outros quesitos mais.

 

 

 

Retomando o assunto, vou tentar ilustrar o que fizeram com os acostamentos; como é uma megalópole de grande fluxo e ligações entre várias cidades, eles transformaram o acostamento numa terceira via, falar que tá tudo bem para o ciclista, é mentira, entretanto pensamos no bem da comunidade.

 

Relembrando de algo que aconteceu na cidade de Morretes, Paraná, logo após a Serra da Graciosa, o meu pneu traseiro vinha a todo o momento furando, dia sim e outro também. Até relatei que em Piraí do Sul tentei encontrar o selante, mas na bicicletaria não tinha e na cidade de Morretes coloquei o produto no pneu traseiro. A minha vida no ciclo turismo é feita de experiências e tento aproveitar aquilo que é positivo, não repetir o que não deu certo, então eu estava fissurado para fazer o mesmo processo no pneu da frente. Antes de eu chegar na “ilha da magia” ou quer dizer, na cidade de Florianópolis, já vinha pesquisando lojas de bicicletas existentes, no “Google Maps”. Não gosto muito de adentrar as cidades, pois sempre é trabalhoso e o que aconteceu? Fui a algumas bicicletarias e não havia o produto, até que me informaram o local onde eles trabalhavam com bicicletas elétricas, não que eu queira colocar motor na minha bike, tenho certeza que não vai aguentar, no entanto, sim, resolver o meu problema com o pneu da frente. Quando eu cheguei à bicicletaria, porém de bikes elétricas, o proprietário informou-me de outro produto, ou o outro tipo de câmara de ar, a tal e desconhecida por mim, câmara de ar de gel que resiste até pregos.

 

 

 

 

Antes de eu falar sobre esse produto, quero descrever um pouco a bicicletaria, não sei se o proprietário é maluco ou é o jeitão da madeira, porém tinha uma cozinha que parecia uma cantina, bolo de tudo quanto é tipo e cafés. Quando adentrei o local, imaginei que fosse pago, entretanto, o proprietário disse para eu ficar à vontade, comer o que quisesse, tomar café à vontade, imagina só! Sobre o produto, a câmara de ar, não era o que eu queria, entretanto, na vida do viajante de bike, nem sempre tudo é o que ele quer, sim, o que tem para a ocasião. Se essa câmera de ar era caro; talvez, sim, talvez não, entretanto se funcionar vai valer a pena. Então disse a eles para “carcar o pau” e trocar a câmara de ar. É como aqueles dizeres: já que não tem tu, vai tu mesmo; e não me arrependi. Não vou dar “spoiler”, todavia estou escrevendo agora no conforto da minha escrivaninha e meu notebook. Não me arrependi de nenhum dos dois, nem o selante que coloquei lá em Morretes, nem essa câmera de ar de gel.

 

 

 

Antes de encerrar o dia, eu trago nisso aqui os detalhes dos acontecimentos. Na estrada sempre conhecemos pessoas, ao seguir a minha viagem, havia um vendedor de frutas que me parou para conversar, querendo saber dos detalhes. O que mais gosto e às vezes perdendo um tempão, o meu dia complicando, o meu itinerário incompleto, ainda assim eu paro para conversar, mas nesse caso ganhei uma manga enorme, ele queria que eu levasse mais e recusei, pois só iria comer essa hoje e guardar para outros dias, poderia estragar.

 

Quando cheguei no posto de gasolina para o acampamento, só queria descansar e relaxar, entretanto, algo me incomodava que era o Morro dos Cavalos, para o próximo dia. Inevitável. É lugar que não aconselho para cicloviajante, detalhes vocês saberão na trajetória de amanhã.

 

 

 

Acordei cedo e logo sai igual a todos os ouros dias, foi de madrugadinha, única diferença é o frio na barriga e aquela sensação que  hoje vai ser diferenciado; um misto de muitas coisas: euforia; medo; angústia; alegria e outras muitas sensações, porém o que acontece de diferente, justamente nesse dia, antes de tudo, quero dizer que no meu itinerário, terei a Serra do Cavalo. Tive várias sugestões e opiniões com as pessoas do qual conversei, os frentistas dos postos, os motoristas e outros, sobre o tal Morro do Cavalo.

 

Quando estou em "módulo" cicloviagem, viajando de bicicleta, uma das minhas práticas é abordar as pessoas a respeito de onde vou passar e assim não ter surpresas. As informações que tive é que eu poderia pedir ajuda a concessionária da via,  eles transportariam a bicicleta no trecho equivalente ao Morro do Cavalo. Até achei interessante a ideia, entretanto não concordei, porque iria quebrar o ciclo da "Expedição para a Praia do Cassino". O que fiz, então, para aliviar essa tensão? Simples, montei na bicicleta, ajeitei tudo e sai.

 

Antes da chegada ao fatídico Morro, a uns cinco ou seis quilômetros à frente de onde pernoite, parei no restaurante para tomar um café cortesia. Já até comentei e falo de novo, sempre vou falar dos assuntos que acontecem nas estradas, mesmo sendo repetitivo, esses estabelecimentos de estrada têm o café cortesia para os motoristas, entretanto também, eles não negam aos viajantes aleatórios, caso eu. Solicitei o café cortesia e eles me deram, além do café, dois outros lanches. Imagina só se eu não gostei.

 

 

 

 

 

Sobre o Morro do Cavalo, a primeira coisa que digo, principalmente aos viajantes de bicicleta, se tiver como evitar é melhor, porém sendo impossível a mudança de trecho, alguns cuidados. Pelo que eu sei esse tal morro é uma serra, é lógico, não é, também uma reserva indígena. A intenção, quando fizeram a rodovia federal e até hoje, era fazer um túnel, pois assim resolveria o problema, como tantos túneis existentes.  A questão é, não houve autorização do cacique, não entendo o motivo de não autorizarem; analisa comigo, se faz o túnel, seria inexistente à estrada que corta a reserva e com todo o respeito,  pensa numa gente besta, é esse tal de índio, diziam até que se tirasse uma foto deles, estaria roubando a alma; no entanto, esse não é o problema por agora e sim o famigerado Morro da Cadela, ou quer dizer, Morro do Cavalo.

 

 

A mãe do engenheiro que idealizou deve ser uma santa, porém ele é um grande filho. A subida é íngreme, são três vias de autofluxo, a direita preferencialmente, caminhões de grande porte, um detalhe: aquela faixa branca que encerra a pista está em baixo do “guard rail” ou a defensa metálica de proteção, como a gente conduz a bicicleta? Empurrando? Para efeito de imaginação: a faixa branca está embaixo do “guard rail”, o que se presume é que uma bicicleta carregada, com bauletos e alforjes, ainda uma pessoa empurrando, totalmente vulnerável na pista, seria quase um suicídio ou uma tentativa.  As faixas são estreitas, tendo como preferencial a direita para o motorista, então o perigo é muito grande; pois, o que se entende por uma serra e não diferenciando essa (a do Cavalo) das outras, é uma subida depois uma descida, o ditado diz: tudo que sobe desce. Se me perguntarem onde eu tive mais medo, se foi na subida, do qual eu estive empurrando a bicicleta, ou na descida em que desci montado, não saberei dizer; as mesmas particularidades da subida, também foram a descida, no entanto, senti o perigo um pouco maior, porque eu montado na minha bicicleta e na mão de fluxo, os caminhões enormes tentando se desviar de mim. Por tal situação, volto a destacar: você é um ciclista ou cicloviajante, faça uma pesquisa sobre a Serra do Cavalo antes de adentrá-la, do resto é só alegria.

 

Depois dessa perrengue, passei por um túnel, nesse contexto, os índios não colocaram empecilho para que furasse a montanha e fui pernoitar no Auto Posto Baleia. Dispensa comentários, um dos melhores lugares, dos bons que passei a noite,

 

Ontem, quando cheguei no Auto Posto Graal Baleia, eu havia montado a barraca em um gramadinho nos fundos, ao lado tinha um local coberto onde havia várias mesinhas de concreto. Não escolhi montar no local coberto com as mesinhas, porque como eles me deixaram pernoitar, então não queria atrapalhar. A minha barraca tem uma particularidade, quando você a monta, e não coloca nada dentro, você pode carregá-la para onde quiser e nesse instante chegou o gerente do posto e disse para eu colocar a barraca aqui embaixo do coberto, porque vai chover, ele já estive verificando que em Criciúma está caindo um temporal. Onde o gerente mandou eu montar a barraca era um lugar bem melhor, pois era coberto, e se ele mandou colocar a barraca num lugar melhor, quem sou eu para questionar e assim o fiz. Ainda bem que fui alertado, porque alguns minutos depois, caiu um temporal de chuva com ventos que até o local coberto já estava ficando perigoso. O restaurante do posto forneceu me uma marmita gratuitamente, jantei e dormi igual uma criança que aprontou o dia todo.

 

  

Pela manhã, como são os meus "Modus operandi" é uma expressão em latim que significa "modo de operação",333 sai bem cedo, o sol não ia dar trégua no hoje. Não sei dizer ao certo se prefiro o tempo nublado com chuva. Para o cicloviajante, às vezes tem preferência por um tempo a outro, chuva a Sol, frio a calor, entretanto o que importa é o ânimo do pedal.

 

 

Sempre que eu puder e lembrar, é lógico, quero mostrar o lugar que estou durante o escrito, hoje estou próximo de Tubarão-SC, não sei bem certo qual cidade é, a única coisa que tenho informação é que estou a 40 km de Tubarão, Santa Catarina. Quem conhece os meus passeios, sabe que o ano passado tive que retornar desta cidade, quando fazia as serras catarinenses. Choveu como nunca antes havia chovido e inundou a cidade, tornando inviável a sequência da minha cicloviagem. Caso queira saber do que aconteceu, é só ir no “YouTube” e ver a temporada anterior

 

Não sei se já falei – a todo o momento estou narrando momentos -, sobre o marronzinho, é um parceiro que está junto comigo nessa expedição Praia do Cassino. Se ainda não falei sobre ele, então agora vou descrevê-lo: é um macaquinho muito astuto que conversa pelos cotovelos e ainda que eu não tenha abordado sobre a sua presença, ele é muito enjoado na questão da alimentação, enquanto eu, o cicloviajante, como qualquer coisa, a sua base alimentar é bananas desidratadas cultivadas na cordilheira do Himalaia, uma cadeia montanhosa localizada no sul da Ásia, ou As montanhas Rochosas (ou simplesmente Rochosas) são uma importante cordilheira localizada na América do Norte ocidental. Eu até falei a ele que assim iria ficar difícil, porém fazer o quê, não é? Eu tenho um pensamento e ajuízo que cada um faz o que quer, desde que não prejudique ninguém, quando o marronzinho começou o trecho comigo, ou a Expedição Praia do Cassino, ele não tinha nome e aqui vocês sabem, além de escrever essa história em forma de diário, também faço os vídeos para “YouTube” e “Instagram”. Então lancei uma enquete com os meus seguidores da rede social para que falassem nomes para que eu colocasse no marronzinho, que antes, é lógico, não tinha nome, acredito que pelo menos uma centena de nomes, entretanto a escolha dele, o Marronzinho e com todos os nomes postos nos comentários, ele quem escolheu, achei razoável. A única questão pendente entre mim e ele é a fonte de dinheiro que devo disponibilizar, ou se ele pudesse encontrar outro tipo de alimento, a não serem essas caríssimas bananas desidratadas cultivadas “na cordilheira do Himalaia, uma cadeia montanhosa localizada no sul da Ásia, ou As montanhas Rochosas (ou simplesmente Rochosas) são uma importante cordilheira localizada na América do Norte ocidental”

 

 

 

Pretendo dizer a verdade a vocês, não vou ficar enchendo linguiça, o marronzinho é um ser vivo que conversa, respira e tem suas vontades, no entanto, no seguir desta expedição, falo mais um pouco sobre ele, agora voltar às estradas.

 

Paraná nem tanto, mas Santa Catarina e logo-logo Rio Grande do Sul com suas máquinas de água quente, não quebram galhos e sim florestas. Eu tinha seis ovos, então resolvi cozinhar, eu tinha Toddy com leite ninho e aveia, resolvi então fazer um achocolatado, já não tenho mais. Certas coisas facilitam a vida e agiliza para que a gente faça uma viagem de bicicleta tranquila, como já falei anterior, essas máquinas de água quente é uma benção. Entretanto, todo cuidado é pouco, porque às vezes quando a gente abre a torneira, ela espirra a água quente, sempre tem que fazer um pequeno teste antes de abrir e existe uma possibilidade de vocês verem isso que estou comentando no meu vídeo do “YouTube”, fiquem a vontade no canal, pode usar sem moderação. 

 

 

Estava eu, tranquilamente fazendo o meu pedal e viajando despreocupadamente pelas terras catarinenses, eis que a frente parou um veículo. No momento que avistei, não percebi  que tipo de veículo era, entretanto, percebo que às vezes os motoristas encostam para poder atender o celular ou outras coisas, nada de novidades até a este momento. Quando me aproximava, a pessoa que estava do lado do passageiro e o motorista desceram e aguardaram a minha chegada,  deu para perceber que era uma Saveiro e tinha algumas inscrições religiosas na sua lateral.  Fui abordado e eles informaram-me que fazia um trabalho social distribuindo marmitas para os trecheios ou pessoas em situações de vulnerabilidades nas estradas, ou próximo da cidade de onde eles vieram.  Perguntaram-me se eu queria um “marmitex”; eu disse que não, porque não estava com fome, é claro que é mentira que disse isso. Aquela marmita caiu do céu como se fosse Maná dos deuses. Às vezes eu paro e penso, a humanidade ainda tem jeito, tal, a humanidade, o homem e a mulher de uma forma geral, entretanto é o que mais preocupa a gente com relação às suas atitudes, pessoas malucas, maníacos, alguns prejudicam os seus próprios semelhantes, porém posso garantir que 99% das pessoas são boas e  por causa dessas minorias, a gente tem que estar sempre com o pé atrás, esse tal ser vivente chamado humano.

 

Agradeci e segui viagem para encontrar um lugar que pudesse detonar o “marmitex” A rodovia federal (101) em Santa Catarina é ótima, apenas uma reclamação, a dificuldade de encontrar uma árvore ou um local para sentar e comer. Andei por alguns quilômetros, não vislumbrei o lugar cem por cento ideal, opinei por comer a marmita em um espaço não tão legal, apenas uma sombra de árvores, porém igual um cavalão, comer em pé, "ain" nem me fala em cavalo que eu lembro daquele morro fatídico, e ainda não tinha noção do conteúdo daquele rango, porém a surpresa foi espetacular.

 

No começo dessa história, eu havia encontrado outro cicloviajante e com estilo diferente "bikepacking", nós fizemos uma boa caminhada juntos, quatro ou cinco cidades. Quando chegou a Curitiba, ele seguiu o sentido serras catarinense e eu fui fazer a Graciosa. Laudenir Rodrigues, grande sujeito, gente boníssima, entretanto o itinerário dele era diferente do meu, porque ele queria fazer as serras e em Curitiba ele seguiu para um destino e eu outro, agora quem eu vejo do outro lado da rodovia? Laudenir. O “guard rail” separando-nos e uma pequena grade nós trocamos algumas palavras, ele sobre o que aconteceu pelo seu itinerário e eu relatando as experiências desde o momento que nós nos separamos. laudenir também tem um canal no YouTube, é recente, porém está postando os vídeos das suas aventuras, quem quiser acessar é só colocar na pesquisa Laudenir Rodrigues oficial, no final desse livro vou deixar o link

 

Para falar um pouco sobre Laudenir, quero solicitar aos caros leitores para imaginar uma pessoa engraçada, pois foi o que percebi naquele fragmento que fizemos, bom de coração, qualquer pessoa seria capaz de viajar o mundo acompanhado dessa figura. Não sei se ele vai ler estes meus registros, entretanto se estiver lendo, envio a você, Laudenir, um grande abraço, valeu, qualquer dia a gente se encontra.

 

Encerro esse meu dia parando em um posto na estrada e como quase sempre acontece, eu peço permissão para montar a minha barraca. Todas às vezes que chego a um posto de combustível, de preferência nas estradas, abordo sempre de forma humilde e escolhendo os piores lugares e assim também sempre eles me oferecem um lugar coberto, ou um local que está desativado, no caso desse posto agora, acampei no lavador que está desativado.  Nem ia montar a barraca, porém como a gente tem que estar sempre um passo à frente daquilo que pode acontecer, digo devido aos pernilongos, então barraca posta.

 

Quando acampo em algum posto de gasolina em que tenho a opção de montar ou não a barraca em um local coberto, normalmente acordo bem cedo antes de clarear o dia e hoje não foi  diferente. Esses postos são tudo de bom, todavia nem tudo é cem por cento, quase sempre existe um caminhão funcionando a noite toda, porem quem viaja de bicicleta o dia todo, nem houve o barulho do caminhão e assim acontece comigo. Uma coisa legal que posso relatar aqui sobre estes postos, é que cada um tem seus cachorros e esse foi campeão, mais de meia dúzia de “doguinhos”. Legal é que esses cachorros interagem conosco e de manhã cedo uns quatro ou cinco cachorros querendo brincar. 

 

 

Estou a uns dez quilômetros, mais ou menos de Tubarão, Santa Catarina, a cidade em que tive de abortar o meu passeio de bicicleta no ano passado, na inundação gigante, até tiveram que utilizar do ginásio de esporte para socorrer as pessoas que foram prejudicadas pelas enchentes e também dormi no ginásio de esporte. Passei pela Ponte Anita Garibaldi, pensa numa estrutura gigantesca, dois quilômetros e oitocentos e trinta metros. Admirável, linda e de um lado a represa, não sei ao certo o nome e nem também, vou pesquisar agora, quando você passa por sobre a ponte, um pequeno vilarejo margeia, uma visão quase romântica que nos remete a algum país europeu, não sei se estou exagerando. A estrutura da ponte com seus cabos nos remetem a Ponte Octávio Frias de Oliveira é uma ponte estaiada localizada na cidade de São Paulo e essa analogia é tão somente  a grandes estruturas, não com a extensão em quilometragem, porque a Anitta com dois quilômetros e oitocentos e trinta metros e em quilometragem acredito ser maior do que a ponte estaiada de “Sampa”; porém, o que vale a pena o encanto do lugar e não ter a liberdade por estar viajando de bicicleta naquela estaiada paulista?

 

Observando nos pormenores, cada minuto, cada segundo e enquadrado da paisagem em geral, cada instante uma visão diferente, alguém possa vir aqui e dizer que de moto é interessante, eu concordo; de carro é interessante também, não discordo, não se chega mais rápido? E qualquer outro meio que não seja bicicleta; nunca discordo de ninguém, uma boa aventura é uma boa aventura, independente quais são os meios e ainda vou mais longe, mesmo que for fazer andando; entretanto, a minha preferida é a boa e velha bicicleta, carregando barraca; o isolante térmico; as panelas, caso necessário cozinhar; o saco de dormir; o travesseiro inflável e parando onde quiser. O importante é levantar as nádegas do sofá, onde a aventura maior é assistir os vídeos de pessoas fazendo aventura.  Existe dois lugares para um ser humano, na arquibancada, outra é no campo; ambos estão curtindo o momento, entretanto prefiro estar eu e a minha amiga magrela, pois quando na estrada, ela se torna uma pessoa nas minhas aventuras e comigo vai interagindo.

 

Passando a Ponte Anita Garibaldi, estou quase chegando na cidade de Tubarão e aos meus caros leitores que tem vontade de fazer as serras catarinense, tanto do Corvo Branco como Rio do Rastro, só uma dica: antes da cidade de Tubarão, existe uma entradinha com sentido a Gravatal, então você segue sentido Serra do Corvo Branco. Uma vez que subiu a encantada Corvo Branco e é uma loucura, dificuldades mil, chega-se até a fenda que o”pointe”; tenho certeza que noventa e nove por cento das pessoas vai fazer uma foto e postar no Instagram. Seguindo em frente, desce se a serra novamente e vai até Urubici, onde pega destino a cidade de Bom Jardim da Serra, “ver no Google”, posteriormente começa a subir até o mirante do Rio do Rastro e é só alegria.

 

 Agora a pouco descrevi sobre as pessoas boas e ainda quero complementar, pois recebi uma mensagem via “Instagram” e meu genro pagou o “marmitex” via “pix”. Já o agradeci e a marmita do jantar comprada, assim minha noite vai ser mais tranquila. Nada muda na minha viagem de bicicleta como sempre, mais uma vez acampando nos postos de gasolina. Outra vez em um local onde era o lavador veículo que estava desativado. Nesse posto não tive dúvidas quanto a necessidade de montar a barraca, porque tinha cada pernilongo do tamanho de um pardal.  Tenho conhecimento que eu não falei nesses relatos anteriormente, no entanto, além de pernoitar, a gente ainda tem a possibilidade de tomar um banho e de forma gratuita, assim eu o fiz. Também, não resta lembrar que na viagem do ano passado, eu abortei na cidade de Tubarão.  Agora, nesse exato instante, já passei por Tubarão a alguns quilômetros, então começa a ser aqui o mundo desconhecido nos lugares por onde vou passar. Tenho ansiedade em querer saber o que vai acontecer, se minha expedição vai chegar até a praia do Cassino ou se possa acontecer algo que venha interromper, assim como aconteceu o ano passado: as chuvas torrenciais nas serras, que por consequência inundou a cidade de Tubarão, Santa Catarina. Toda a minha vida é como um barco, eu levanto o leme e deixo o vento me levar, apesar de algumas angústias, às vezes eu elimino todos os pensamentos da cabeça e acompanho os indefinidos ventos que me levam a não sei para onde, ou a maré, ou seja lá o que for, nunca coloco todos os ovos na mesma cesta, eu os divido em algumas outras, porque a possibilidade de nada dá certo, é muito grande, sempre eu digo: eu não sei para onde vou, pode até não dar em nada, a minha vida segue o sol, no horizonte dessa estrada. Tenho consciência, o melhor de uma aventura, não é chegar, porque sei que quando lá eu estiver, vou querer voltar e me desencano de tudo, vou seguindo como se eu fosse um ser único no universo, como se mais nada houvesse além das minhas respirações, como se o mundo resumisse apenas em mim, como se mais nada existisse; e, parafraseando Caetano Veloso: eu vou, porque não, porque não, porque não. 

 

 

Auto Posto Rota (01), na cidade de Jaguaruna e quase chegando no Rio Grande do Sul. Não tomo café no posto que durmo.

 

Estou saindo do Auto Posto Rota (01), em Jaguaruna,  município do Estado de Santa Catarina e sinto que quanto mais escrevo, mais repito o que aconteceu ontem, e anteontem. Um jeito particular meu de fazer cicloturismo, não posso deixar de relatar: nos postos de gasolina das estradas em que eu acampo, gosto de sair bem cedinho; se a minha experiência com esse pernoite foi esplêndida; tive o wi-fi;e, juntamente com energia elétrica para carregar eletrônicos; e, ainda conseguir um jantar de graça; tive também sossego para dormir sem aquele barulho característico de postos de combustíveis, sendo os caminhões que ficam ligados, barulho do motor funcionando até de madrugada; caso tudo isso aconteceu, logo de manhã, antes de clarear o dia, eu monto em minha bicicleta e caio na estrada, sem ao menos tomar café.  Por que eu faço isso e todo esse ritual? É que na estrada são cheios de postos, eu posso tomar o meu café mais tarde, é aquele café cortesia, entretanto com a minha cara de mendigo, se alguém me oferece algo para comer, eu não enjeito.

 

 

Nem repleto que é uma eterna descida, ou um retão, vários pés de goiaba, chove e faz sol, vamos refletir sobre como sair para o cicloturismo. As minhas reflexões, são os meus pontos de vista e quero deixar em aberto que pessoas pensam diferentes da maneira que eu entendo o que é cicloviagem. Antagonismo, na forma de pensar e agir, é a coisa mais legal, pois daí suscita uma discussão e ambos possam crescer. Algumas pessoas pensam que para cicloviajar tem que haver um preparo físico antes, porém vejo de maneira diferente, para cicloviajar é apenas montar na bicicleta e sair, tendo em mente um itinerário, uma meta, o local de chegada. Para cicloviajar, deve desprender uma preocupação com as condições da bike, contudo não necessita estar em cem por cento, apenas que ela vá aguentar os primeiros mil quilômetros e quando eu falo em mil quilômetros, quero dizer o seguinte: não se deve sair com uma bicicleta que esta comprovadamente quebrada, porém andando de forma bem rudimentar. Cicloviajar deve se aperfeiçoar a utilização dos apetrechos, quero dizer, ser minimalista, calcular tudo minuciosamente com relação ao peso, o tamanho dos objetos e a sua utilidade. Vamos citar exemplo no quesito panela para cozinhar: na estrada quando a gente para e vai fazer uma comida, é aquela quantia básica de uma pessoa, ninguém cozinha para um pelotão de cicloviajantes; uma  ideia mais prática, vamos pensar no macarrão com molho de tomate; você cozinha o macarrão em uma pequena panela, aquela quantidade suficiente para você comer e refoga o tempero em uma pequena frigideira, ou outra panelinha, menor do que a que cozinhou o macarrão; então eu apresento a vocês aquelas panelinhas compactas que se vende na “Shopee, Wish, Aliexpress, enfim, da China ou do Brasil; são pequenas panelas que a própria frigideira é do tamanho da tampa, uma entra na outra e ambas cabem na palma da mão; tendo no interior dessa panela, a boquinha de fogo para o gás, ou uma espiriteira; se duvidar, ainda dentro dessa panela, com esses quesitos, cabe o kit gás, o pacotinho de café solúvel. Para dormir, você necessita simplesmente de uma barraca de um lugar, pequena, leve e portátil e também um isolante térmico; enfim, sem estender muito, cicloviajar é sinônimo de minimalismo; e eu, nesse role insano, já na terceira temporada, vim por toda a extensão jogando fora coisas, o que significa que mesmo com a experiência de alguma cicloviagens, ainda cometo esses deslizes. Se você quer fazer uma cicloviagem, analisa o cicloviajante e o “bikepacking”, fica no meio-termo. Neste contexto, quero tratar minha próxima expedição, uma vez que o “bikepacking”, não leva basicamente nada e o cicloviajante carrega o mundo, então quero balancear.

 

 

Alguns dias atrás eu passei próximo a uma praia e ainda não citei aqui. Estava eu fazendo a minha viagem sem me preocupadamente, quando vi uma placa dizendo sobre uma praia privativa de naturalistas, então compreendi que era a praia de nudismo; pensei comigo mesmo, é lógico, por que não? E fui lá. Estou abordando este assunto, para falar minhas impressões ao ver pessoas desnudas, ou no linguajar popular: peladões e peladonas. A princípio, achei estranho, não talvez a palavra estranha, entretanto diferente, todavia depois comecei a perceber que tudo era normal e dentro da normalidade as pessoas serem iguais, porque é apenas um corpo, tanto de homem como também de mulher, nas suas várias faixas etárias e todos se igualando, uma vez que, nada os diferem se for rico, ou for pobre, se houvessem ali o rei, e uma rainha, e um plebeu, e uma plebeia. Conclusão que cheguei é quanto à futilidade daquilo que levamos em nossos corpos, como roupas de marca, ou adereços de ouro e prata, ou ainda os carros, indicando sua posição social; no mundo naturalista tudo isso inexiste. 

 

 

Como sempre, outra vez, novamente, mais um posto e mais um cair na estrada logo de manhã, como no ontem não falei nada sobre o lugar que pernoitei e estava filosofando, parágrafos anteriores, vou abordar um pouquinho desse posto e da minha saída.

 

Estou a um dia de Rio Grande do Sul, não marquei a cidade porque a noite de ontem não foi muito legal. Quando eu cheguei ao posto no ontem, falei com o gerente para montar a minha barraca na parte dos fundos, o mesmo disse que não poderia e que autorizaria montar do outro lado de uma pequena rua e os viajantes que por ali passavam, na sua totalidade, acampavam naquele espaço. Pensa num cara teimoso, sou eu, se meu coração diz que eu não devo montar uma barraca em nenhum lugar, de pirraça passo quase a noite sem dormir. Sou pirracento até altas horas. E, não montei, todavia fiquei em um canto do posto onde cochilei a noite toda, contudo não era como dormir em uma barraca e tal, já abordei alguns trechos dessas escritas, ou alguns dias atrás sobre passar uma noite sem dormir. Na verdade, não ligo, porque sei que ninguém morre de não dormir uma noite, porque se assim fosse, ou morresse, o pessoal do turno noturno estavam todos mortos. Eis que amanhece no posto e a minha nota é cinco.

 

 

Numa viagem de bicicleta minimalista até o tamanho da blusa é necessário, porque roupas compactas ocupam menos lugares; mesmo no calor, sempre nas madrugadas, faz frio, então não tem como fazer essa viagem de bicicleta sem levar uma blusa.  Até a questão do café, é necessário a gente compreender que todos os postos, ou quase na sua totalidade,  têm café e noventa e nove por cento é cortesia e não existe necessidade de você tomar um café nos um por cento dos postos nas estradas. Porque estou falando isso, para tornar desnecessários os apetrechos de fazer café, apenas um pacotinho de solúvel, caso tiver que acampar na natureza.

 

Cada dia da minha viagem de bicicleta, eu faço uma reflexão, porque os dias são longos. Hoje eu pensei na tal liberdade e o significado da sua essência. Lembrei me dos dizeres da Constituição Federal: “direito de ir vir e permanecer” (Este direito encontra-se acolhido no art. 5, XV, CF, no qual menciona ser livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens), direito de ir, é você resolver ir a algum lugar sem que não haja nada que o impeça, a não ser os compromissos, porque acima desse direito, somos seres sociais e temos boletos, no entanto, dentro do direito de ir, existe o direito de vir; que significa que você vai até onde que você quer e quando não quiser mais, surge no seu âmago o direito de vir, de encerrar, de ter a liberdade de não mais querer. Achei interessantes os dizeres da constituição: “ir, vir e permanecer”, esse último significa que você pode não querer mais ir, nem querer mais voltar e ficar. Liberdade é você fazer aquilo que quer, sempre lembrando que os compromissos sociais devam ser respeitados, exemplo trabalho, famílias, esposas, filhos e amigos. Não esquecendo também que o que prevalece é o que você quer. A gente nasce sozinho e morre sozinho, não trazemos nada e nem levamos nada.

 

 

Passei mais uma fronteira de Estado, já no Rio Grande do Sul e pela primeira vez em terras gaúchas, se tudo o que falaram sobre esse Estado realmente for o que disseram, com certeza vai ser muito legal, entretanto a única coisa que sinto é que ao passar pelas cidades, assim foi em Santa Catarina como também no Paraná, é que a gente sabe o nome, porém estamos só na rodovia. Estou em Torres, Rio Grande do Sul, pronunciei isso, porque não vou adentrar a cidade e vou parar em um posto de combustível que está a uns cinco quilômetros daqui.

 

Dos postos que parei, esse é o melhor; a princípio, você não dá nada por ele, até ser informado que o posto construiu um espaço para os viajantes. Local  de apoio, principalmente para os motorhome, com toda infraestrutura de banheiro, tanque para lavar a roupa, cozinha, wi-fi e tudo que você imagina. Eu descrevendo a respeito dessa maravilha, não dá para ter muita noção, entretanto se você for até o vídeo verá a estrutura. Quando faço um pernoite em um posto, não costumo dar nota dez, porque sempre falta algo e nesse estou contrariado porque queria dar uma nota acima de dez e não existem possibilidades. Rio Grande do Sul, pelo jeito eu comecei com o pé direito.

 

 

Percebi aqui no Estado Gaúcho, trafegando pela BR 101 é sua planície; por todo o caminho que estou passando, é sempre um reto, tanto para frente, como para trás e dos lados.

 

Mais um anoitecer. Essa noite eu vou pernoitar no Auto Posto Túlio, desde o início do Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Torres, eu estou a uns sessenta quilômetros à frente. Agora, outro dia. O meu pernoite no Auto Posto Túlio fora perfeito e o grande e maravilhoso Rio Grande do Sul inteirinho só para mim. Meu projeto para hoje é parar em um camping que localizei a vinte e oito quilômetros, no “Google”, se vai estar aberto ou se ele existir, são outros detalhes; entretanto, caso contrário, vou ter que estender um pouco mais para montar minha barraca em um posto a mais de setenta quilômetros, segundo minhas pesquisas no “Google maps”. A princípio penso que vinte e oito é muito pouco, porque como me disseram, o Estado do Rio Grande do Sul é uma planície, estradas eternamente retas, ou pequenas descidas. 

 

A reflexão do dia  é a diferença entre o “cicloviajante” raiz e “nutella”, eu talvez sou um “cicloviajante”  raiz. Quando eu saio para as minhas viagens de bicicleta, tenho em mente que é viajar sem gastar quase nada, a verdade o gasto zero é utopia. Entretanto, a minha felicidade é quando bato o recorde de vários dias sem desembolsar um centavo, talvez mais adiante eu volto abordar sobre o assunto e tento explicar como que é viajar sem gastar.

 

Passei por dentro da cidade de Osório para continuar a BR-101,  não sei se fiz confusão ou se a 101 em vez de BR transformou-se em RS, rodovia estadual, contudo a única coisa que posso afirmar é que o “retão” não se acabou e o camping que eu havia visto no Google mapas está fechado, então o pedal vai ser um pouco mais puxado, até o posto de combustível a uns setenta quilômetros, não daqui, pois já pedalei uns trinta e cinco.

Parei no posto de combustível, felizmente cheguei depois de uma eternidade pedalando, é o posto Rota dos Ventos, com uma particularidade característica desse lugar meio deserto, ele fecha às sete horas e nem guarda tem, todavia enfim, a única coisa que quero é montar minha barraca e dormir, hoje serei o guarda do posto e amanhã saio bem cedo.

 

 

 

 

 

Capitulo III

 

Às vezes esqueço, entretanto, faço questão de lembrar, estou saindo do Auto Posto Rota dos Ventos na cidade de Palmares do Sul, Rio Grande do Sul; o nome é bem chamativo, Rota dos Ventos, não sei, mas acho que vou plagiar esse nome para incorporar a minha viagem e esperar que as rotas dos ventos estejam a favor, não de frente para mim. Existem determinadas situações em que os ventos são bons, batendo em minhas costas, que a bicicleta chega quase a deslizar sozinha e fico imaginando se tivesse uma vela para transformar em “windsurfe”, ou bicicleta a vela.

 

Desde ontem às dezenove horas, com a evacuação dos funcionários, ou falando sério,  quando todos foram embora, até a este momento, a paz reinou, eu fiquei um pouco preocupado, entretanto, o que poderia acontecer? Nada, talvez. Como a frente dos banheiros é um coberto, tipo marquise e não havia pernilongos, então não montei barraca. O movimento de veículo é muito pequeno, à noite é quase zero. Ocasionalmente, alguns automóveis passam, por ser um posto de combustível e as placas estarem sinalizando, alguns acabam entrando, entretanto, vê que não tem atendimento de vinte e quatro horas, mas  eu ali na marquise, como um guarda sempre atento. Ainda que o posto não fosse  vinte e quatro horas, tinha uma fonte de energia para eu carregar o celular, o “Power bank”, as lanternas, e ainda o wi-fi ficar ligado à noite toda e então faço a vocês uma pergunta: O que mais eu posso querer?

 

 

Nesse instante em que relato, estou saindo de manhã cedo em  direção ao fim do mundo, ou direção ao início da Praia do Cassino, mas antes de chegar lá, ainda vou levar uns três ou quatro dias, não sei dizer, nada sei, só sei que não sei. Ao sair do posto e na estrada, o que permanecia, como vem sendo já há uns quinhentos quilômetros, o “retão” interminável. Além da estrada sempre reta, algo interessante a gente observa nesta localidade, os pontos de ônibus, acredito passar um ônibus uma vez por mês, é em forma de silo de secagem de grãos em tamanho reduzido, achei muito interessante e peculiar. Plena convicção que esses pontos de ônibus em formato de silo  arredondados, dá até no caso de uma necessidade extrema, passar a noite

 

 

 

Eu percorria tranquilamente a estrada e na contramão de fluxo, pois a estrada é estreita e em um trecho o desnível entre a estrada e o acostamento é de mais ou menos um palmo. Explicando melhor, a estrada estava a um palmo acima do acostamento, em um determinado momento quando o carro passou beirando a minha bicicleta, eu tentei descer  para o acostamento e a inevitável fatalidade que acontece quase sempre, tornou realidade. A roda da frente bateu na altura do desnível entre a estrada e o acostamento e a roda de trás ficou em cima, eu caí de frente batendo o joelho da perna direita no asfalto e a batata da perna ou a panturrilha batendo no pedal, tudo da bicicleta esparramou-se pelo chão. Naquele instante, antes de verificar os rescaldos, pensei: é o fim da minha expedição Praia do Cassino. Entretanto, como deve ser feito em caso de acidentes com vítimas,  “procedimento operacional padrão – POP, do role insano 60”, para ver a gravidade do impacto (casos em que a gente mesmo é a vítima), deve-se ir movimentando vagarosamente os membros que sofreu a colisão. O joelho, apesar de estar na carne viva, senti que não havia nada interno. A dor na batata da perna era tremenda. Empurrei a bicicleta até um pequeno silo que estava como ponto de ônibus, sentei e percebi dar para continuar a expedição. Como sempre passa pela cabeça de um acidentado, o que vai ser de mim agora. A minha conclusão foi que eu iria fazer a praia do Cassino de qualquer maneira, é lógico, salvo hipótese que eu não pudesse, entretanto, em minha mente eu julgava que se não desse para fazer os sessenta quilômetros por dia e eu fizesse dez, ou cinco, ou um quilômetro, contudo haveria de concluir. Desistir jamais foi uma opção plausível, exceto a fatalidade, até como justificativa para mim mesmo. Então bravamente montei na bicicleta e vi que ela estava perfeita, apenas dolorido e segui meu trecho. Para não haver necessidades de voltar no assunto no futuro desse diário, já falo o que aconteceu: no outro dia eu estava pleno, sem dores, apenas sentindo o impacto do joelho nas escoriações visíveis e novamente estou no páreo. O jogo é bruto e eu sou feito de tungstênio, todavia não posso abusar porque pela minha idade são muito perigosas essas quedas, como é mês de março tenho sessenta e um anos e vou fazer sessenta e dois em julho no dia cinco. Aceito presentes

 

A região que estou pedalando, basicamente é um banhado, ou uma planície, ou algo que eu não sei explicitar, porém, repleto de natureza. Quando eu vinha despreocupadamente, avistei algo que a primeiro momento pensei que fosse um capacete velho; capacete com as cores desgastadas, meio amarronzado e a curiosidade que faz parte do meu ser, na minha viagem, tudo que vejo e não sei o que é, eu paro para verificar, tive um grato prazer de ver uma tartaruga, toda plena na beira da estrada. Acredito que ela imaginava que eu fosse um predador e a minhas intenções não fossem assim tão republicana, é uma pena, porque eu só queria observar e ela toda tímida dentro do casco, se eu fosse essa tartaruga, também faria o mesmo. Fiquei ali umas meias hora e depois deixei, pensei que ela não se mexia, não queria mais importuna-la, troquei a bicicleta levemente para frente, quando olhei para trás, a tartaruga que dizem ser lenta, virou um saci e sumiu. Virar um saci é um sentido figurado de quem foge repentinamente, pelo menos na minha região quando eu era pequeno as pessoas falam desta maneira.

 

Ritmo da minha viagem, pelo menos por enquanto, pois futuramente haverá algumas mudanças, é ir de posto de gasolina em posto de gasolina. Novamente depois de uns sessenta ou setenta quilômetros desde o posto Rota dos Ventos na cidade de Palmares do Sul, estou em outro, Auto Posto Braga e da mesma forma que o anterior, não era 24 horas, o Braga também não, entretanto o gerente não viu empecilho nenhum e ainda me indicou uma pequena casa com uma área externa onde eu poderia pernoitar com a minha barraca. Quando paro em algum posto, sei que já falei, porém, falo de novo, sou eternamente repetitivo, observo se o local que vou dormir se é coberto, nem monto a barraca. Apenas estico o isolante térmico. Encho o meu travesseiro inflável e utilizo do meu saco de dormir, como coberta e à noite é uma criança e assim eu fiz. Porém, alguns pernilongos estavam me detonando. Fatos que às vezes acontece, quando estou instalado em algum posto, é chegar outros ciclos viajantes e quando ali eu estava deitado, chegou um casal que disseram o seguinte: vamos montar barraca porque tem muito pernilongo. Eu imaginei que usando uma telinha do tipo véu de igreja da congregação cristã no rosto impedisse que os pernilongos picassem-me, porém eles eram especializados em picar as pessoas por sobre a roupa, por sobre a telinha, ou qualquer outra coisa que você colocasse. O ferrão, ou não sei o que era aquilo que  usam para perfurar e sugar o sangue, era tão comprido, mesmo com o véu no rosto, estavam me picando, então montei a barraca e eles ficaram todos do lado de fora e a noite foi uma criança.

 

 

Desde Osório, Rio grande do Sul, até o último pernoite, Auto Posto Braga na cidade de Solidão, dá cento e onze quilômetros, estou em uma reta indeterminada, pois foi informado sobre isso pelos caminhoneiros, não estou reclamando, eu não reclamo de nada, nem do meu joelho ralado, nem da chuva gelada, nem do Sol ardido, e sim só falando. Normalmente ao pernoitar em um posto, pela manhã, eu costumo não fazer o meu café, porque posto é uma questão complicada, combustível inflamável, e outros; então eu pego estrada de manhã cedinho e por volta das nove horas, paro para o meu “desejun”. De novo, o que não é novidade, a manhã já estava ensolarada, parei em um pequeno ponto de ônibus de madeira, não aqueles em forma de silo, porém, sim, de outro formato e preparei, como um ritual que faço questão de ter direito, o meu café. Meu café, eu quero dizer, não é um cafezinho simples, o café, o chocolate quente, que em sua composição tem achocolatado, é lógico, leite em pó e acrescentando aveia.

 

 

Vamos resmungar um pouco, também sou filho de Deus, também quero reclamar, as coisas acontecem de formas estranhas comigo e pela manhã um sol de rachar mamona no momento que preparava o café, tomei sem pressa e despreocupadamente, então o clima deu uma virada, um “revertério”, um reboliço, porque ao sair daquele ponto de ônibus, a chuva. Quando pretendo sair de algum lugar e está chovendo, costumo pensar o seguinte: eu vou assim mesmo; então as pessoas, não nesse caso que estava sozinho, entretanto elas dizem o seguinte: aguarda, deixa o tempo melhorar e  eu respondo que se por um acaso eu sair com o tempo bom e no meio da estrada a chuva me pegar, que isso acontece quase sempre, o que eu faço? Tomo a chuva. Minhas resalvas é que pode estar chovendo, pode estar sol, ou qualquer outra situação climática que saio mesmo assim. Se estiver chovendo, eu saio na chuva; se estiver sol, eu saio no sol; se estiver ventando, eu saio no vento.  Minhas pautas, são feitas por mim mesmo e não é a situação climática que vai ditar, as normas que devo tomar, exceto em caso de extremo temporal, entretanto Só se tiver granizo.

 

 

O pedal estava bom, mas os ventos contra estava terrível, já pedalei com esses ventos, no entanto, o de agora é fora do comum. Quando eu saio do posto, tinha ciência que iria ir até o camping Poente na cidade de Mostardas e até essa certeza eu já estava colocando em cheque, porque com esses ventos, torna inviável eu tentar chegar até o camping e pela primeira vez pensei que eu iria ter um “piripaque”, ou ia ter um troço, um ataque cardíaco. Não deu o ataque do miocárdio. Não morri. Estou escrevendo. Na vida, uma das coisas que sempre gosto de fazer é persistir, principalmente quando o inesperado dificulta o meu dia; pois, como diz o ditado: de forma atabalhoada fui seguindo o meu caminho, pedalando, parando; assim tal a letra de uma velha música: caminhando e cantando e seguindo a canção; enfim, cheguei no camping Poente na cidade de Mostardas, Rio Grande do Sul. Na verdade, só agora eu posso dizer, até que cheguei cedo, porém o desespero devido aos ventos contra, induzia-me a imaginar que chegaria à tarde.

 

O camping Poente na cidade de Mostardas, foi um grato privilégio de ali eu me hospedar, a começar pelo proprietário que parecia mais um colega de acampamento e ele gremista doente, eu lá de São Paulo, corintiano nato. No camping, eu experimentei o melhor camarão do Rio Grande do Sul, melhor porque o proprietário disse ser melhor, não concordei muito, entretanto como eu não paguei, então disse que era uma delícia,  o camarão era mesmo uma delícia, também nem tanto para dizer que era o melhor.

 

 

 

Devo apresentar aqui nestes meus relatos, ainda não sei se é livro ou continua sendo apenas um diário, outro ciclo viajante, o Hélio, estava hospedado no camping já há uns quatro dias porque permanecia convalescendo de uma contusão na perna. Todavia, eu já adiantando o expediente aqui na leitura, ele irá seguir comigo até a cidade de Rio Grande no começo do Cassino. Ele faz suas viagens de bicicleta no estilo bikepacking (O bikepacking é a modalidade de viagens feitas com mochilas e bolsas presas na estrutura da bicicleta) e desenvolve um trabalho pela internet, qualquer lugar que ele tiver existindo o “wi-fi”, estará produzindo.

 

 

No camping Poente, tomamos uma cervejinha para descontrair e pela manhã, bem cedo,  no outro dia, eu saí antes do Hélio, sabia que ele me alcançaria. Às vezes é bom trocar experiências no ciclo turismo. Saindo do camping na cidade de Mostardas, a próxima à parada seria outro camping, que já de antecipadamente digo que não encontramos e o pedal só não iria ser mais puxado do que o de depois de amanhã, esse era o motivo de eu sair cedo. Essa estrada é um “retão” interminável, como venho falando já há uns quinhentos quilômetros atrás e quando você sai, já no asfalto, a impressão é que você vai para o limbo; não tem nada, nem postos de gasolina, nem comércios, nem cidades. O gerenciamento especializado é de suma importância, a logística desse dia tem que ser minuciosa, se não você acaba perecendo. O pré-requisito para estas incursões é apenas um, a água; ou você leva uma quantidade  suficiente quando entra nesse módulo, limbo, ou você  sucumbe, entenda por quais motivos de eu sair mais cedo, bem antes do Hélio, minha bicicleta carrega muitas bugigangas e a dele é bem simplificada bikepacking.  Eu  já tinha conhecimento que a uns vinte quilômetros, mais ou menos, existia uma pequena cidade com o nome de Tavares. Os ventos ainda estavam levemente contra, no entanto, direção noroeste o que significa que ele vinha lateralmente, estava perfeito para secar a camisa de suor.

 

 

Desde que saí, no início da expedição na minha cidade, eu levo comigo um cooler de cinco litros e ainda não tinha utilizado, então entrei na cidade de Tavares, parei em uma oficina, no início da cidade e pedi para encher o cooler, tudo pode acontecer no limbo do vazio, até eu ter que acampar na natureza, porém não pode faltar água para cozinhar, beber, fazer café e sobrando um pouco mais para o devido banho. Quando eu estava na entrada da cidade enchendo o cooler de água, eis que chegou o Hélio, algo que ele tem sempre e nunca falta, é a tal da fome, de imediato, antes de dar bom dia, veio indagando onde teria uma padaria ou algum outro lugar que ele pudesse tomar o café. Cidade pequena tudo é fácil, mais uma vez ele seguiu até o local do desjejum e eu voltei para estrada, mas não demorou muito para alcançar-me. O cara quando é gente boa, ao me alcançar disse o seguinte: parei na padaria, comi dois cachorros quentes e trouxe um para você,  é quase igual um almoço. O que eu digo é o seguinte: pensa num cachorro-quente que você nunca comeu na vida, tem de tudo ali dentro, esse ainda era melhor, depois deste instante seguimos juntos e fomos ate o início do Cassino.

 

O Hélio é um especialista em plantas, frutas silvestres PANC, apresentou-me o “araçá-rosa e butiá”, fomos chamados para fazer uma série na Discovery Channel, cardápio selvagem.

 

 Hélio é um morador de Santa Catarina, próximo de Urubici e conhecedor das plantas nativas,  até brinquei que a gente ia ser contratado pelo “Discovery” para fazer um programa do estilo “Menu Selvagem”. Quando estávamos na estrada ele disse: encontrei o café da manhã e mostrou-me uma frutinha no pé, araçá, nas modalidades amarelas, vermelhas, e outras. A planta é um pequeno arbusto, pode até pesquisar no “Google” para ver, entretanto, pensa numa frutinha deliciosa e saber que o trecho que fiz antes do camping Poente, onde encontrei o Hélio, eu vi vários arbustos dessas plantas, o aprendizado é ótimo e o Hélio é um perito,  principalmente dessas “PANC” regionais -, PANC: conheça as plantas alimentícias não convencionais. A única coisa que sinto é que desconhecia o Araçá, mas a vida que segue.

 

 

 

Depois de quase noventa quilômetros de pedal, chegamos a Bojuru, Bujuru (às vezes grafado como Bojuru) , uma cidade pequena quase próximo à cidade de Rio Grande, calculo que em cem quilômetros e é o que faremos amanhã, porque hoje encontramos em um centro cultural abandonado uma mini floresta, um cantinho selvagem para a gente montar a barraca, fazer a nossa comida e pernoitar.  Hélio, garoto esperto, conseguiu até o wi-fi de uma casa nas proximidades do nosso camping, é certo o quê tínhamos que ir até o meio do mato para conseguir conectar, entretanto, foi interessante. Algumas fotos postadas no “Instagram”, outras novidades do “Facebook” e dar um alô para família no “WhatsApp”.

 

 

 

A noite foi chuvosa, mas a barraca aguentou o tranco e é assim que deve ser. No amanhecer, juntamos os pertences, cada de nós fizemos nossos devidos cafés, devido preferências diferentes e caímos na estrada. Ainda continua reta e será por mais cento e um quilômetros, daqui do camping selvagem na cidade de Bojuru RS,  até atravessar a balsa de São José para a cidade de Rio Grande. Entendo que se ficar aqui relatando o que nos aconteceu, nos por menores, será apenas repetição de ontem. O tempo todo colhendo Araçá, até enjoar, a outra fruta que esqueci o nome, lembrei: butiá. Caso alguém perguntar se acabaram as goiabas, vou dizer que não, é que ficou muito trivial falar dessa fruta. Que sorte, as três frutas maduras nessa época, tomara que quando, se de novo eu vier fazer essa expedição ou uma jornada como estou preparando até o Ushuaia, encontro essas farturas na estrada: a goiaba, o araçá e a outra que esqueci o nome, lembrei: butiá.

 

 

 

Já chegando ao final dessa parceria, porque ao chegar na cidade de Rio Grande o Hélio seguirá outros caminhos. Atravessamos a balsa da cidade de São José a Rio Grande e chegamos ao Chuí. Para pernoitar, fomos até um camping e devido aos caminhos diferentes a serem seguidos a partir de amanhã para ambos, nós compramos algumas cervejinhas e algo para cozinhar e festejar está nossa parceria e o final dela, amanha será outro dia e “alone”, sozinho não, sim, com Deus, cada um fazendo o seu destino eu entrando no limbo do abismo horizontal de duzentos e quarenta quilômetros de praia,  e o Hélio tomando rumo aos seus compromissos.

 

 

 

Praia do Cassino, primeiro dia.

 

Antes de pisar nas areias do Cassino, necessita-se de uma logística muito bem apurada, levando-se em consideração que são aproximadamente duzentos e quarenta quilômetros de um abismo horizontal. O único ponto de apoio que temos é a Marinha do Brasil no farol de Albardão, bem no meio. Será? “risos”. Particularmente nessa minha história, eu cometi um erro sobre a localização da Marinha e quase pereci. Entretanto, vou deixar mais para frente para que eu possa falar sobre. Praia do Cassino não é lugar para se cometer erros, porque a resposta pode ser fatal. Além desses, cometi outro erro que poderia ser fatal, mas deixa para depois.

 

Calculando que a Marinha do Brasil, farol de Albardão, está situada bem no meio do itinerário da Praia do Cassino, Santa ingenuidade minha, enchi um galão cooler de cinco litros e mais uma garrafa de dois litros e meio, totalizando sete litros e meio, pois  calculava ser uma quantia razoável. Sai do camping bem cedinho e direcionei-me ao início da praia, não vou explicitar, entretanto, foi um trabalho imenso para adentrar as areias fofas. Nesse exato momento, quero deixar registrado a minha sensação ao estar pisando pela primeira vez em solo sagrado do Cassino e no marco zero da minha expedição. “Solo sagrado”, forcei um pouquinho a barra, porem dígamos que nesse momento sou eu e esse abismo, tanto posso chegar até o final, como posso permanecer nele pela eternidade. Quando a gente está preste a fazer algo desconhecido, inusitado, fora do comum para minha espécie, ou simplesmente diferente; as minhas sensações, devo admitir que estou sentindo as agora, minhas sensações são de um frio na barriga, a expectativa, uma mistura de medo, euforia, seja lá o que Deus quiser e vamos lá! Quando isso acontece, vou passar o remédio que estou tomando agora: eu paro por uns cinco minutos, me desligo de tudo; desvio meu pensamento de tudo o que possa vir de forma involuntária; concentro-me no universo; faço a respiração contando quatro na inspiração,  quatro eu seguro nos pulmões,  quatro eu libero; elevo meus pensamentos aos deuses criadores, ou criador desse universo, seja ele qual for, seja ele independente de qualquer coisa; em meditação, entrego-me aos seus desígnios,  se for para eu fazer farei,  se for para eu voltar, voltarei, se for para eu ficar ficarei, e ainda solicito as suas proteções. Tudo isso que falei é apenas para dizer que permaneço cinco minutos em silêncio, deixando a euforia baixar e sigo viagem meio que sem pensar.

 

Nos primeiros cinco quilômetros  da Praia do Cassino, a gente consegue pedalar na pista batida por onde passam os carros. Acredito que deva ser um fluxo mais elevado de veículo, por que estou afirmando isso?  Porque adiante fica intransitável. Vou tentar explicar. De um lado o oceano, nas suas margens onde as ondas arrebentam e começa a areia, não podia ser diferente, pois é uma praia, entretanto quero especificar detalhadamente o que a gente observa por aqui. Da arrebentação das ondas onde começa a areia e seguindo em direção ao continente em linha reta, serão aproximadamente uns mil metros para começar algumas pequenas dunas, onde nascem  gramas e arbustos ressecados e espinhosos. Os raros veículos que transitam por ali, não circulam na arrebentação e sim há uns cinquenta a cem metros da água onde deixam as marcas na areia.  Deixa-me dar a triste informação aos viajantes de bike, por onde passa esses veículos e quanto mais marcas tiverem no chão, mais fica impróprio para bicicleta, que é de atração animal. Mesmo que tentasse fazer um pedal por onde passa os veículos, fica intransitável, porque as rodas entram nas areias e acaba derrubando o ciclista, pelo que consegui diagnosticar aqui, se alguém tiver uma explicação diferente, fique à vontade.

 

Deixa-me dar uma informação, não muito agradável,  segundo o pessoal da Marinha e os pescadores que abordei, muitos veículos acabam encalhando e em resumo eu digo que depois do quinto quilômetro, mais ou menos, o ciclista só vai ter condições de trafegar a praia do Cassino na arrebentação das ondas quando a maré está baixa, pelo menos isso aconteceu comigo. Tudo isso que falo, são sensações que sinto agora, no início do Cassino.

Aqui é um bom lugar para a gente ter e sentir a sensação de infinito, já estou pedalando a uns quinze quilômetros e até agora ainda nenhum carro,  moto,  alma viva. A ilusão de infinito é quando você para, olha para um lado e  outro, e sente a visão do abismo horizontal. Notando esse abismo horizontal, a gente não tem medo,  nem angústia, nem muito menos outras sensações análogas. Uma ilustrar figurativa e de forma bem rudimentar, não sei se possa encaixar, entretanto, é  a sensação de uma estrela, a bilhões e trilhões de ano-luz de qualquer outro corpo, qualquer outro astro, ou qualquer outra, qualquer coisa.  Ensejo buscar mil palavras apenas para dizer que a gente não sente nada, exceto a imensa paz. Exceto a sensação de eternidade. A não ser a unificação do eu com o todo. Viajei nas palavras e não consegui responder, mais adiante tentarei decifrar o que é a sensação do infinito que a gente se encontra quando está aqui na Praia do Cassino.

 

Estou passando nesse exato momento em frente ao “Navio Altair, pego por uma forte tempestade, que o fez naufragar ao sul do litoral gaúcho, no inverno de 1976, o Navio Altair permanece encalhado a cerca de 12 quilômetros à direita da avenida Rio Grande, a principal do balneário, constituindo hoje em mais uma das atrações turísticas da Praia do Cassino.” As minhas reflexões com relação a tudo que pertence à natureza, mais cedo ou mais tarde a incorporação será feita. Vamos tentar visualizar um pensamento, quando esse navio naufragou há alguns anos, acredito que daria até para acampar em seu interior. O mesmo tempo que transforma um bebezinho em um velho, é o mesmo  que vai degradar tudo até as galáxias e o navio, até se tornarem o tudo em nada. Pela  forma que ele se encontra agora, o navio Altair um dia, formoso, nesse instante retorna ao berço mãe da grande Gaia, a terra, assim como nós, um dia, nos transformaremos em sol, talvez alguns bilhões de anos.

 

 

Acabei de passar por um arroio, estes são esses pequenos rios que cortam do continente para o oceano e no trajeto todo da Praia do Cassino, são muitos. É um ótimo lugar para se repor o reservatório de água, caso aconteça algum incidente e creio que seja potável, principalmente no tocante a produtos químicos, porque de onde elas vêm, no continente, é uma reserva segundo o (Wikipédia) “A Estação Ecológica do Taim é uma unidade de conservação de proteção integral da natureza localizada no sul do estado do Rio Grande do Sul, com aproximadamente 30% de seu território estando no município de Rio Grande e 70% no de Santa Vitória do Palmar.”. O que pode haver nessas águas são algumas bactérias patogênicas, “Escherichia coli” e outras que não saberei citar aqui, mas que existem, elas existem, nada como ter um purificador, ou aqueles comprimidos de cloro que conhecemos por “Clorin” ou simplesmente água sanitária, mais conhecido como “Candida”

 

 

Como eu estou no meu primeiro dia ainda, no início desses relatos, relatei aqui que trouxe comigo sete litros e meio de água, sendo um “cooler” de cinco litros e uma garrafa pet de dois litros e meio, então não vejo necessidades, porque passando estes arroios ou digamos pequenos riachos, posso me socorrer, eles são de água doce.

 

Estou ao lado de um hotel abandonado em ruínas “Hotel El Aduar”. Poderia acampar aqui, entretanto no meu caso, que estou de bicicleta, fica inviável, é muito cedo, todavia acredito que quem esteja fazendo a praia do Cassino a pé, é um bom local de acampamento com pernoite, porque ainda restam alguns resquícios de paredes, só não sei até quando, semelhantemente ao navio Altair naufragado.

 

 

 

Desde o dia dois de fevereiro que iniciei a expedição, hoje oito de março, no meu primeiro dia na Praia do Cassino, eu decidi que essa minha travessia seria uma travessia “zen”. Como assim, tranquila? Sim. Sem pressa, sem estresse. Traduzindo em compreensão lógica significa que se for para gastar três dias, vou ficar cinco, se cinco, gasto dez. Não é sempre que estamos imersos em uma praia deste naipe, a Praia do Cassino. Uma travessia sem estresse, sem pressa e aproveitando de tudo que o conjunto da ópera lhe oferece.

 

 

 

Agora deve ser umas 13h00min e estou às margens de um arroio, ou um pequeno riacho que corre do continente para o mar, fui informado que se você margear as laterais do riacho a dento encontrará grandes piscinas. Vou encravar minha bandeira neste esplendido local, daqui não saio e ninguém me tira. Primeiramente, segundamente, terceira e quarta mente, é o meu merecido relaxamento nas águas morna e doce, tirando os resquícios dos sais da minha testa. Quero ter a sensação de nosso senhor Jesus Cristo no rio Jordão. Desejo parar no tempo até o momento de montar a barraca que acredito que vá demorar. Ambiciono fazer um desligamento temporário em mim e me dar esse presente do banho até o momento de fazer minha comida, porque comer agora é segundo plano. Anseio parar os ponteiros do relógio e desfrutar dessa imensa banheira quente. Aspiro parar no tempo, congelar o espaço-tempo apesar do calor que acontece agora e contemplar a realidade, o tempo que não existe quando estamos em pleno mês de março na Praia do Cassino e refrescando-se na imensa piscina dos arroios que vem do continente para o mar. Sei que após parar todo esse tempo e fazer minha comida, e montar minha barraca, eu tenho todo o tempo para o jantar, para as imagens do mar, e do lado inverso ao leste do oceano, o pôr do sol. Só uma reflexão: como sou pobre! Acredito que possa alguém pensar assim! Eu e o mar; eu e a praia; e pôr do sol, e a brisa que vem do mar, amena; e a piscina de águas mornas; e à noite plena para dormir.

 

 

 

O sol se pôs. Escureceu. A brisa continua. Eu sentado olhando o início do nascer da lua cheia. Outro tipo de claridade começa a surgir, do qual nunca havia notado; uma claridade prateada da lua. Minha primeira abertura de boca, bochecho, porque meu relógio biológico já cobra o sagrado sono. No interior da barraca, deitei, fechei os olhos e como um passe de mágica já estava no outro dia. Bom dia!

 

 

Estou vivo. Amanheceu e ainda está escuro. Agora em que relato, eu estou deitado no interior da barraca; não está calor nem frio; apenas o som do mar.  Manhã do primeiro para o segundo dia em acampamento no Cassino. Não clareou, apenas começou em um tom alaranjado a leste, sinalizando a vinda do astro-rei. Estou sentado no isolante térmico e uma particularidade da minha barraca, nela tem como se fosse uma janelinha de tela em sua frente e antes de eu descer o zíper, fico observando uma leve claridade que vem da direção do mar. Dispensa eu dizer sobre o eterno som das ondas quebrando na areia, apesar de onde estar a minha barraca, dá uma distância de mais ou menos uns duzentos metros. Minha  pretensão aqui, é de escrever a sensação segundo por segundo, então dando sequência na cronologia da minha manhã, eu abaixo o zíper da barraca. Agora a brisa que vem do mar, invade todo o espaço existente no interior da barraca e me embriaga, fico inebriante com um aroma característico que podemos identificar só quando estamos na beira do oceano. É uma fragrância de peixe fresco, misturado com camarões, lagostas e outros frutos-do-mar, entretanto o aroma suave.  Ainda está escuro, saio da barraca tomando as precauções de colocar, primeiramente na areia, o pé direito, apesar de eu não ter muito essas crendices. Estou sozinho, eu e o universo; o oceano não se importa se vou seguir viagem, ou vou ficar com ele eternamente nessa praia.  Quando eu saio da barraca e tomo aquela posição de braços abertos, sinto a brisa que passa pelo meu corpo, se eu fechasse os olhos agora, era como se um imenso véu estivesse deslizando por sobre mim.

 

Antes do sol nascer já providenciei o meu café, pois a facilidade de fazê-lo é muito grande, cafeteira italiana é muito prática.  Resolvi deixar pronto o café antes de o sol surgir no horizonte, porque a minha ideia era ir até próxima arrebentação das ondas, sentar e apreciar o momento e de bônus um cafezinho fresco e assim eu fiz. Deveria classificar aqui por notas, contudo os três bônus que tenho são: em primeiro lugar, relato o meu momento e sentado um pouquinho depois da arrebentação do mar, aguardando o nascer do sol, ficarei estático até quando o astro-rei, o sol estiver me observando; segundo lugar, o pôr do sol semelhante ao nascer, é maravilhoso, ambos são nota dez, queria eu dar uma nota maior, entretanto não existe, ansiava eu em poder dizer qual é mais espetacular, todavia também não consigo, esperava eu falar alguma coisa e encontrar alguma diferença entre o pôr e o nascer do sol, também não tenho palavras; o terceiro bônus aqui, é que por sorte ou por azar, apesar das dificuldades da lua cheia devido à alta das marés, o terceiro bônus é apreciar a noite com a lua no céu, parecendo uma bola de basquete iluminada e prateada.  Nesse  último, existe algo diferente, uma experiência inédita, sempre quando sinto algo inédito, quero dizer que é para mim, até sei que muitas pessoas já viveram esta sensação; a experiência do qual o relato é da adaptação dos olhos para a claridade da lua noturna. As configurações das suas córneas mudam, elas reduzem o foco, ajustam-se automaticamente e possibilita uma nova imagem à luz prateada. Retrato o meu amanhecer, anoitecer, a lua, o acampamento, as brisas e muitas outras, se por um acaso quiserem ver essas imagens elas estão no “Instagram”, “YouTube” “tik Tok“.

 

No trajeto que faço agora no Cassino e talvez bem antes,  percebi a necessidade do minimalismo. Há uns cinco minutos, fazendo o meu pedal nas rebentações das ondas, acabei deixando a bicicleta cair, falando o português correto, o mar me derrubou, e danificando os alforjes de balde de margarina, então tive a necessidade de retirá-los, ele havia sido avariado. Eu sei que toda a extensão da Praia do Cassino é inimaginável, entretanto os lixos produzidos, devemos conduzir até um ponto de apoio e assim eu fiz, deixando os com uma caminhonete que tinha pequena carretinha, eles levaram os restolhos da minha bicicleta para a cidade.

 

 

 

Talvez não seja necessário colocar isso, um pano em volta da cabeça,  pensa, quando o sol vai subindo a pino, estando no alto da cabeça da gente, o forno de estufa liga-se, não devo reclamar, porque ainda sobra a brisa. Para tentar diminuir a sensação de calor, utilizando a técnica dos árabes, eu enrolo uma camisa que deixo especificamente para isso, turbante em minha cabeça. Entretanto, na hora que a gente molha essa camisa em um arroio, aí episódios maravilhosos acontecem. Eu tinha até vontade de molhar a camisa nas águas do mar, entretanto como não sei qual seria a sensação de ter um pano com água salgada na cabeça, nem experimentei. Mas os arroios que vem do continente em direção ao mar com suas águas doces límpidas, essa oportunidade eu não perco. No momento que você molha a camisa e põe na cabeça, é indescritível, existe uma sensação psicossomática que parece que dá mais força no pedalar.

 

Caso alguém for estar em “módulo” sobrevivência neste lugar, tenho a plena consciência que a pessoa não terá dificuldades, começando pelos riachos de água doce. Por toda a extensão do oceano, em que venho pedalando, eu observo pequenos crustáceos, siris ou caranguejinhos  que se enterram na areia e são muitos. Outra observação que tive no deslocar por toda a extensão do Cassino, é que em alguns pontos pessoas vem pescar de forma manual e além desses, existem os pescadores profissionais, quando a gente passa pedalando nas areias, vê aquela corda esticada que vai até a rede e está mar adentro, não sei a distância, entretanto não é muito. E por que é que eu falo isso? Nota-se que esse pessoal, tanto os profissionais como também aqueles de fim de semana, fazem suas pescas, creio que uma boa linhada o sobrevivente possa pegar algo. Tem pequenos caranguejos, pode cronometrar, em questão de dez minutos é suficiente para encher uma caneca média desses pequenos caranguejinhos, ou sirizinhos, se assim poço denominá-los. O que sei é: ninguém irá ser um nômade nesse lugar, devido à imensa solidão, a gigantesca, a ausência de qualquer coisa, a não ser o oceano, a praia, a areia e o sol.

 

 

Estou passando neste exato momento em frente ao primeiro farol, “Sarita”, não é o Albardão, onde está a Marinha, o farol, Sarita encontra se desativado. Entretanto, nem digo que fiz uma confusão, vou dizer sim: das minhas logísticas de águas e pontos de apoio, calculei que a Marinha estivesse bem no meio da rota, ou itinerário, sendo a praia do Cassino duzentos e trinta, então estaria a Marinha a cento e quinze quilômetros, mas, para infelicidade, ou até possível fatalidade minha, estava um pouco mais adiante, vocês vão perceber que por esse erro infantil quase que arrumo complicação, porque a Marinha está a cento e cinquenta quilômetros da cidade de Rio Grande e oitenta da Barra do Chuí, pequeno  detalhe vai fazer a diferença mais adiante. O primeiro farol, este que estou passando ao lado, é o “farol, Sarita”, a distância dele até Rio Grande é de cinquenta e oito quilômetros, por aí percebe se que algo está errado, até a Marinha, deste ponto que estou, ainda tem mais de noventa quilômetros. Essa  informação que passo aqui e agora em que estou relatando, não é a informação que eu tenho conhecimento agora. Na minha santa ingenuidade, quando vi esse farol, Sarita, pensei que já fosse a Marinha. Todo cuidado é pouco ao fazer a travessia do Cassino, um pequeno erro pode ser fatal. Não devo ser tão dramático no meu escrever, porque fatalidade seria se não houvesse esses arroios de quilômetros a quilômetros. Não tão perto assim como eu disse, entretanto, a cada dez a quinze quilômetros a gente percebe pequenos rios fluindo do continente para o oceano, uns com maior quantidade de água, outros com menor, porém é o suficiente para socorrer um peregrino ou um aventureiro desavisado.

 

Uma coisa interessante, eu sei que já falei sobre, é a sensação abismo para o horizonte; como assim abismo horizontal? Você  olha para um lado e não tem profundidade, semelhantemente ao outro lado. A sensação de eternidade do oceano, já que ele está ali o tempo todo com as suas eternas águas arrebentando na areia e produzindo um som de trovoada, mesmo o céu estando azul, o sol queimando a cabeça da gente.

 

 

 

Sem  conseguir chegar à Marinha e não entendendo o erro que cometi, porque por toda a extensão da Praia do Cassino a forma de GPS é muito rudimentar e internet zero, em minha mente  imaginando se não tinha pedalado o suficiente, porém percebendo que já estava tarde, então procurei um local para acampar. Talvez por eu pensar que o hoje estivesse na Marinha do Brasil, eu gastei muita água e ao fazer a comida percebi ter só o fundinho do cooler. Na Praia do Cassino, de todo o azar que você tem, de todas as falhas que você comete, dos deslizes de não fazer umas logísticas perfeita, eu digo que apesar de tudo sou presenteado por um grande bônus, tenho como brinde, o acampamento de hoje, ao lado de uma represa de água doce, é um fio de água pequeno que armazenou em forma de piscina e desce uma pequena quantidade para o mar. Ajuíza bem meus caros leitores, É nesse lugar que vou montar acampamento. Nada, por coisa nenhuma, pode ser melhor, acredito eu; pois a combinação certa é a piscina de água doce para o banho demorado, totalmente sem roupa, peladão de corpo e alma, o local de areia fofa para montar a barraca, aguardar um pouco do entardecer para cozinhar a janta.  Sentado dentro das águas mornas dessa piscina, eu fico imaginando se qualquer outro lugar, daqueles bem chiques, que a gente ouve falar por aí tipo Cancun, México, Ka’anapali Beach – Maui, Havaí, EUA,  Maldivas, possa ser melhor do que esse momento. Tem se a sensação de proprietário do universo, o herdeiro de tudo isso, porque somos filhos do Criador. Ao citar a palavra “Criador”, não quero anexá-la ao pensamento judaico cristão, nem também a forma de ver a espiritualidade do budista ou hinduísta, ou como descreve os muçulmanos, ou quaisquer outras formas de divindade. Remete nos a um  paradoxo isso que eu quero dizer, não é nenhuma forma dessas divindades acima e é todas as formas dessas divindades acima. Eu sou o filho dele, dEle com e maiúsculo, pois sou o proprietário de tudo isso, quem poderá dizer contra nesse meio de mundo, longe de tudo. Antes de entardecer totalmente, resolvo fazer a minha comida e deixá-la pronta para noite, um jantar as margens do oceano, com as minhas costas acontecendo o pôr do sol, ou o inverso: o pôr do sol, com as minhas costas o oceano. Tudo que eu poderia complementar sobre o anoitecer do segundo dia, eu vou me furtar em dizer por que estaria expondo uma história repetida de ontem. Ontem não chovia e estava uma noite perfeita, hoje também; hoje o sol se pôs a oeste e o mar arrebenta-se a leste nas praias, ontem idem; o mesmo, nos detalhes e até a Lua do mesmo formato.

 

Amanheceu o terceiro dia,  tenho uma dúvida se eu escrevo minuciosamente, com requintes de detalhes, entretanto serei repetitivo; o que eu posso relatar de diferente hoje que eu não vi ontem nos  relatos descrevi. Todavia em poucas palavras. Ainda está escuro e saio da barraca. Caminho até o mar mesmo antes de clarear o dia. Sinto todos aqueles aromas do qual descrevi anteriormente, no dia de ontem e fico dando um tempo até o sol surgir no horizonte, observando a lua e a sua magnitude. Areia está gelada agora, na manha que não clareou ainda, com as águas do mar passando por sobre meus pés. Faço o café e aprecio a natureza. Quando a gente está na praia do Cassino no esquema de aventura em vários dias, com intervalos de acampamentos, o que acontece é perder a noção de tempo e de espaço. Hoje pela manhã eu já estava confuso, apesar de ser apenas o terceiro dia; a impressão que temos, é que estamos nesta praia a uma eternidade, não o que a gente queira ir embora, apenas perde a noção. Ontem à noite, já percebendo a escassez das águas e só para lembrar, lá da cidade de Rio Grande eu saí com sete litros e meio; e, ontem à noite, seria meu segundo acampamento resumindo, sete litros de água não foram o suficiente para dois dias. A água não tinha acabado, entretanto, acredito que deveria ter perto de uns meios litros. Entendo que hoje, a distancia de uns dez quilômetros, tem a Marinha, onde posso me socorrer e repor meus mananciais de água que acabou, porém, para não ter surpresa, eu vou encher minha garrafa PET de dois litros e meio de água da represa, a que tomei banho. Tenho certeza que não há contaminação química, entretanto alguns patogênicos possam existir e para cada litro de água, eu coloquei a quantidade de três gotas de água sanitária, hipoclorito de sódio, tudo isso ontem à noite, agitei bem a garrafa e guardei para que eu não fosse surpreendido no dia posterior. Ainda, ontem à noite, ao fazer o meu jantar, assim como hoje de manhã o café, eu utilizei a água do riacho e  guardei o resto da potável para beber. Já sabendo que caso aconteça alguma anormalidade, eu tenho dois litros de água purificada com cloro, não é meu intuito tomar essa água, porém se acabar o meu restinho de água potável, farei o uso dela com toda certeza. Por isso agora, nesses relatos, venho com dicas ao fazer esses tipos de aventuras, não só o Cassino, como qualquer outra; tenha em mãos com purificador de água, pode ser do tipo filtro que vendem em lojas especializadas, também pastilhas de cloro, não havendo possibilidade dessas pastilhas, devido à dificuldade em comprá-la, uma boa e velha água sanitária, nós nunca sabemos quando estaremos numa situação real de falta de água.

 

Hoje não será tão difícil, porque apesar do engano de ontem, que imaginava chegar a Marinha, ele agora está apenas a dez quilometro de onde acampei essa noite. Retrocedo  aqui mais uma vez com uma grande redundância, sendo repetitivo, a Marinha não está na metade da Praia do Cassino e sim a cento e cinquenta quilômetros de Rio Grande, passando a Marinha até a Barra do Chuí, mais oitenta. Duas são as opções, ou você estica e faz os cento e cinquenta quilômetros, dividido em dois dias, ambos de setenta e cinco, ou já ciente disso, se prepara para dois acampamentos, totalizando em três dias até a Marinha, assim como aconteceu comigo, que, na verdade, esse último, eu espero ser o melhor.

 

 

Certas coisas eu não consigo entender, por exemplo, a pessoa vem fazer a praia do Cassino e quer voar baixo, eu vi um vídeo em que um ciclista fez a praia do Cassino em um dia. Apenas não consigo entender, tendo uma possibilidade ímpar de aproveitar essa aventura, acampando, nadando nos riachos, arroios, vendo o pôr do sol e o nascer com toda tranquilidade, até quem sabe trazer linhas e anzol para pescar, eu não entendo como alguém não faça isso. No mínimo, a praia do Cassino para um aventureiro de bicicleta, deve ter se dois acampamentos antes da Marinha e totalizando três dias em duas noites nos seus cento e cinquenta quilômetros, após pernoitando na Marinha e depois, dois dias nos seus últimos oitenta quilômetros.  Se estiver de bicicleta, traga no mínimo nove litros de água para poder fazer um percurso tranquilo, mas se você levar o filtro ou as pastilhas, aquelas águas dos arroios são potáveis e água doce. Bicicleta, até dá para levar os dez litros, nove litros para uma aventura a pé, fica um pouco mais complicado, então caso for fazer essa aventura caminhando no estilo peregrinação, traga consigo os purificadores de água.

 

Nos dez quilômetros de hoje,  que faço até a Marinha, o que mais vejo na praia são os pequenos crustáceos, os caranguejos, entretanto quando neste itinerário percebi uma tartaruga viva, porém encalhada e debilitada há uns três metros das ondas.  Pela minha percepção, mesmo na maré alta, não iria atingi-la, por todo esse trecho que fiz até agora, eu vi várias carcaças destes répteis, tartaruga, que deva ter acontecido à mesma coisa. Portanto, utilizando do lema: faço bem sem querer saber a quem, dei uma forcinha a ela, colocando a nas águas do mar. A cena mais emocionante foi vê-la com todo o sacrifício querer ir lá ao mar adentro.  Deparei também com pescadores puxando a corda que fica estendida na praia. Quando você passa pelo Cassino, de uns trinta a quarenta quilômetros, uns trinta a quarenta quilômetros, você vê cordas que sai dentro do mar em direção ao continente. A princípio, não tinha conhecimento da utilidade, entretanto fazia uma ideia, mas ao abordar um pescador com o seu trator, ele disse-me que a rede fica ancorada em alto mar, não tão alto assim, entretanto uma boa distância da praia e presa àquela corda, de tempo em tempo, eles vem e arrasta a rede para fora, como o que estou testemunhando agora, só não sei como que eles levam a rede até aquela distância em alto mar, porque o mar é muito revolto. Nem sei, nem perguntei.

 

Cheguei à Marinha, agora são umas dez e pouco, apesar de sentir aquela tranquilidade de estar salvo, porém, a preocupação. O que falo agora, faz parte do contexto da história, entretanto que sirva como dica importante. Ao programar uma aventura, seja de bicicleta, seja a pé, não se esqueça de contactar a Marinha na cidade de Rio Grande e informá-los que vai passar pela base, Farol do Albardão, pois eles enviam um memorando aos marinheiros que estão na base para recebê-lo, caso contrário, a Marinha não tem obrigação de lhe socorrer, apesar que em situação de necessidade eles socorrem, entretanto, esse é o ritual. Quando eu cheguei na Marinha, eu sabia que eu tinha falhado nesse quesito, entretanto que só me permitisse repor as águas e dar uma carga no celular e para mim já estava ótimo, porque eu acamparia fora dos terrenos militar, ou fora do espaço de segurança federal, acho que estou ficando biruta. No instante que fui atendido pelo marinheiro, ele perguntou se eu havia passado no departamento, se assim eu posso dizer, da Marinha em Rio Grande e eu exibi a minha falha. Diretamente, levei uma bronca, até porque sou militar aposentado e não poderia ter cometido esse erro, entretanto eu disse a ele que só queria água e poder dar uma carga no celular. O marinheiro comunicou aos seus superiores imediatos e determinaram que a Marinha me socorresse, com tudo o que esta instituição militar pudesse fazer ou mais. Digo aqui, tudo que a instituição pudesse fazer ou mais, porque nunca na história deste cicloviajante, fui tão bem recebido. Logo de início já me deram banana e bolacha, dizendo que era para segurar até a hora do almoço,  convidaram-me para almoçar, instalaram-me no alojamento com banheiro, cozinha, geladeira e beliches. Almocei com eles, a comida estava maravilhosa, conectei o “wi-fi” no meu celular para saber notícias da minha esposa Irene, a última informação é que ela convencia de covid. Voltando ao passado um pouco, na manhã do dia oito de março, quando estava no camping pronto para ir em direção ao Cassino, minha esposa, informou-me que tinha diagnosticado o covid, e olha a minha situação, quando entrei para o abismo da Praia do Cassino e iria ficar quase três dias, “offline” sem comunicação nenhuma e a última notícia que eu havia tido é a situação da enfermidade de meu amor. Compreendo que essa doença agora não está como outros tempos, entretanto devemos nos precaver. Entendo tudo isso, porém ficar três dias sem comunicação, sem saber o que está acontecendo, é um pouco difícil. Voltando agora a Marinha no ponto em que parei. Já com “wi-fi” no celular, contatei com a esposa, ela disse estar tudo bem, entretanto era daquela maneira, pois nos comunicávamos por áudio, era assim, ela dizia: eu estou bem, já estou me recuperando, a tosse interrompia sua voz, afirmava: estou medicada “cof cof cof”. Não sei se me senti aliviado por saber que  estava sendo medicada e já teria sido vacinada por várias vezes, ou por eu não estar presente e provavelmente também iria me contaminar. Esquecendo um pouco esse assunto, tudo que eu disser da Marinha será a pura repetição do que já falei, somente que eles me convidaram para jantar, mas eu disse que iria fazer a minha própria comida. Todas  às vezes que tenho a possibilidade de cozinhar, eu faço sempre um pouco a mais, é o jantar de hoje e a comida francesa amanhã, “Restô Dedontê”. Noite perfeita

 

Sai bem cedo, e para termos uma ideia, a construção, ou o espaço físico da Marinha com seu farol e alojamentos é bem retirada, areia adentro da praia, o mar está a quase quinhentos metros. Eu, minha bicicleta, ainda pesada, mas com o auxílio do marinheiro empurrando-a. Torno mais uma vez lembrar a vocês, antes de partir oitenta quilômetros até a Barra do Chuí, com certeza mais um acampamento. Portanto, quando forem fazer essa aventura pelo Cassino e tiver interesse de pernoitar na Marinha, até porque dá para trazer provimentos até aqui, depois da Marinha adiante se renova, no quesito água, recarregar o celular, outros eletrônicos e até o “wi-fi” para poder se comunicar com os entes e amigos. O contacto com a Marinha na cidade de Rio Grande é de suma importância.

 

Acredito que virei o salva-vidas da beira-mar, quando estava fazendo o meu caminho, passei por um peixe e ao olhá-lo, percebi que ele se mexia. Só uma particularidade, conforme a gente vai fazendo o Cassino, a gente vê carcaças de tartarugas,  peixes, e quero dizer, peixes grandes. Passei e não liguei muito, porque pensei: ah, é apenas um peixe, entretanto a minha consciência não me deixava em paz, o porquê de eu diferenciar entre uma vida e outra; o motivo de eu banalizar apenas por ser um peixe; a causa de eu menosprezar, porque era um peixe e não uma tartaruga; será que é porque quando olhamos uma tartaruga, a gente imagina fofinha e quando olhamos um peixe a gente imagina um bom prato com batatas. Retornei, e para minha grata surpresa, as auréolas dele estavam mexendo, quando eu peguei na mão, ele deu uma sacudida. Imagino que se ele tivesse consciência, iria pensar assim, esse é o meu fim. Talvez outra pessoa que estivesse passando por ali iria pensar o seguinte: nossa, que presente que o mar me deu, vou fazer um peixe na brasa. Pensa num peixe bonito, até parece aqueles que a gente vê nas vitrines das peixarias. Quando eu o peguei nas mãos, senti que ele deveria ter um quilo e meio mais ou menos e disse a ele: vai peixinho, vai viver e o coloquei no mar.   Meu  intuito, nesse momento, não é fazer demagogia, até porque sou carnívoro, e sim, irei salvar vidas o máximo que eu puder, independente, se de peixe, tartarugas, ou qualquer outro ser vivente.  Todas as vidas importam. Ah, sim,  salvei um mosquito, humor.

 

O que não deve esquecer quando for fazer o Cassino, além dos filtros que já disse também uma boa lona que possa lhe proporcionar em alguns instantes sombras. Quando você faz o pedal, ou a pé, no Cassino, não existe nenhum ponto de sombra, nem mesmo indo em direção às dunas que são apenas arbustos.  Durante o dia e alguns  momentos que são intransitáveis, então, ou você tem que empurrar a bicicleta ou parar, todavia parar como? Não tem sombra em lugar nenhum, então agora vem a dica que vou passar e também que fiz, relatando as minhas experiências vividas a poder de suor e sangue, nem tanto! Tenha um bom pedaço de sarrafo de madeira para escorar a bicicleta e ela ficar bem fixa na areia, se possível, cave até um pouquinho onde fica o pneu e acerte o dentro do buraco para dar firmeza, a lona por cima da bicicleta estendendo por fixador no chão, pode ser pedaços de madeira, pode ser as estacas da barraca, que tenho certeza que não vai aguentar muito, porém pedaço de madeira enterrado na areia é mais resistente, porque você pode estender a lona e ancorá-lo. Pode ter o sol que tiver, embaixo da lona vai cair a temperatura de forma que você nem imagina, o local onde está a sombra da lona, a areia vai ficar geladinha, talvez nem tanto geladinho, porém bem fresquinha e digo com experiência própria, pois cada vez que eu fazia esse abrigo, chegava até cochilar, agora imagina o sol de pleno verão praia do Cassino.

 

 

Da Marinha até a Barra do Chuí, eu já disse que são oitenta quilômetros, é claro que não tinha a ideia de fazer toda essa distância, entretanto o dia estava bom para o pedal, não cheguei até a Barra do Chuí, entretanto sim, até o vilarejo Hermenegildo. Chegando no povoado, estava com intenções de procurar um camping, mas o proprietário de uma casa em construção autorizou-me que eu ficasse ali à noite.

 

Quando eu estava no pedal, (retornado um pouco a história) ante de eu chegar ao povoado Hermenegildo,  até tinha procurado um lugar de acampamento, entretanto como o vento estava nas costas e havia este povoado, imaginei assim, nem que eu tenha que pedalar à noite, vou chegar até o Hermenegildo, contudo não cheguei à noite, e sim na luz do dia. E onde eu parei para acampar, retornado a história novamente, uns dez quilômetros antes, estava muito difícil de montar a barraca, o vento que vinha em direção ao sul, esse mesmo vento a favor da bicicleta não possibilitava que eu montasse ali meu acampamento e sabendo que faltava pouco, então decidir cair na estrada ou quer dizer, cair na praia, ficou meio estranho esses dizeres com a palavra cair, mas o que eu quero dizer é: pedalar o restante do caminho. Quando abandonei o acampamento frustrado, dez quilômetros antes do povoado, devidos os ventos e decidir voltar para as Areias e fazer o pedal até o Hermenegildo, eu tinha quase certeza que iria chegar à noite,  não seria nada fora do comum porque começa a anoitecer bem cedo nesta região, montei  na bicicleta e seja o que Deus quiser.

 

Quando a gente vem chegando próximo a um povoado, aqui na Praia do Cassino, a gente começa a perceber algumas movimentações, a gente vê na praia alguns carros do tipo caminhonetes paradas e as pessoas pescando. Tive contato também com alguns pescadores profissionais, aqueles que puxam as cordas que estão ancoradas as redes em alto mar. A sensação e que se necessitarmos socorro, começa a se tornar mais fácil. Depois que a gente sai de uma extensa área desértica da praia e começa a sentir a presença da civilização, o sentimento é uma mistura de saudade, euforia e tristeza, não aquelas do tipo de angústia e sim a melancólica, a nostálgica. Ao chegar ao Hermenegildo, sei que ainda não acabou, pois até a Barra do Chuí ainda tem nove quilômetros. Quando eu fiz a proposta de atravessar o Cassino, pensei em atravessar o Cassino de bicicleta, entretanto se por um acaso ela se quebrasse, ou qualquer outro problema, eu a abandonaria e seguia meu trecho a pé, então quanto mais eu chego no final da expedição, mais facilidade será para mim caso aconteça algo desafortunado. Este algo desafortunado que cito, significa se caso acontecer qualquer coisa com a bicicleta, porém quero eu e ela, nos chegarmos juntos e retornarmos para minha cidade de origem juntos, mesmo que ela desmontada e embalada e eu na poltrona do ônibus.  Alguém dirá assim: que injustiça, ela vai toda desmontada e embalada e você vai sentado na poltrona, eu respondo que sim e digo que ela está melhor do que eu, porque uma particularidade da minha vida é: eu posso viajar o mundo inteiro pedalando, andando, a pé, ou de qualquer outra forma; entretanto se eu estiver de ônibus, de carro ou qualquer outro meio de transporte sentado, as minhas pernas começam colapsar, não sei dizer ao certo quais são os problemas dela, porque os meus pés incham já nos primeiros cinquenta quilômetros e imagina vir do Chuí até Porto Alegre, de Porto Alegre até Ourinhos. No primeiro ônibus foram nove horas de viagem e no segundo dezenove horas. Pois faço a pergunta a quem falou de injustiça dos meios de transporte da bicicleta e a mim: quem viaja melhor, a bicicleta toda embalada e deitada ou eu com os meus pés parecendo dois pãezinhos caseiros fermentados? Ela é claro.

 

Cheguei ao povoado Hermenegildo.  As pessoas informaram-me a ver vários campings neste povoado. Entrei feliz na cidade com a sensação de: olha aí a civilização e uma vontade de tomar uma Coca-Cola.  A primeira informação, um tanto confusa, era que se eu virasse a primeira, contornasse a segunda,  seguisse em frente e tornasse a rodear, haveria um camping. Eu nunca consigo compreender o que as pessoas me informam a respeito de localidade, então agradecei e entrei sentido povoado. A ideia principal era encontrar um pequeno estabelecimento comercial para eu tomar algo, entretanto no início da cidade ao pedir informação a uma pessoa sobre o camping e ela falou ser proprietária de uma casa em construção de frente para o mar e que eu pudesse ficar ali, montar minha barraca e ainda tinha até uma torneira para meu devido banho, pois assim eu fiz.

 

Para encerrar a expedição, os nove quilômetros adiante, já no outro dia, dispensa os pormenores: do nascer do sol; do arder do Sol; da arrebentação das águas do mar na praia; e, enfim, a bandeira quadriculada mais adiante. Com o tremular dessa Bandeira, a da reta final, tenho a sensação de expedição cumprida, ou missão cumprida, entretanto, minha mente fervilha por outros desafios e posso dizer que existem vários, todavia só consigo pensar no Ushuaia que fica no sul da Argentina, depois da Patagônia. O  Ushuaia é comparado ao Everest do cicloviajante, não literalmente falando, porém, a título de análogo. O meu estilo de viagem de bicicleta deve modificar um pouco, até pela experiência que tive nesta expedição.

 

 

 

 

 

 Roteiro de um vídeo do YouTube

 

Perrengues e fatos a serem observados, recompensas e os bônus. Neste vídeo (desculpem, entretanto, esse trecho é o roteiro de um vídeo) eu quero falar sobre os perrengues e os fatos a serem observados.

 

- Perrengue. Perrengues são as dificuldades encontradas neste meu particular, a viagem de bicicleta pela praia do Cassino, não adentrando a outras viagens de outros cicloviajantes, porque sei que alguns entraram nos comentários e dirão: eu fiz a praia do Cassino e não foi bem assim, então volto a afirmar são os perrengues que eu os encontrei.

 

- Fatos a serem observados. Fatos a serem observados são alguns detalhes que conversei com os ribeirinhos, alguns dados de pessoas que vivem o exército função naquele, exemplo os militares da Marinha, pescadores e outros.

 

 

 

- Recompensas e bônus. Agora no quesito recompensas e bônus, eu quero diferenciar bem enfaticamente as recompensas como sendo aquilo que encontrei de bom na Praia do Cassino e o que fez refletir sobre o presente que estava recebendo naquele momento.

 

- Bônus. O bônus é algo fora do comum, que eu não tinha ideia, porém estava incluído no pacote expedição Praia do Cassino.

 

- Com os subtítulos: perrengues, recompensas, fatos a serem observados e bônus, vem comigo a minha linha de raciocínio e tentar compreender como foi minha viagem de cinco dias e quatro noites na Praia do Cassino. Começarei o contexto com perrengues, deixando o bônus para o final, porque essa história teve um final feliz.

 

- Já iniciando, um "perrengue", a saber, senhores ciclistas, também motociclistas e motoristas, na areia fofa não se consegue pedalar, apesar de que, os dois últimos têm motor, mas existe uma dificuldade muito grande em se locomover na areia fofa e toda praia, na sua extensão lateral, é na sua totalidade areia fofa; alguns trechos existem marcas de veículos, porém volto afirmar, moto e automóvel conseguem passar, mas bicicleta não. O cicloviajante só consegue pedalar na arrebentação do mar, com as águas batendo nas rodas da bicicleta.

 

 

 

- Perrengue fato de fazer um pedal na arrebentação, existe o lado do perrengue, mas também tem a recompensa; abordando sobre o perrengue é, todo cuidado é pouco, pois a água a todo o momento passa pelas rodas e às vezes tão altas que chega cobrir o pé de vela. Bonificação, o fato de fazer o pedal na arrebentação das ondas, margeando a praia, lhe dá uma sensação de leveza do contato da água com os seus pés e tirando restos de Areias entre os dedos e o chinelo. Fatos a serem observados do pedal sendo feito na arrebentação das ondas do mar com a praia, deve se observar os cuidados, pois a água pode desestabilizar pilotagem e derrubar a bicicleta. Também ainda, cuidado que as margens ligando o mar e a areia existem piscinas ocultas, alguns tipos de mini barrancos, aonde a água das ondas vem mais resistente e o que aconteceu comigo, derrubou-me.

 

 

 

Perrengue. Como perrengue ligado ao pedal na arrebentação do mar com a praia, não se consegue pedalar nas areias, mesmo onde os veículos passam, porque Como já disse, veículo tem motor e mesmo em dificuldades, eles seguem, já na areia não se consegue pedalar, porque os pneus da bicicleta afundam, fica inviável.

 

 

 

- Perrengue para acampar, deve se conduzir a bicicleta até as dunas e atravessar toda aquela areia fofa e no esforço incrível, tendo em vista que, só as dunas podem proteger um pouco dos ventos.

 

 

 

- Perrengue ao montar a barraca, deve se observar que sempre está ventando, então necessita colocar pesos nos cantos da barraca, xxx senão voa tudo. O interessante é abri-la antes de armar e colocar os “pererecos” dentro dela, pois só assim terá paz para armar as varetas. Mesmo depois da barraca armada, a dificuldade é com o preparo do alimento, porque o vento não dá trégua, no entanto, o que fiz é: apesar de não indicar, desta maneira eu fiz, porém, é perigoso, cozinhar na barraca, tomando o máximo cuidado para não derrubar a espiriteira ou o fogareiro.

 

- Perrengues, não existe falta de perrengue quando a quilometragem é alta, duzentos e trinta quilômetros, contudo enfim, essa é a proposta da Praia do Cassino.

 

 

 

- Perrengue. Areia. Não se deve classificar areia em uma praia como perrengue, no entanto, se a sua bicicleta, ou é daquela bike "nutella", pode ter certeza que areia entrará por todos os vãos, furos, catraca, comando, engrenagem, freios e assim sucessivamente.

 

 

 

- Recompensação. Existe uma praia gigantesca, só e exclusivamente para você, raramente uma viva alma passa por ali, toda a imagem, toda brisa, todo o visual é único e só você tem esse acesso.

 

 

 

- Recompensação. Quando você está inserido naquele ambiente, a Praia do Cassino em sua imensidão, mesmo com todos os perrengues e as dificuldades, você é tomado por uma paz imensa, até parece que a sua existência e os mares, os dois se unem em intimidade. Os acampamentos, com certeza, será a tranquilidade total; porquanto, durante o dia não se vê uma penada alma, a noite então é solidão total com relação à outra pessoa que poderia estar passando por naquele lugar.

 

 

 

- Recompensa. A imensidão de tempo, quase uma eternidade em que você está em companhia do mar, praia, areia, brisa; indescritível a sensação de paz que recai naquele momento em você.

 

 

 

- Bônus. Com relação a minha viagem, posso descrever uns três: assistir o pôr do sol único, sensacional, sem interferência de nuvens; xx assistir o nascer do sol a leste, todas as manhãs, idem ao pôr do sol, sem interferência alguma; e, ainda, ter uma imensidão de um mar com suas ondas à disposição.

 

 

- Cuidados a serem tomados. Verificar as marés por meio de aplicativos e outros. Observar as melhores luas para que as marés preferivelmente estejam baixas.

 

- Cuidados a serem tomados. Não é uma boa ideia fazer essa viagem no inverno, segundo militares da Marinha.

 

- Precaução com água. Nessa viagem, eu levei um galão de cinco litros, mais uma garrafa PET de dois litros e meio e não deu para chegar até a Marinha, apesar de que tem os arroios que possa abastecer, todavia eu aconselho levar ou um filtro, ou clorin.

 

- Cuidados a serem tomados. Entrar em contato com a Marinha, talvez na cidade de Rio Grande, pois eu não fiz dessa maneira e não deu para eu passar até a sede da Marinha para pedir autorização de pernoitar na base Albardão. É de suma importância o pedido de autorização, pois desta forma os marinheiros já tem ciência que vai passar por ali, caso contrário como aconteceu comigo, eles não têm obrigação de dar abrigo, entretanto devido ao bom coração daqueles homens de bem, fui socorrido.

 

- Entre outros quesitos mais, se alguém tiver alguma dúvida coloca nos comentários, se eu puder responder responderei.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Parte I



Trinta de novembro. Angústia da partida.

Contagem regressiva para minha saída

Começa hoje, dia trinta de novembro;

É um ignóbil soneto e não a despedida,

Chegarei ao Cassino final de dezembro.

 

Quem quiser de mim, ser um membro;

Divulguem minha perturbada insana vida.

Nada esquecerei, pois sempre me lembro:

Sou grato por suas ternuras e guaridas.

 

Vamos nos jogar de cabeça nesse infinito; 

Sigam os meus trechos neste manuscrito;

Eu sei que é mirabolante e muito esquisito.

 

Também estarei no meu canal “Role Insano”

Compartilhem e deem um joinha lá no YouTube,

E a vocês, o cicloturismo sagrado e profano.


Primeiro de dezembro. O sonho de Liberdade.


Primeiro de dezembro, enfim

O mês doze, pleno verão, chegou,

Ainda faltam quatro dias para mim, 

Para o cicloturismo insano que vou

 

Balão cheio da minha liberdade inflou 

E eu sinto no ar o aroma de jasmim,

A cicloviagem ainda nem começou,

Convido lhes, para do começo ao fim.

 

Vou sim; voltar? Quem sabe, talvez!

Se duvidar, de novo eu vou outra vez,

Só não peça para eu ter a sensatez.

 

Não vou seguir nenhum itinerário, 

O meu percurso é o horizonte,

É, tão somente, não quero o horário.

 

 

Dois de dezembro. Vem comigo.

Sexta-feira,“ sextou”  e sem pressa,

A contagem regressiva continua;

Se quiser vir, também vamos nessa,

Vamos pedalar no mundo da lua.

 

Somatória das decisões minhas e suas,

Nada além da cicloviagem nos interessa,

Aversão de preconceito, tabu e alma nua; 

Bulhufas em troca e nenhuma promessa.

 

Apenas ir até a linha do Horizonte,

E se der sede? Beber água na fonte,

E mergulhar feito um rinoceronte.

 

Só sei, não haver nenhum pacto,

É apenas a essência do que vier, 

Talvez mais um, ou só um último ato.

 

Três de dezembro. Para ir, é só dar o pontapé inicial.

 

Faltam três dias para o “gran” início, 

Como está o psicológico do bacana?

É como se eu me jogasse em um precipício,

Pelado, descalço, sem nenhuma havaiana.

 

No entanto, a mente tonta, a gente, engana;

E enche de prazer sem nenhum sacrifício; 

Vai lá, Somewhere! É a perfeita gincana,

É o que você sempre faz, sem compromisso.

 

O coração gela, o peito palpita;

No entanto, é bom fazer e se permita,

Ainda de bônus, deixar a história escrita.

 

 

No entanto, que eu não me esqueça

De convidar lhe a ir, quem comigo quiser:

No YouTube, insta, ou aqui, só permaneça.

 

Daí eu prometo, apenas prometo eu, a mim terá.

 

 

Quem quiser vir comigo e fazer meus trechos, 

A única coisa que prometo, é um nada;

Quem quiser vir comigo e fazer meus trajetos,

A única coisa que prometo são contos de fadas.

 

O que acontece no cicloturismo é secreto;

As coisas boas ou males, a gente deixa na estrada,

Não diga que está viagem seja uma empreitada,

É como tal, ler em braile sendo analfabeto.

 

De nada precisa, só um camping e à noite estrelada

Para descansar a alma e repor o velho esqueleto,

São palavras sem sentido e disse acima.

 

Dia de d! Estou perdido, não sei o que fazer.

 

A partida era para ser hoje, quinto no dia;
Mas, motivos, outros, eu deixei para amanhã;
Talvez esse, últimos versos da minha poesia;
Então, Vem comigo, faça parte do meu clã.


Hoje amanheceu com aroma de hortelã,
E sinto um misto de expectativa e alegria,
Se você vier, juro, de antemão, sou seu fã,
Vem! Vai, vem comigo, faça-me companhia.


Eu e Você, nós somos uno, só um universo,
Não somos bonzinhos, nem tanto perversos,
Apenas nessas loucuras estamos imersos.


O amanhã nem faço ideia de onde estou,
A beleza do cicloturismo é não ter previsão;
Mas, só posso afirmar, a certeza é que vou.

 

 

O que será que está escrito nas estrelas? Desesperado, joguei fora meu relógio.

 

Mal posso esperar, mas que "#inquietação",
Sei que o amanhã haverá, sempre há de vir,
Bate apertado, solícito, e feliz meu coração;
Sei lá se hoje à noite vou conseguir dormir.


Entretanto, que eu quero mesmo logo é fugir
Pedalando abestadamente em outra dimensão
Antes do sol nascer, amanhã cedo, eu vou sair,
Eu não sigo nada, nem talvez a minha intuição.


O que tem a fazer? É sair ligeirinho sem pensar,
É como pular desvairamente de cabeça no mar,
Não pode, porém, nem também para trás olhar.


Do que escrevo, é o que meu coração sente;
Tento expor a vocês todo o meu tempo real,
E tudo que passa em minha delirante mente.

 

 

Eu egoísta, desligo-me de tudo.

 

Quando você vai fazer um ciciculturismo,

Dias antes é um processo de desligamento,

E o que eu não sabia, tal é como um abismo,

E vai pedalar a mercê dos incertos ventos.

 

Tudo isso, que sinto agora, nesse momento,

É a busca de si só e sem singelo egoísmo;

Que some da mente até os pensamentos,

Ninguém é a favor e nem há antagonismo.

 

Não queira agir como uma pista de corrida,

Nem tão pouco ser mais veloz que a vida,

Cicloviaja você! Esquece um pouco a torcida.

 

Porque, o que vai ficar é os seus momentos,

Os perrengues, as consternações, as alegrias;

No amor, no ódio, no regozijo e no sofrimento.

 

 Liberdade é ir vir e permanecer, entretanto, até quando?

 

 

Não fui ontem, dia cinco; então, e daí!

Amanhã pode ser uma nova história.

Senti que não devia, pois, ontem sair,

Cicloviajar a obrigação não é obrigatória.


Porque, até esses detalhes ficarão na memória;

Não, não! Nem a mim, nem a ninguém, eu traí;

Sim! Meus leitores dão a mão à palmatória,

Vamos comigo, sem rumo, sem destino por aí.


Como eu falei, hoje é dia cinco e eu não fui,

Se alguém se decepcionou, digo: ui-ui;

Desculpa, recuperei-me, assim a gente evolui.


Não desdenho, vem comigo no cicloturismo,

A cada um de vocês, mando um abraço;

Use-me e abuse, sou o próprio consumismo.

 

 

Vou com Deus, se voltar volto com Ele, se não voltar, estou com Ele.

 

 

 "I Will Be back" um contundente bordão  

Que Schwarzenegger no filme entoou,  

Significa: "eu voltarei", irmãs e irmãos,

Também digo; mas, se não, nada acabou.

 

Tudo pode, ou não ser, ou com Deus estou;

Pois, sim, porquanto, uma nova configuração,

Serei apenas um pássaro que no céu voou,

Ou igual a Ícaro devaneador e sua ilusão.

 

A sério, se eu estiver perdido sem destino,

O que posso dizer, não sabe, nem eu imagino!

O segredo, tudo ou nada, o profano e o divino.

 

Entenda, nem tudo é real, somos marionetes

Seguindo o infinito do sempre, eternamente,

O começo e o fim, onde tudo cíclico, se repete

 

 

 

O que deixar fácil, no quesito tralhas, para pegar no bauleto ou no alforje, facilitando em caso de emergência. Logo pela manhã, vou fazer meu café e talvez cozinhar alguns ovos, então o que eu preciso ter em mãos é: a aveia, açúcar, minha canequinha, espiriteira a álcool, café e os ovos, é lógico. Capa de chuva e a lona, caso vier uma tempestade repentinamente, porque na estrada as coisas acontecem assim, está um sol de rachar e de repente cai um dilúvio. Produtos de limpeza, também devem ter prioridade, pois a todos os momentos a gente precisa fazer uma higienização, pasta de dente, toalha. E para cozinhar, as panelas e frigideira, dependendo do que vai ser usado, o arroz e a lentilha, e o óleo, e o sal.
Esses detalhes que citei acima, todos, são bons, o cicloviajante ter em mente para não passar transtorno. Facilitar também, na viagem os, os equipamentos de reparos da bicicleta, de troca de pneu. As noites no camping, já é outro departamento, pois é o final do dia,  dizer que a barraca deva estar acessível, isolante térmico, saco de dormir e travesseiro e considerando que o cicloturista, na maioria das vezes, pernoitam em posto de gasolina, não devemos esquecer das outras vezes, que não são muitas, o pernoite em camping selvagem, na natureza, então uma boa lanterna deve estar as mãos.
 

 

 

 

Diário de bicicleta

Bom dia grupo, já na estrada para ciclo-viajar, acompanhe pelo "Insta" e pelo "YouTube" eu vou, não sei até onde, mas a minha proposta é até onde Deus quiser ou até a linha do Horizonte. Essa foi a mensagem que transcrevi no grupo da família.

 

Enfim, começa meu ciclo-turismo e sempre falo na minha viagem, ou lembro esses dizeres de Leandro e Leonardo: eu não sei para onde vou, pode até não dar em nada, a minha vida ela segue o sol no horizonte dessa estrada. A bicicleta está carregada, levo tudo que  preciso e espero não ter que jogar nada fora, porque cada item eu percebo uma necessidade, porém digo, tem muita "badulaqueira" em cima da bicicleta, aproximadamente trinta quilos, distribuído entre a frente e atrás, saindo no meu primeiro dia.

Hoje, dia oito de dezembro de dois mil e vinte e três,  saindo de Assis, São Paulo, com destino, primeiramente, a Ourinhos,  a bicicleta pronta, gigante, acredito que não falta nada. No trevo de platina, rodovia Raposo Tavares, bateu uma fraqueza, acredito que seja falta de sais, porque saí de casa e tomei apenas café, deveria ter feito um de jejum. Estacionei a bicicleta, peguei o leite em pó e coloquei com a água que eu tenho no meu reservatório, se vocês observarem lá no meu “Instagram” ou no “YouTube”, o meu pequeno reservatório, ele mantém a água bem gelada. Agora são onze horas e trinta e três minutos, acredito que estou a uns vinte quilômetros de casa, traduzindo melhor, já pedalei uns vinte quilômetros e o dia tá muito quente, como eu não vou até Ourinhos, então vou ficar aqui no trevo de Platina esperando um pouquinho dar uma refrescada. Eu sei que tudo que vocês lerem aqui, também encontrará no vídeo do “YouTube”,  a parte do qual eu descrevo é a parte do vídeo que mostrei. Aqui no trevo, eu deitado em baixo de uma árvore, dois passarinhos quero-queros e evitei de parar na sombra de outra árvore, para não atrapalhar as aves. Não sei se já aconteceu em outra obra, ao mesmo tempo, em que se escreve um livro, também se filma, não deixe de visitar meu canal no “YouTube Role Insano e no Instagram”. O que eu digo meus Caros leitores: na viagem de bicicleta a vida é isso, são os instantes. Não tenho pressa, alguém está com pressa de algo? Então nesse momento, deitado á sombra de uma árvore, esse pequeno trecho faz parte do vídeo.

 

 

 

 

Quais são as programações? Os projetos? Para hoje eu tinha planos de acampar embaixo de uma ponde na rodovia, pouco ante de chegar a Salto Grande, que passa um rio, vocês podem ver na “playlist” da primeira temporada o primeiro vídeo, entretanto, também, posso acampar em um posto nas proximidades, como dizia a filósofa minha mãe querida: sei lá, sei lá, sei lá. Realmente eu não sei, porque no momento em que escrevo, deitado embaixo desta árvore, ainda nada aconteceu, o ciclo-turismo é uma caixinha de surpresa e estamos ainda no primeiro dia dos muitos que virão.

 

Agora são aproximadamente vinte e duas horas, estou no posto pernoitando,  na marquise do Restaurante São Mateus,  com minha barraca de acampamento montada e faltando uns sete quilômetros para chegar à cidade de Salto Grande. Teria ido dormir, mas o “YouTube” deu problema para fazer “upload” demonstrando que os dados não tinha sido salvos, estou até agora, entretanto amanhã, eu saio bem cedo, a viagem é mais curta. Para chegar até aqui, não foi fácil, o dia estava quente, massacrante, mas cheguei e olha que são apenas quarenta e oito quilômetros, não sei se estou preparado ou foi que não tinha comido nada no meu desjejum matinal quando saí de casa, esse foi o meu erro. Todavia, agora, a barraca já está montada, estou a quarenta e oito quilômetros de Assis e o posto de combustível não é vinte quatro horas e a lanchonete também fica fechada, ainda estou acordado para pegar o wi-fi e fazer subir o meu vídeo.  O que posso dizer agora é: o amanhã promete, espero que esteja perfeito, porque será menos quilometragem, uns vinte e oito a trinta. Vi aqui na meteorologia, online, não sei se é confiável, porque quando eles falam que vai fazer sol, aí chove e quando eles falam que vai chover, aí faz sol, que amanhã vai fazer sol, enfim prefiro sol, porque quando pedalamos, colocamos manguito, chapéu para cobrir o rosto e capacete e a brisa que bate refrescando; agora na chuva é complicado, porém, não digamos que é ruim. Também eu poderia exemplificar vários motivos para preferir a chuva, já nem sei o que eu prefiro; prefiro, sim, fazer meu ciclo-turismo em paz. Se vocês observarem os meus vídeos da segunda temporada, nas serras catarinenses, Corvo Branco e Rio do Rastro, foi praticamente regado por uma chuva torrencial e frio de gelar os ossos da canela, lembro com saudades.

 

 

 

Uma pessoa pode até questionar sobre o ciclo-turismo e dizer: bicicleta é sofrimento, porque não vai de moto, ou de carro; o que digo é o seguinte: não existe liberdade maior que bicicleta, pelo menos sobre o meu prisma, você escuta os sons, observa a natureza nos seus mínimos detalhes, coisa que talvez de moto fosse impossível, no entanto, eu complemento que cada um, é cada um.

 

De bordo segundo dia

Noite perfeita, o dono da lanchonete autorizou-me a montar a barraca no corredor, em um local coberto, pois facilitaria caso chovesse, todavia o tempo não estava propício para chuva, porém como sempre digo, uma pessoa prevenida vale por dois. Montei a barraca, comi mais um pouco da marmita e dormi como uma criança, a única coisa que incomodou um pouco, era porque estava embaixo de um bico de luz, entretanto depois do cansaço, dia repleto, nada importava. Acordei às 04h00min da manhã para desmontar a barraca e dar uma carga no celular. A lanchonete estava fechada, não tinha nenhum ponto de tomada, então fui até o posto. Uma das preocupações de um viajante de bicicleta deve ser acordar cedo para carregar o celular e outros eletrônicos, que pela manhã, no mínimo deva ter pelo menos cinquenta por cento de bateria, na estrada a gente nunca sabe quando vai ter necessidades, caso mais extremo, um socorro.

 

 

Hoje tem jogo da seleção brasileira,  já estou com a minha camisa canarinho, não sei afirmar com quem a seleção vai jogar, contudo, vou torcer, não é porque estamos ciclo-viajando que devemos desconectar do mundo, ainda porque, as redes sociais não deixam a gente viver na bolha. 

Nesse exato momento, o sol já desponta no leste,  hoje o itinerário é curto,  mesmo a bateria não estando totalmente carregada, eu preciso vou pegar estrada, vou deixar meu café para ser feito lá para as nove horas.

 

 

Uma breve parada embaixo da ponte que transpassa a rodovia Raposo Tavares em Salto Grande, próximo a Ourinhos, a uns cinco quilômetros atrás, eu parei para fazer café. A gente vive sem tudo, entretanto sem café simplesmente não existe vida, também cozinhei seis ovos, para não perder, agora uns cinco quilômetros à frente, vou comer lá na base de atendimento ao usuário, a base é lugar de repor as baterias, tanto água gelada, também banheiro e quem sabe um wi-fi, ela é quase chegando em Ourinhos, comerei o resto da marmita de ontem, se não estiver estragado. Hoje, o que eu não tenho, é pressa; como se percebe, eu sair 06h00min do posto de combustível e Restaurante São Matheus, onde pernoitei, agora são 08h16min e andei apenas cinco quilômetros; andei não, pedalei.

 

A uns dez quilômetros à frente, na base de atendimento ao usuário  da “Cart”, quase chegando a Ourinhos, parei para comer o resto da marmita de ontem, porém como já tinha tomado um café reforçado com dois ovos, lá em Salto Grande, não comi muito. diferente de ontem, estou superalimentado, comi até demais, tendo em vista o café com aveia, no começo da viagem, debaixo da ponte, ou pontilhão, em Salto Grande, três ovos e agora aqui na “Cart” quase chegando em Ourinhos, uns quatro pedaços de carne substancialmente.

 

Para efeito de horários, agora são 10h33min, o pessoal de Ourinhos, filha, genro, cachorro, gato, periquito e beija-flor, já estão me cobrando, se vou chegar a tempo para assistir ao jogo, todavia a “inhaca” está falando mais alto, nesse exato instante estou à sombra de uma árvore, sem camisa, já tirei o tênis, estou com um chinelo no pé. Ciclo-viajar é mais ou menos isso, um dia você anda oitenta quilômetros, outro dia dez, não é a distância que você vai percorrer e sim que você está transitando ou ciclo-viajando, caso você pensar de forma diferente e achar que ciclo-viagem é igual andar de carro em que você tem horário para chegar, então nem vai.

 

Cheguei a tempo para assistir ao jogo do Brasil, entretanto não preciso nem comentar como foi, eu acredito que você que está lendo esse diário, já sabe, porém, as coisas são assim. Croácia e Brasil, no empate de um a um, o Brasil foi derrotado nos pênaltis.

 

 

 

O que posso dizer das sensações dessa bicicleta pesada após hoje o terceiro dia, não sei se eu ando cansado, ou ela tá muito carregada, no entanto, nada que levo na minha bagagem, eu possa dispor, porque acredito que estou levando só o essencial - daqui a quinhentos quilômetros eu volto fazer essa análise -, esse é um dos cuidados que devemos ter quando e só escolhemos o essencial, põe algo em sua cabeça, devemos adotar o minimalismo, no entanto, não vai deixar de levar alguma coisa, mas se não levar, falta não vai fazer. Entenda, você leva uma linha, pesa; leva um parafuso sobressalente, aumenta o peso; uma chave de fenda, o peso vai aumentando; resumo: não tem jeito, no entanto, existe um peso limite, penso que você puder levar menos. No bagageiro traseiro no máximo 20 kg, à frente, bagageiro dianteiro, o máximo 8 kg, se  conseguir levar menos dos parabéns.

 

Segunda-feira, doze de dezembro de dois mil e vinte e dois, oh meu querido diário, "risos". Sendo hoje uma segunda-feira, como se percebe, passaram dois dias e aqui nada foi escrito, o sábado e o domingo. 

Encerrei o último trecho da minha viagem na sexta-feira quando cheguei na casa da filha em Ourinhos e a bicicleta precisava reparos, então dei uma pequena pausa nos dois dias. De sexta-feira no final de tarde até hoje, eu estava em Ourinhos e sábado de manhã bem cedo retornei a Assis para ficar com meu amor, segunda-feira de manha  retorno a Ourinhos e tomo as providências com relação a  bicicleta cargueira, predator, a pregadora.

 

 

Projetos para amanhã, entenda quando eu falo projeto não quero dizer que vai acontecer e sim o que pretendo fazer. Amanhã terça-feira, pretendo sair cedinho, quando começar a clarear o dia, existe duas hipóteses: a primeira é ir até o camping  de Ipaussu e a segunda estender um pouco mais e chegar até a enseada Marianinho. Prós e contra das duas opções, o camping de Ipaussu é um lugar fenomenal, todavia da cidade de Ipaussu até o camping é uma ladeira violenta, e caso eu for acampar lá, o problema não é a ida e sim, o dia seguinte para retornar a rodovia, além de ser uma subida de oito quilômetros, ainda na sua maior parte de terra. Já a enseada Marianinho, não tem muitos empecilhos e eu já acampei por lá,  é um lugar esplêndido, ainda bem que exponho as minhas pretensões, ainda que não aconteça, porque isso é apenas um diário de cicloviajante e na maioria das vezes escrevo antes de acontecer, tenho um norte a tomar. Acabei de chegar na enseada Pirajú, também conhecida por Marianinho, foram quarenta e oito quilômetros hoje, não sei dizer se foi puxado ou foi leve, porque tudo é relativo.

 

 

Alguns dias após, hoje é 20 de dezembro, prefiro colocar a data para saberem a cronologia dos fatos e se é um diário, então escrevo no momento o que em que os fatos acontecem. Eu retornei na quinta-feira dia quinze a cidade de Ourinhos. No parágrafo anterior eu havia encerrado quando estava na enseada Piraju, passei a noite e no outro dia sai bem cedo. Já alguns quilômetros a frente, notei a falta do meu RG. assunto esse que vou abordar mais adiante. Retornei e mais uma vez, agora novamente estou pernoitando  na enseada Piraju, mais conhecida por enseada, ou cachoeira Marianinho.

 

Quando eu estava a caminho do destino do meu cicloturismo, percebi estar sem meus documentos e resume-se apenas no RG físico. sei que alguns de vocês dirão: qual é o motivo de eu não ter optado pelo de forma digital? É uma falha? Acredito que sim, porém a gente vive e aprende. Quando retornei na quinta-feira, dia quinze para Ourinhos, minhas  expectativas é que estivesse esquecido na casa da minha filha, entretanto, procurei por todos os cantos, mas não o encontrei, o RG que estou falando Claro. Ainda que eu não tenha encontrado o RG em Ourinhos, a minha esperança é que tivesse deixado em Assis. Resumindo, perdi o RG. o que vai acontecer com o meu cicloturismo? Vou tentar descrever de forma rápida: não encontrando o RG, vou ter que pedir segunda via. Posterior ao ter a segunda via em mãos, vou baixar de forma digital; é claro, hoje sendo dia vinte de dezembro, mesmo que eu encontrasse esse famigerado RG, não irei iniciar o cicloturismo agora, pois seria até injustiça  minha  com os meus familiares, então vou passar as festas natalinas e de fim de ano com eles; a data específica para retornar a viagem de bicicleta, é começo de janeiro, não podendo afirmar o dia, entretanto, se você está lendo, tudo aconteceu. Só para entender um pouquinho como eu escrevo esse diário,  no momento, como eu citei acima é dia vinte de dezembro, conjecturando as hipóteses, e ainda consternado pela perda do meu documento e se você está lendo, então  presumo continuei escrevendo e a viagem seguiu. Desculpem as minhas incertezas, nem sei se meu nome é Samuel, mudarei o mesmo nome que tem meu primo que mora no sítio, Somewhere.

 

 

 

 

 

Hoje, vinte e sete de dezembro.

Eu sei que na vida tudo se resume em acontecimentos, mas nem todos os fatos são registrados, no entanto, como aqui é um diário, então descrevo de como está a senda de uma viagem de bicicleta e onde tudo acontece. Hoje dia 27 de dezembro de 2022, novos fatos e novas versões: na data de ontem, eu agendei para hoje 27 no Poupatempo em que providenciaria a segunda via do meu RG, fatídico documento e na hora que mais precisava dele ele escafedeu, foi para onde eu não sei. Ao chegar para o atendimento, imaginava eu que em uma semana estivesse com uma segunda via nas mãos, além de pagar uma taxa de quarenta e sete Reais; ainda, no Poupatempo, eles me disseram que estaria pronto no dia dezessete de janeiro, portanto o ano que vem. Naquele instante, eu lá no Poupatempo, caia um balde de água gelada com vários cubinhos de gelo sobre minha cabeça, mas como diz o velho deitado, ou o ditado: para melhorar tem que piorar" então me acalmei. Percebo que às vezes eu escrevo demais para o nada que está acontecendo, porém, estes fatos são algo que devo aqui no diário lembrar e ainda tenho uma esperança, caso venha encontrar meu RG antigo, que está em local incerto e não sabido, partirei. O certo é, os meus propósitos era sair em nove de janeiro de dois mil e vinte e três, no entanto, como o RG está pronto para o dezessete de janeiro, então é uma semana a mais e se eu começar a demorar muito, vou chegar na Praia do Cassino no inverno. Nada que esteja ruim possa melhorar, também o inverso nada que esteja bom, possa piorar e assim sigo a minha senda.

 

 

Hoje é dia quinze de janeiro de dois mil e vinte e três, 10h12min E como sempre eu digo, ou escrevo: isso é um diário e diário tem uma sequência cronológica, então não devo furtar-me de relatar o que vem acontecendo, pois ainda não estou na estrada. Depois de amanhã é dezessete e como já vimos é a data de eu ir ao Poupa tempo pegar a minha segunda via do RG. Caso não tenha nenhum compromisso pendente, a única sugestão é montar na bicicleta, não olhar para trás e sair em cicloturismo, pois o que tiver para se resolver, assim será feito, por quem ficou. Qual o motivo de eu explicitar sobre compromisso a ser resolvido, talvez seja, não sei se vocês vão entender,  "enquanto você está na sua casa e não saiu para a aventura, sempre alguém fala: ah faz isso ou faz aquilo" e no próximo parágrafo quero deixar bem claro o que vai acontecer.

 

A minha vontade é intenção era montar minha bicicleta, parar em frente o Poupatempo, pegar o RG, e cair na estrada, mas as coisas não são da maneira que a gente quer e também existem detalhes que a gente faz questão de estar presente.  Do dia dezessete ao dia trinta e um (transformando em pormenores, não viajar no dia vinte e sete e mudar para o dia trinta e um) são três detalhes,  que vem logo a seguir: 

— Um, em casa nós temos cachorros, então se um viaja outro fica para alimentar os "dogs", dia dezesseis a Irene vai levar o Pedro, filho, em Londrina, voltando às aulas em odonto UEL; 

— Dois, dia trinta e um é aniversário da minha sogra e imprescindível que minha esposa deixa de ir, minha sogra Maria José irá fazer 95 de idade. 

— Três, resumindo minha agenda de compromissos, minha filha Juliana está colando grau em Medicina Veterinária.

Após então, como percebe se houver algum compromisso para fevereiro, com certeza estarei longe, porque já no dia primeiro, dou o último retoque na bicicleta que ela está com o selim, banco quebrado, depois destes compromissos, que de antemão digo que eu os fiz com muito prazer, acionarei a tecla única da minha vida "#fui" Samuel pé na estrada ou Samuel pedal na estrada. 

Se você está lendo, é porque tudo aconteceu, e eu mando uns parabéns para mim lá no futuro, nesse momento eu daria meu reino por uma bola de cristal. Estou tão ansioso para sair na minha cicloviagem, pois fiquei sabendo via internet que no dia dois vai ser visível na madrugada e poderei avistar um cometa que passa de cinquenta a cinquenta  anos, C/2022 E3 (ZTF) quero nessa data estar desfrutando de um acampamento,  você está lendo, então aconteceu. Só para encerrar, esse instante que ainda não estou em cicloturismo,  relatar que as minhas aventuras, as viagens, as loucuras do dia a dia na estrada, são apenas um por cento da minha vida, porque 99% são preparativos, sinto maior êxtase em ficar o tempo todo pensando e preparando, mas tudo com o consentimento maior que é de Deus.

 

 

Ontem dia dezessete, fui buscar meu RG, estou muito emocionado, pois agora tenho documento e já posso cair na estrada, porém como já relatei alguns parágrafos atrás existem algumas coisinhas a serem feitas aqui que não vou citar apenas que pretendo sair, ou dia primeiro, ou dia dois no mais tardar. 

Muito entusiasmado com os eventos astronômicos, já falei, mas como é um diário falo de novo, eventos que irão acontecer a partir do dia primeiro de fevereiro no céu do hemisfério sul. Esse cometa visita os entornos da terra de cinquenta mil anos em cinquenta  mil anos e a última vez que ele ficou visível da terra, os nossos habitantes eram os Neandertais, e agora de retorno, não vejo a hora de estar em um camping na natureza para observa-lo, apesar de não parecer, sou apaixonado por esses eventos. Tenho consciência que mesmo estando em loco, na natureza, será difícil registrar, pois meu único aparelho é o celular, como sabemos nenhum celular é capaz de fazer uma boa imagem de um cometa. No entanto, estando em módulo acampamento, registrei a sensação de saborear um evento deste quilate.

E assim encerra meu diário por hoje.

 

 

 

 

 

 

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