Historia final 555
Introdução
O autor desse prefácio, eu Samuel Rodrigues
Carneiro, vejo como uma introdução necessária para que vocês, prezadas e
prezados, possam entender a maneira da composição deste meu livro em forma de
diário. Entendam, comecei a escrever quando estava prestes a sair com a
bicicleta, o meu intuito não era transformar em uma obra literária, desculpem a
presunção, pois não chega a tanto, e sim apenas, um diário de bordo de um
ciclo-viajante, entretanto, logo percebi que estes meus relatos seria importante
para alguém que pretenda fazer uma ciclo-viagem e deseja saber como foi minha
experiência, porque descrevo no exato momento em que acontecem os fatos, tenham
essa obra análoga a um diário de bordo de um viajante de bicicleta.
O que vou falar aqui, principalmente nesse
parágrafo, eu tenho certeza que já deve ter acontecido com vocês. Às vezes a
gente planeja uma aventura em seus pormenores e quando chega o instante exato,
o dia em que estava marcado para sair, algo de inusitado acontece, aquela coisa
bem inesperada que faz com que vocês - como aconteceu comigo, mudar seus
planos. No parágrafo seguinte vou relatar quais foram os infortúnios que tive
que interromper, alterar e outros, então vamos lá.
Tudo programado para sair no dia cinco de
dezembro, eu fazia a contagem regressiva. A bicicleta já está pronta, os
itinerários formados, de nada e por nada iria mudar, ledo engano. Não quero
estender os acontecimentos com pormenores, porque esses detalhamentos estarão
contidos nesta obra. Comecei minha viagem de bicicleta no dia cinco de dezembro
e quando eu já havia passado por Piraju, São Paulo, a uns oitenta quilômetros,
mais ou menos, notei que o meu RG não se encontrava comigo, não sei se perdi,
extraviou, ou o que aconteceu; então resumindo, sem RG fica impossibilitado de
eu prosseguir a viagem de bicicleta e voltei para providenciar a segunda via.
Como era início de dezembro e eu havia
programado essa data para poder chegar ao Cassino em pleno verão, esse
infortúnio então tocou o meu coração de fazer a viagem só no ano de dois mil e
vinte e três e eu curtiria a família nas datas festivas de fim de ano e ano
novo.
Nesse parágrafo, vou tentar fidelizar a abordagem sobre a composição desse
diário, para poderem ler e entender. Como vocês percebem, essa minha aventura,
foi dividida em vários momentos, a pouco eu citei que estava programado a sair
para um determinado dia de dezembro, estando eu em módulo “contagem
regressiva”, naqueles dias antes, escrevi uns maus traçados poemas, poemas de
angústia para o grande dia. Sou assim: estou atribulado, à espera de! Minha
cabeça fervilha com palavras desconexas. Como dizia uma música antiga:
"não sou poeta, sou apenas um ciclista, pois o tema que me inspira é esse
insano rolê no pedal". Logo após os mal delineados poemas, que vão estar
na segunda parte desta obra, literalmente comecei a escrever o meu dia a dia
viajando, entretanto, foi até Piraju.
O parágrafo acima foi apenas para dizer que essa minha obra começa com a viagem
oficial, os pormenores do meu diário de bordo de um viajante de bicicleta,
entretanto não quero furtar de ninguém à possibilidade de ler aquilo que
escrevi antes de sair; o que eu registrei no meu diário antes do dia dois de
fevereiro a data oficial.
— Primeira parte: quando vocês virarem a folha, já vão entrar diretamente na
história a partir do dia dois, de Ourinhos até o Arroio Chuí;
— Segunda parte: começa o conteúdo da minha contagem regressiva antes do dia
cinco de dezembro, que eu poderia dizer que são poemas mais lindos, entretanto
se Luiz Vaz de Camões pudesse ler, com certeza se contorceria no túmulo. As
maltratadas linhas poéticas, não deixem caros leitores, o poeta ouvir isso,
porém as maltratadas linhas, vêm do coração.
— Terceira parte: vai do dia xxx de dezembro, do meu retorno
de Pirajú, até o dia dois de fevereiro.
Tenho dito. Que Deus
abençoe a todos nós, e a academia brasileira de Letras, que me aguardem.
Agradecimentos
Grato ao marronzinho, o parceiro da estrada, nos dias e nas
madrugadas, nunca não, eu estava sozinho. Só não tinha a boca calada, mesmo sem
álcool e sem vinho, como "hablava" esse marronzinho, falava de tudo e
de nada.
Muitas vezes brigava comigo, Caso eu o deixasse na chuva, Quando
eu passava por Garuva, em que busquei um abrigo; Lugar cheio de pé de uva, Ele
brindou comigo, Falou ao pé do meu ouvido: nossa amizade não faz curva
Pensa, o cara é companheiro e irmão muito afável, Marronzinho,
admirável, só que nunca tem dinheiro; mas enfim, muito agradável, sempre puro e
verdadeiro; às Vezes meu conselheiro, às vezes irresponsável.
Capitulo I
MINHA VIAGEM DE BICICLETA
Hoje eu tenho tempo
Na totalidade do meu tempo,
Que importa se no meu rosto bate o vento;
Neste instante não há sofrimento,
Nem também busco nenhum evento,
Caso eu encontrar, eu comento.
Agora é todo meu, o tempo.
Vi pastando ao longe, um jumento,
E eu tenho que ele tem “momentos”;
Eu vi pastando ao longe um jumento,
Eu parei para observar aqui do acostamento,
E ficou somente a brisa do vento.
Hoje é dia 15 de janeiro de 2022.
E como sempre eu digo,
aqui é um diário e tem uma sequência cronológica, então não devo furtar-me de
relatar o que vem acontecendo, pois ainda não estou na estrada. Depois de
amanhã é dezessete e já vimos, é a data de eu ir ao Poupa-tempo pegar a minha
segunda via do RG. Se caso nenhum compromisso pendente, a única sugestão é
montar (montar de subir) na bicicleta, não olhar para trás e sair em ciclo
turismo, pois o que tiver para se resolver será feito na estrada. Qual o motivo
de eu explicitar sobre compromisso a ser resolvido? Eu não sei se vocês vão
entender, talvez seja que enquanto você, no caso eu, está na sua casa e não
saiu para a aventura, sempre alguém fala: ah, desocupado, faz isso ou faz aquilo.
Para situar, hoje é
primeiro de fevereiro de dois mil e vinte e três. Amanhã bem cedo eu vou partir
aqui de Ourinhos, Chavantes, Ribeirão Claro e já preocupado com o local de
dormir, porque fiz uma breve consulta no "Google maps" e não vi posto
nenhum, entretanto, vi naturezas exuberantes, qualquer coisa a gente cai no
mato para o acampamento selvagem, ainda não sei, só o futuro dirá. Hoje são os
preparativos para a partida de amanhã, itinerário? Nunca sei ao certo, é assim
mesmo, totalmente baseado nas incertezas, como sempre falo nos meus vídeos, um
trecho da música de Leandro e Leonardo, "eu não sei para onde vou pode até
não dar em nada".
Inicia-se, a EXPEDIÇÃO Praia do Cassino.
Hoje, dois de fevereiro,
saí bem cedo, era tanta “badulaqueira” que pensei que a bicicleta não ia
aguentar, estava na casa da filha, eu e o genro, nós tomamos algumas
cervejinhas, hoje estou com uma “inhaca” que cheguei até parar antes de chegar
Chavantes. Entrei em uma rua de terra e desmaiei ali por almas horas. Nesse
exato momento, estou parado em baixo da ponte aqui em Chavantes no sentido
Ribeirão Claro, a “inhaca”, mal-estar, já passou, quem sabe foi porque tomei
água com sal, cloreto de magnésio e querosene, chumbo derretido, nem tanto
Samuer. O que fica na vida da gente quando viajamos de bicicleta, é o tempo,
tempo e é aquilo que você tem em demasia.
De Chavantes tomei rumo
a Ribeirão Claro, ledo ilusão que seria só descida - no momento que eu escrevo,
estou próximo de Carlópolis, às vezes me pego escrevendo fora do local que
estou relatando -, só subida, uma descidinha pequena e uma subidinha grande.
Ontem acampei as margens da estrada, um pouco antes de chegar em Ribeirão
Claro, era uma entradinha maneira e dava se para esconder de quem passava na
rua, parei fiz minha comida. Montei a barraca e cai para dentro, a chuva foi a
noite toda, todavia, enfim, noite perfeita. E, o segundo dia, antes de
desmontar a barraca, fiz o meu café, comi os ovos que tinha cozinhado na noite
anterior e fui em direção a Ribeirão Claro para encontrar um posto de gasolina
e dar uma carga no celular, no entanto, o carregador molhou tive que comprar
outro, porém, são detalhes da viagem. Agora pretendo acampar um pouco antes de
chegar Carlópolis, espero que a noite seja maravilhosa igual ontem, apesar de
muita chuva.
Quando eu escolhi passar
por essa região, que vai sentido Ribeirão Claro a Carlópolis, imaginei as
belezas que eu via no “Google maps” é assim que eu faço quando vou traçar um
trecho, uma vez que não conheço a região, então escolho pela beleza panorâmica
e essa é região das águas, de muitas represas, parecia me apetecer, se assim
posso dizer. No entanto, confesso que é muito linda a região, mas é de serras,
subidas intermináveis, descidas nem tantas. Eu sei que o viajante de bicicleta
não pode reclamar desses quesitos, porque sempre vai passar por algo similar,
entretanto essa região de Ribeirão Claro até Carlópolis, ou mesmo antes de
Ribeirão Claro, é como diz o ditado: “é o ó do borogodó”
Já caminhando por algum
tempo, retificando, pedalando; escolhi um local para descanso, quem sabe passar
a noite. Parei perto de uns eucaliptos. Como tinha feito o jantar no ontem e a
metade a estava em um “mine cooler”, então sentei a sombra das árvores e comi,
a comida estava ótima. Tudo indicava que teria uma excelente noite, pois o céu
estava azul, no entanto, do lado de cá da cerca e mesmo assim era bem
escondido, mas do outro lado da cerca, estava verdinho, o gramado de pastoreio
bem lisinho e sonhava eu, em montar a barraca do outro lado, porém o que
respeito são as cercas, se pelo menos os proprietários aparecessem por ali eu o
solicitaria as permissões, entretanto, nada que fosse inviável (do lado de cá
da cerca) nos eucaliptos, então decidi montar minha rede. A noite parecia ser maravilhosa,
pois o dia estava ensolarado. Montei a rede por volta das 19h00min, porque
percebi que depois de uns trinta minutos começaria escurecer, segundo
informação da internet. Coloquei a lona de cobertura, só por encargo de
consciência, já que, em minha mente, nada ia acontecer, não ia cair uma gota
d'água de chuva. O imprevisto, estava cochilando e as 19h40min começou um
temporal, parecia o ciclone Catrina. A lona não estava tão segura, eu não
achava ser necessário prendê-la. Vento batia que parecia que iria arrancar as
árvores. Eu imaginava naquele instante que estivesse no centro de um pesadelo.
Julgava que dessa noite não passaria. Teria que tirar a lona, se enrolar nela e
sentar em algum canto. Passou pela minha cabeça várias coisas no momento. Encarei
a realidade; levantei no meio da chuva, um temporal que parecia estar na
Flórida; amarrei as lonas de acordo arrastando a para baixo para me proteger
dos ventos; fixei outro canto e amarrei mais para cima a rede, tudo embaixo de
chuva e mesmo após parar a chuva, ouvindo esporadicamente os ventos. O temporal
continuou a noite toda; entanto eu sou xucro, coloquei sacos de ração no pé;
blusa de frio e a capa que tenho de chuva, tipo aquelas que motoqueiros usam;
estava meio úmida, mas o peito estava seco, as mãos estavam frias, porém
colocava no meio das pernas e o pé gelado, no entanto, nem muito, pois estava
dentro do saco de ração e assim dormir a noite toda. No outro dia. Acordei bem
cedo, ao clarear o dia, o tempo já tinha parado um pouco aquela insanidade
quando foi verificar os rescaldos. A bicicleta fora jogada no chão, apesar de
estar bem encostada na árvore. Tudo estava revirado, então juntei os cacos, os
rescaldos, fiz uma varrição para ver se não havia extraviado nada, montei a
bicicleta e caiu na estrada.
Nada de novo nesse
diário, a estrada continuava aquelas grandes subidas e mine descidas, mas para
minha alegria o que mais tinha nesse itinerário, eram as goiabeiras. A
preocupação maior era não ter feito ainda o café, porém seguia meu trecho.
Muito difícil parar em algum canto para fazer, porque não tinha nenhum espaço
(ou muito vento, ou falta de um local propício) e acabei não fazendo,
entretanto, pois sem meu cafezinho não sou ninguém, no entanto, goiaba, era o
que não faltava e cheguei até juntar algumas para vir comendo.
O celular estava zerado,
então parei em um pequeno patrimônio, ou um pequeno povoado e em uma pequena
venda e dei uma carga, aproveitando para um de jejum de um bolinho de carne e
uma Coca-Cola, ambos estavam perfeitos. Depois da pequena carga, segui meu
trecho e vim parar aqui, (escrevo a palavra aqui, pois significa que é de onde
estou escrevendo) no posto de gasolina antes da saída de Carlópolis. Antes de
prosseguir a viagem, eu parei antes no mercado e comprei um Gatorade. Não posso
esquecer que ainda tinha goiabas na bicicleta e acabei comendo, eu iria até
comprar uma marmita, mas não estava com muita vontade e dentro da barraca eu
comi um miojo cru como se fosse um biscoito. Montei a barraca no fundo do posto
por autorização do dono e agora aguardo para sair amanhã cedo, mas antes de
sair quero certificar que o celular tenha pelo menos cem por cento de bateria.
Saindo de Carlópolis
A noite foi bem
tranquila no posto em Carlópolis, acordei cedo demais, quando isso acontece, a
gente volta dormir de novo, simples assim. Tendo em vista que o posto não era
vinte e quatro horas e sim com horário normal de expediente, então não daria
para fazer nada, nem carregar o celular. O dia começou a clarear no horizonte,
então montei minha bagagem, carreguei o celular e cai na estrada. Já não era
mais aquelas “subidonas e descidonas”, aclives e declives acentuados, de
Ribeirão Claro até Carlópolis, porém de vez em sempre, as subidas não muito
íngremes, mas intermináveis, não resmunga, viajar de bike é isso.
Acredito ser época de
colheita da goiaba, pois estava eu encostado em uma sombra e passou um caminhão
carregado de goiaba, parou para conversar comigo. As pessoas têm muita
curiosidade. Perguntou para onde ia, de onde vinha, o que estou fazendo, o que
levo; foi uma investigação total, mas no final me deu três goiabas gigantes.
Tem-se uma coisa que gosto na estrada é conversar.
A viagem não foi muito
cansativa, pois há trinta e dois quilômetros à frente, cheguei a mais um Postos
ProTork e agora cedo aguardando o celular carregar, essa correria tem que se
fazer direto, ficar sem carga no meio do caminho não é nada legal porque além
de fazer esse diário, ainda faço os vídeos do "YouTube" e
"Instagram"
Ontem eu saí do posto
próximo a Joaquim Távora, que por sinal um ProTork, aqui no Paraná estão de
parabéns e o pedal rendeu uns trinta e dois quilômetros mais ou menos, eu sei
que muitos devem estar se perguntando, por que tão pouco? É a estrada que não
ajuda, além de ser apenas subidas e descidas intermináveis, também péssimo
acostamento, por incrível que pareça a gente tem que disputar a pista com os
caminhões, tanto é que estou aqui verificando o próximo posto e está a quarenta
e nove quilômetros, mas infelizmente, acredito que não vai dar, uma vez que,
conversando com caminhoneiros aqui no posto Cristo Reis, que dormir essa noite,
eles dizem que ainda continua as longas subidas e as pequenas descidas; como eu
sempre digo, eu não tenho pressa de chegar, porque sei que quando lá estiver,
vou querer voltar.
O posto que eu estou,
sua razão social é: Cristo Reis II, é um pouco antes de Wenceslau Brás, um
lugar gostoso, tive boa noite de sono, foi bem receptivo para montar minha
barraca, cafezinho, wi-fi, e mais algumas coisas; principalmente, totalmente
grátis e mais alguma coisa. Nesse instante, dou uma carga no celular para sair
no mínimo há quase cem por cento, já subi um vídeo para o YouTube, vou me
suprir de água, porque não sei onde vou dormir, tudo está improvável,
possivelmente dormirei no mato, acampamento na natureza, no entanto, como eu
digo, o futuro pertence a Deus e não a mim.
Sobre ontem, na saída do
posto Cristo Reis II, antes de chegar a Wenceslau Brás, eu sabia que a
distância entre um posto de combustível da estrada e outro, era um pouco
grande, não que fosse algo impossível, pois era quarenta e nove quilômetros A
estrada nessa região não colabora, sendo extremamente redundantes, imensas
subidas, imensas descidas e muitos locais a gente tem que descer da bicicleta, mesmo
na descida, mas por quê? Acostamentos não prestam. Preparei me, para quem sabe,
acampar, levei bastante água, deixei o celular bem carregado e fui para a
estrada, no entanto, conclui os quarenta e nove quilômetros.
Já no Auto Posto Hulk em
Arapoti, Paraná, foi ótimo para acampar, pois me forneceram um local coberto
para colocar a barraca, no entanto, o posto que é dentro de cidade. As
diferenças entre os postos nas estradas e aquele que são dentro da cidade, são
as pessoas que ficam por ali e a gente não dorme muito sossegado, por isso eu
prefiro posto de gasolina nas estradas. O Auto Posto Hulk não tinha café, só no
restaurante ao lado, o carregador era uma dificuldade, porque não tinha tomada
de energia do lado de fora, então tinha que deixar o celular lá dentro
carregando. Desta forma não aprecio muito, no entanto, não havia percebido que
na outra saída da cidade tinha outro posto, então o que fiz logo de manhã cedo?
Peguei meu celular, fui até a saída da cidade do outro lado, parei por uns
instantes, carreguei o celular, o café era cortesia, tomei duas xícaras e
peguei a estrada. As horas? Nove da manhã, mais ou menos, eu tenho que parar em
algum canto para poder passar o protetor solar e arrumar bicicleta em geral.
Avistei um restaurante
de estrada, encostei minha bicicleta e reparei que tinha banheiro, havia uma
moça humilde limpando, peguei minhas panelinhas sujas e perguntei para ela:
posso levar ali no banheiro, ela autorizou. Dei aquela enrolada básica, puxei
algumas conversas e voltei para acabar de fazer o que eu tinha a fazer. Ela me
ofereceu café, de forma brincalhona, eu disse: se for de graça eu quero. Peguei
o cafezinho e ela perguntou-me se eu não queria um pãozinho, balancei a cabeça
na afirmativa que sim, aguardei humildemente do lado de fora, quando ela me
trouxe dois lanches de muçarela; conclusão, a estrada é terrível, mas existem
pessoas boas, no entanto, na ciclo viagem a gente não tem muito o que escolher,
é encarar as dificuldades, e como diz o ditado: bola para frente, ou assim
dizia o saudoso Ricardo Boechat: toca o barco.
Reflexão deste momento
que pedalo a brisa dos ventos e o sol no meio céu. Hoje eu tenho tempo, hoje eu
tenho todo tempo, que me importa se no meu rosto bate o vento; hoje não há
sofrimento, hoje eu não busco nenhum evento, mas se eu encontrar eu comento;
hoje eu tenho o tempo e eu vi pastando ao longe um jumento, eu tenho que ele
tem e é um rebento, parei para observar ló aqui do acostamento e a brisa do
vento.
Piraí do Sul
A caminho de Piraí do
Sul, entrei na cidade para ver se encontrava um selante para roda da bicicleta,
selante é um líquido que se coloca dentro da câmera do pneu para quando furar
ele vedar, no entanto, a bicicletaria não tinha. Seguir em frente até o Auto
Posto Ipirangão, como toda sorte pouco é bobagem, meu primeiro furo de pneu;
não é novidades, a única novidade é a minha pressa de chegar ao Posto. Reparos
do pneu sanado e no Ipirangão aproveitei para fazer alguns outros consertos na
bicicleta, o dia estava lindo e maravilhoso, esse Posto que cito, o Ipirangão,
uns dez quilômetros a frente de Piraí do Sul.
Estava eu consertando a
bicicleta e eis que chegou outro viajante de bike, então preparamos tudo para
montar barraca, entretanto, quando estamos no posto, gostamos de colocar as
barracas quando começa anoitecer. Ainda era dia, final de tarde e antes de
montar a barraca eu consegui duas marmitas, de graça no restaurante e decidimos
comer antes de tomar banho. Inesperadamente, começou a chover e não parava
mais, já estava dando onze horas, até que decidimos montar a barraca, mesmo
molhados, cada um em um canto, e assim fora a noite. No dia seguinte, algumas
quilometragens à frente, no restaurante Meneguelli, acampamos em uma cobertura
e as coisas começaram a melhorar. De quando nós estávamos, estávamos por quê?
Agora são dois? Sim, lá no posto ipirangão no dia anterior, eu e Laudenir
Rodrigues vamos fazer o pedal juntos por alguns dias, ou até Curitiba, o
restaurante Meneguelli também é posto de combustível, já se passaram dois dias.
Abóbora na rodovia
Ao sair do Posto O Cupim
Panorâmico em Ponta Grossa, Paraná, a caminho de Campo Largo, na beira da
estrada devido quedas de sementes dos caminhões ou outros motivos, havia vários
pés de abóboras e também de milho, sabemos que são sementes que germinam
naturalmente, encontramos várias abóboras do tipo cabotiá, novinha e com
certeza ira fazer parte do cardápio do jantar de hoje. Eu e o Laudenir fizemos
um ótimo jantar, cada um cozinhando sua parte, mas em comum uma cabotiá.
Terceiro Ciclo viajante
Quando acampamos no
posto faltando cinco quilômetros para chegar em Curitiba, à noite apareceu o
outro ciclo viajante que vinha de outros destinos. Nas estradas encontramos
vários viajantes de bicicleta, pois é uma modalidade que parece estar fazendo
sucesso.
De Curitiba em diante, o
parceiro Laudenir Rodrigues, tomou seu destino sentido Santa Catarina e eu
adentrei a cidade de Curitiba para encontrar uma bicicletaria e fazer os
devidos reparos na bike. A cidade de Curitiba é enorme, no entanto, não me
amedrontou e a cortei de fora afora porque o meu destino era fazer a Estrada da
Graciosa, Rodovia PR-410. Até chegar a esta esplêndida Estrada, eu ainda
haveria de pernoitar em dois postos de combustíveis, no entanto, não quero aqui
estar relatando o passo a passo para não ser redundante.
Descer a estrada da
graciosa é uma sensação incrível e perigosa, mas é linda! Também muito íngreme
e meus freios estava falhando, por isso fiz aqueles reparos em Curitiba. São
aproximadamente dezesseis quilômetros de paralelepípedo escorregadio que mais
parece um sabão, na parte de asfalto é tranquilo.
A Graciosa foi apenas
uma etapa nesse transcorrer da viagem com descidas íngremes e a frente, já não,
não tão íngremes com o antes, a cidade de Morretes, Paraná, uma continuação do
que vimos por toda a extensão da Graciosa, lindas paisagens e belos momentos
para o pedal. Em Morretes eu parei para poder colocar o selantes no pneu da
bike, porque em Piraí do Sul não houve possibilidades, a bicicletaria não tinha
esse produto.
Um dia antes de
direcionar-me a cidade de Matinhos, litoral paranaense, eu pernoitei em um
posto de gasolina que não era vinte quatro horas e só para no outro dia fazer o
trecho. Agora na cidade litorânea, descendo a serra, desde a Graciosa, sem
nenhuma subida. Atravessei de barcaça para Guaratuba e ficarei no "Camping
Municipal de Guaratuba".
A ciclo-viagem é algo
que a gente não pode por expectativa em nada, a cada instante uma mudança de
itinerário, de humor, de tudo, mas o que encanta é isso, nada é certo, tudo é
duvidoso, todos os destinos podem ser alterados e toda a história pode ser
reescrita só não esse meu diário, pois quero seguir a originalidade do que
acontece.
Nesta minha cicloviajem,
eu tento ser um polivalente, edito vídeos e envio para internet, escrevo o
livro em forma desse diário, às vezes dá um parafuso em minha cabeça; perco-me
nas edições, atraso os envios dos vídeos, faço confusão até com os meus
próprios conteúdos; e com relação ao livro que escrevo, nem sei qual página
parei. Entretanto, o legal é que nada como uma barraca montada oito horas da
noite e todo o tempo para pensar no assunto.
Faltando um pouquinho no
tempo, um dia ou dois. Hoje, dezoito de fevereiro, carnaval, sábado, resumo de
ontem: acampei em um posto de gasolina próximo de Morretes, Paraná. Quando a
caminho, ainda da cidade de Matinhos, em que fazia um café na beira da estrada,
fui informado que havia esse camping aqui na cidade de Guaratuba, apesar de que
era um pedal meio puxado em distância, o itinerário basicamente formado por
declive.
Agora na cidade de
Guaratuba, com suas belas praias, fui até o camping e a minha primeira
impressão foi das melhores, aparentemente sem muitas informações eu digo que é
um camping excelente. Procurei um lugar ótimo no gramado, montei a barraca e
saí para um “role”, não muito insano, até a praia para dar aquele mergulho
merecido. Como eu estava meio careta, passei no mercado e comprei duas latinhas
de Brahma, só para dar um grau e ver o mar com outros olhos, também banhar no
oceano. No mercado da cidade comprei mais alguns itens para o jantar. Na volta
para o camping, comprei, de novo, é claro, mais duas latinhas e foi o
suficiente para eu chegar fazer minha comida.
A noite estava perfeita,
no entanto, o imprevisível aconteceu, caiu um dilúvio, não literalmente
falando, choveu a noite toda. O problema maior não é a estabilidade da barraca
quanto a chuva, ela aguenta muito, é, sim, o local onde eu a coloquei que
formou uma lagoa. As minhas roupas estavam todas molhadas e só tinha um calção
seco, então tive que ficar pelado dentro da barraca para não molhar o calção,
até que eu pudesse sair e procurar um lugar coberto para estender meu isolante
térmico e acabar a noite e assim terminou o transtorno maravilhoso da minha
noite no camping.
No outro dia, pretendo
ficar mais um dia aqui no camping municipal de Guaratuba, tenho que lavar
minhas roupas. Mudei o local da barraca e coloquei no ponto coberto, inclusive
esse ponto, nem era permitido, mas caso excepcional, não que eles autorizaram,
porém, mudei para passar a noite, se pedir para desmontar eu desmonto. Mesmo
sendo um maluco, sou a favor da lei e da ordem, para mim as coisas são assim,
ou elas podem, ou não. Nesse exato momento em que escrevo, são nove horas e
vinte minutos, estou indo ao mercado comprar um sabão para lavar as roupas, se
vou comprar uma latinha de cerveja? Está na lei.
Os perrengues no
cicloturismo, apesar de a primeira vista ser uma coisa ruim, é a parte melhor,
é aquilo que mais vamos lembrar quando retornar: chuva em excesso, ou a
ausência dela; postos de combustíveis que não permitem acampar, ou tem um
barulho fora do comum quando estamos dentro da barraca; durante o dia a
dificuldade de cozinhar na beira da pista, pois o vento é interminável, ainda o
vácuo de ar dos caminhões; pneu que fura embaixo de uma tempestade e tem que
desmontar tudo a sua bagagem; eu poderia enumerar uma centena de itens,
entretanto, estes os perrengues no momento são os melhores.
Deste ponto do livro em
diante, vou alternar levemente a maneira de descrever essa “Expedição Praia do
Cassino”. O motivo que me levou a tal decisão é que eu vinha descrevendo,
diariamente, “in loco”, semelhantemente a um diário com por menores dos
acontecimentos de cada momento. Eu sei que o cicloturismo é dinâmico e a cada
instante acontecem novos eventos. Vou tentar modificar agora, não escrever o
passo a passo do meu dia, pois, sim, as lembranças do que aconteceu, para
aperfeiçoar e simplificar os fatos. A história relatada aqui será em formato de
lembranças de quem passou por lá, análogo a um escritor que confortavelmente
escreve em um teclado de um computador numa página de “Word”, entretanto
pretendo ser fiel aos acontecimentos, ou se bons, ou se ruins, pois aqui não é
uma obra de ficção. Vou começar os meus relatos, que ainda estão fresco em
minha memória por Guaratuba, PR, passando por Garuva, SC e até o famigerado, no
bom sentido é lógico, do guarda do posto de combustível que não permitiu eu
montar minha barraca, então não pernoitei e sim sentei próximo às bombas de
combustível e passeia a noite.
Em uma nova forma de
escrever, eu sentado no conforto do meu quarto tem um note book a minha frente,
descrevo o que aconteceu a partir de Guaratuba, não é mais um diário escrito no
momento. Nem preciso abalizar a beleza que é o Camping Municipal de Guaratuba,
quando eu digo beleza, quero dizer um lugar excepcional; entretanto, achei um
pouco caro, não sei se era porque eu me hospedei em pleno carnaval, época de
temporada ou se o preço é realmente tabelado o ano todo. Eu passei dois dias
lá. Sobre minha estadia, foi perfeita, talvez possa alguém ter passado por esse
camping que não tenha essa mesma visão que eu tenho, mas, para uma pessoa que
dorme em posto de gasolina, qualquer ranchinho é um “Taj Mahal”.
Saí bem cedinho do
camping em direção a Garuva, SC, ainda sem ter conhecimento das condições das
estradas, não fazia nem ideia do que me esperava, quando eu digo condições das
estradas, quero dizer sobre aclives e declives, ou simplificando subidas e
descidas, pode até parecer que não, mas é o que mais preocupa o viajante de
bicicleta, porque chuva e sol, ou qualquer condições climáticas que não seja
granizo, aí nem tanto, não é! Para o viajante de bicicleta não importa, apesar
que eu tenho uma predileção por chuva, mesmo assim levo uma capa.
A minha preocupação com
as condições das estradas, resumia se em sumidas e descidas, sendo repetitivo,
no entanto, não posso me furtar em abordar tal fato; me enganei principalmente
até Garuva, SC. Saindo de Guaratuba, basicamente adentrando no início de Santa
Catarina, enfatizo que quem vai sentido ao sul, se houver alguma subida, é
elevação isolada, ou inexistente. Já dando um “spoiler” “até o fim da Expedição
Praia do Cassino, não teve mais subidas”, e fico imaginando o viajante de
bicicleta que faz o sentido oposto, quer dizer, vem do sul para o norte, na
lógica que, se por analogia: foi só descida para mim, então para quem vem não
necessita aqui relatar.
Como dizia minha mãe: o
tempo estava meio brusco, o seu significado é: tempo fechado, um chove não
chove. Ao viajar de bike, a gente pensa que o tempo, ou a climatologia da terra
se importa com o mero insignificante viajante de bicicleta pelas estradas deste
Brasil ou do mundo e tudo resume em: “é porque estou pedalando”; se faz sol, é
porque estou na bicicleta; se para de chover, é para me castigar; E aí mora
arrogância de um indivíduo, as condições atmosféricas, ou as condições
climáticas ignoram tudo e todos, nem para esse viajante de bicicleta, nem tanto
quanto o agricultor, ou aquela pessoa que construiu sua casa em uma encosta com
perigo de deslizamento; e assim eu ficava num longo discurso, ("de mim
para eu mesmo", não sei se gramaticamente é correto assim que se escreve
mas era o retrato da minha guerra interior) numa eterna batalha naval com a
chuva ou a não chuva. Quando colocava a capa de chuva, parava de chover, quando
tirava, começava a chover, nem tudo está perdido e no final entramos num
acordo. Coloquei a capa de chuva e disse ao tempo: quer chover, chove, (cai
alho, porque não falo palavrão) não quer chover, não chove, e ainda cantarolava
Guilherme Arantes, “deixa chover, deixa a chuva molhar, dentro do peito tem um
fogo ardendo e nada nunca vai se apagar”.
E digo: os perrengues do
viajante de bicicleta devem ser aceito com bom humor e alegria, porque é só
disso que vai lembrar depois que terminar a viagem, nada mais vai importar. O
chover, ou não chover, essas e outras situações que não posso mudar,
acompanhou-me em quase o meu itinerário, e mais no final eu irei expor como
resolver. Perrengues e bônus, com certeza fiz a minha viagem na temporada das
goiabas maduras.
Em Guaratuba, ontem,
para explicitar esse próximo assunto, eu havia ido ao mercado e comprado meio
quilo de bisteca de porco, já ciente que ia fazer a janta de ontem para sobrar
para o almoço de hoje. Na noite de ontem temperei as bistecas e hoje pela
manhã, antes de sair do camping, eu as fritei e coloquei um pouco de água
cozinhando até secar, porque é a única forma de trazer essas carnes sem
estragar, trazê-la pré-cozinhada. Agora nesse exato instante que escrevo, no
posto que vou pernoitar, peguei minha caneca com as carnes, coloquei dois
miojos, e uma particularidade aqui do Sul, é que todos os postos têm água
quente, pois é muito apreciado a quem usa chimarrão, entretanto para mim, eu
uso a água quente para fazer meu miojo e agora é com bisteca de porco já
pré-frita, pré-cozinhada e muito deliciosa, além dessas utilidades, podemos
dizer que se você tiver um pacotinho de café solúvel, tem se um cafezinho sem
muito trabalho.
Após jantar o macarrão
com bisteca e me sentindo satisfeito, passei a noite no posto. Alguns
perrengues aconteceram ao ser o único posto de gasolina que não fui autorizado
a montar barraca. No momento que cheguei, já fui informado pelo segurança que
não tinha essa autorização, no entanto, havia permissão de pernoitar na
marquise do restaurante ao lado do posto, quando fui até o local onde eu
poderia pernoitar com a minha barraca, encontrei dois indivíduos que para mim
não gerava confiança, então preferir ficar no posto mesmo sem montar a barraca.
Sobre ontem, eu sei que
nem um posto é obrigado permitir que a gente possa pernoitar, no entanto, eu
acho que, deixando bem claro que a minha opinião - é uma maldade, um viajante
de bicicleta carregado de tralha, não poder montar uma barraca num canto
qualquer, sendo que esse viajante não é nenhum marginal, usuário de drogas,
arruaceiro e nem ninguém que quer ficar aprontando ali, apenas quer pernoitar.
Já disse e volto a enfatizar: sentado ali na frente do posto, num canto
qualquer sem atrapalhar ninguém, isso eles não podem impedir, então se não me
permite montar barraca, não monto, fico a noite cochilando sentado. Entretanto,
devo dizer a quem pretende pegar estrada e viajar de bicicleta, acampando em
postos de combustíveis na estrada, isso é um fato raríssimo, digamos um em cem.
Desde que sair do posto
onde os seguranças eram maldosos (apenas um humor), cheguei cedo ao próximo
posto na estrada. Estou em Santa Catarina a uns dois dias. O posto Ipiranga,
que vou passar novamente à noite, no ano passado já havia acampado nele. Na
viagem de bicicleta ou cicloturismo as coisas funcionam mais ou menos assim,
uns dias chovem e outros dias fazem sol, uns dias você come, outros dias passa
fome, uns dias pega perrengue em postos, outros dias é semelhante a Taj Mahal.
A vida do estradeiro de bike é análogo a uma roda gigante e a cada noventa e
nove vezes que está lá em cima, uma vez em embaixo, infelizmente quando termina
a viagem a gente apenas lembra-se daquela vez que esteve em baixo. Então a
realidade é, nas dificuldades, dar risada das mazelas, essa é a magia do viajar
de bicicleta. Outra sensação que temos é que durante o dia, quando pedalamos,
ficamos imaginando onde vamos pernoitar, mas eu costumo dizer o seguinte: Deus
proverá e até hoje sempre proveu. No posto que agora estou, cheguei cedo, local
onde vou pernoitar é uma marquise, no entanto, é coberto e já fiz um propósito
comigo, todas às vezes que for pernoitar em local coberto e não tiver
pernilongo, apenas utilizarei do isolante térmico e travesseiro inflável.
Cheguei cedo e sentir
vontade de comer algo com sal, por isso carrego alguns miojos, raramente eu
janto miojo ou almoço, ocasionalmente, apenas faço uma boquinha. Os postos de
gasolina, principalmente aqui na região sul, quase todos eles têm máquinas de
água quente a uma temperatura de quase cem graus, então facilita a vida, é só
colocar o miojo na panela a água quente e deixar cozinhar naturalmente. Do que
falei aqui sobre não montar barraca, apenas colocar isolante térmico, coberta e
travesseiro, fazer um miojo logo cedo; é que vou passar o dia inteirinho no
posto, eu cheguei às 10:00 da manhã e vou ficar até ao anoitecer para arrumar o
“cafofo” o cantinho de dormir. Fatos de hoje
Na cicloviagem sempre
temos uma dúvida sobre amanhã, como a letra da música de Leandro e Leonardo: eu
não sei para onde vou, pode até não dar em nada, minha vida segue o sol no
horizonte dessa estrada e não nego, na cicloviagem o que mais temos é horizonte
na estrada; esse horizonte é diferente, pois sempre estamos observando e nunca
termina, entretanto, sempre mudando o seu formato, às vezes montanhas,
pradarias, colinas, ou às vezes apenas a estrada que some no final da abóbada
terrestre e não levando a lugar nenhum. A gente sente de tudo, todavia única
coisa que não sentimos é a tal da depressão. Talvez eu esteja - análogo aos
dizeres populares -, enchendo linguiça, entretanto, a verdade é, tudo que falo
aqui, é a sensação de um ciclo viajante.
Onde estou agora no
contesto deste maravilhoso Estado de Santa Catarina? Acredito estar a uns
oitenta ou noventa quilômetros do Balneário Camboriú, na estrada existe uma
dificuldade de sabermos qual cidade que é, porém, isso, talvez não importe
nesse exato momento e sim o caminho que fazemos. Ao bem da verdade, entretanto,
a minha verdade, além de não sabermos a cidade que estamos, muitas outras
coisas, não sabemos quando estamos ciclo viajando, como, por exemplo, o dia que
é hoje, tanto do mês como da semana; a hora exata, se não pegarmos o celular
para olhar; o que anda acontecendo de notícia no meu estado, no meu país e no
mundo, também é claro se não entrarmos no “Twitter” ou sites de notícias, o
cicloviajante acaba se desligando. Também raramente ficamos sabendo do que está
acontecendo em sua casa, de uma coisa eu sei, se ninguém se comunica é porque
não aconteceu nada de ruim e é vida que segue. Esse tipo de viagem, de
bicicleta, faz com que a pessoa se desligue um pouco do mundo real. Tudo
isso que ponderei, foi apenas para dizer que eu não sei a cidade que estou e a
única informação é, transformando-me numa redundância, estou há uns noventa
quilômetros do Balneário Camboriú e cinquenta e cinco de Itajaí.
Algo que percebi é que
às vezes eu estou aqui escrevendo e relatando sobre a minha viagem de bicicleta
e o leitor não faz ideia de onde estou, então entendo que de agora para diante,
principalmente quando eu lembrar, vou situar a minha localidade. Nesse momento
em que eu saio desse posto de combustível e dormir igual uma criança sonolenta,
a noite toda sob a marquise e sem montar barraca, já abordei esse quesito
anteriormente, estou partindo por essa Br101 sem fim, que quem me observa,
percebe uma bicicleta gigantesca e cheia de tralhas, porém devo informar que
nada do que levo é tão pesado assim, o bauleto que é um plástico duro e não
pesa nada, o mais pesado talvez seja a barraca dois quilos e setecentos gramas,
que é enorme. A minha localidade de hoje, outra vez não sei o nome da cidade,
no entanto, tenho noção que estou a cinquenta e cinco quilômetros de Itajaí,
sentido Balneário, mas hoje vou passar, antes de Itajaí, por Barra velha. Eu
não faço muito ideia do meu itinerário por já ter passado por aqui no ano
passado, a única coisa que sei é que não existe distância, se dez quilômetros,
se vinte, ou se quarenta, quem sabe mais de cinquenta, o meu dia é comandado
pelo nascer e pôr do sol e assim o viajante de bicicleta segue seu caminho,
preocupações, não! Nem com alimentos, nem com o sol que arde na cabeça ou se
vier chuva. Para se alimentar na estrada, tenho algumas opções: a primeira é
parar e cozinhar o meu macarrão com massa de tomate e alguns pedacinhos de
linguiça que a gente vem comprando ou ganhando; segunda é parar em um
restaurante de estrada, a possibilidade de eles fornecerem comida é de noventa
por cento e gratuitamente. Aí então as pessoas ficam imaginando o que é comer
gratuitamente, pois eu digo: quando você olha para um ciclo viajante na estrada,
o estereótipo que você vê é uma pessoa cansada, barbuda, cabeluda e as roupas
meio surrada, esse é o pré-requisito. Aí alguém irá dizer: não entendi para que
esse pré-requisito, eu vou tentar explicar, pois nas minhas escritas, não quero
negligenciar nada do que acontece: você para a bicicleta onde pode visualizar,
adentra o estabelecimento de uma forma bem humilde e pergunta para a moça do
caixa: vocês não forneceriam um pouco de comida, e a informa que está viajando
de bicicleta, pois esta é a senha, com certeza você vai sair dali com uma bela
marmita. Entretanto, eu oriento sempre a descrição, chega fala baixo e aguarda
lá fora, também evitar restaurantes pequenos e sem freguesia, porque aí é
difícil. Garanto que até hoje, todos os lugares que cheguei, eu comi e algumas
vezes nem pedi, apenas parei para tomar uma água gelada ou pegar um pouquinho
de wi-fi ou dar uma carga no celular e a pessoa me ofereceu. Quando você diz,
vocês não forneceriam um pouco de comida, estou viajando na estrada, você pode
ser rico, ter dinheiro, entretanto não está mentindo solicitando um pouco de
comida e está viajando na estrada, porque ambos os fatos são verdadeiros, caso
houver uma recusa ou qualquer outra situação, usem aquele trecho da Bíblia:
Vire as costas, bata o pó da sandália e vai embora, porem, tal o fato não
aconteceu comigo e apesar de ter desviado um pouco do assunto sobre a
localidade, voltamos para o próximo parágrafo no tema original.
Quando eu passei em
Barra Velha, na rodovia e loja Havan a minha frente, a Estátua da Liberdade,
deu-me uma sensação de estar em Nova York, apesar de gostar mais deste lugar,
Barra Velha do que aquela cidade norte-americana. Acredito que essa estátua com
seu nome, a “Liberdade”, representa um pouco o que é a vida de um viajante de
bicicleta, A tal a liberdade. Sintetizando, eu digo o que entendo por
liberdade, não só o viajante de bicicleta, como também qualquer outra prática
de aventura, ou seja, do que for. Liberdade é você ir até onde quiser e até o
momento que quiser, caso não quiser, voltar; como diz a constituição, o direito
de ir, vir e permanecer e eu ainda acrescento o voltar. A liberdade é uma
essência única que habita o seu universo, não digo para que você não tenha
respeito com os compromissos, pois a liberdade vem com responsabilidades. Nós
somos seres únicos, nascemos sozinhos e morreremos também sozinhos, o que fica
nesse intervalo é a vida, os compromissos, o direito de você fazer o que
quiser, desde que não prejudique terceiros.
Encerrando o hoje, mais
um posto de gasolina com o local coberto, diferentemente do posto anterior,
nesse vou montar a barraca porque percebi alguns pernilongos e amanhã saio
daqui cedinho, se assim Deus permitir para chegar à cidade de Balneário
Camboriú.
Esse posto, igualmente
ao anterior em que dormir na marquise, na outra vez que fiz esta cicloviagem eu
fiquei nele, (Expedição Serras Catarinense - 2022), para mim está facilitando,
pois é só parar naqueles postos que parei há um ano. Não estou tão longe de
Camboriú e lá com certeza vou ficar no camping em que fiquei o ano passado,
tudo é assim, como se fosse uma repetição, porém facilita a vida. O camping da
Chapecoense é ao lado da torre onde o proprietário é o menino Ney, o ano
passado ele me ligou e pediu para que eu subisse até lá nas alturas, entretanto
não quis e hoje, ele sabendo que estou chegando disse-me que vai me aguardar;
apenas uma fake News, não pode perder o senso de humor, amanhã saio bem cedo
Camping chapecoense.
Ontem eu deixei bem
claro que o posto de gasolina fora o meu local de acampamento e ao lado do
posto existe um hotel elegante, com hidromassagem personalizada, restaurante
gourmet, sauna e piscina no quarto, todavia não quis pernoitar nesse hotel
porque acampar no posto é o máximo, antes de vocês acreditarem, já volto com a
redundância repetitiva de uma fake News, não nego! O posto é extraordinário. O
senso de humor na estrada é elevadíssimo, talvez por não ter ninguém para a
gente compartilhar um bate-papo ou uma piada, a gente brinca conosco mesmo,
parece até um pouco estranho, mas assim sou eu na estrada. Converso comigo e
respondo a mim, discuto comigo e às vezes até brigo comigo; também, conto piada
para mim, essa é a história de eu ficar no hotel, é lógico que se fosse de
graça eu não rejeitaria.
“Antes de eu entrar no
assunto que é o tema central destes livros, viajar de bicicleta” vou relatar
uns por menores de como tomo minhas decisões. Eu sei que realmente é estranho,
entretanto eu converso comigo, tomando minhas decisões e até dando bronca em mim,
todavia, eu não sei qual é o eu verdadeiro, ou eu interlocutor na segunda
pessoa, ou se existe essa tal segunda pessoa. Um pequeno exemplo, eu digo para
mim uma situação hipotética: vou entrar ali e respondo para mim, não sabendo se
esse eu, ou é a segunda pessoa, ou a terceira, ou quarta. Respondo assim: Mas
será que vale a pena entrar ali, e até falo meu nome, mas com pseudônimo de
“Somewhere”-, mas será que vale a pena entrar ali “Somewhere”; e, o outro eu
rebate: ah sim “Somewhere”, ah sim “Somewhere”, deve valer a pena. Depois de um
diálogo prolongado, eu comigo mesmo e eu, então, tomo as decisões cabíveis. Só
mais um pormenor, às vezes nesse diálogo eu brigo comigo, eu xingo, mostro o
dedo do meio e mando tomar naquele lugar, porém no final de tudo, estou bem.
Parece estranho, não é? É assim que funciona e nem por isso me considero uma
pessoa com insanidade, apenas o meu role que é insano.
A minha localidade atual
é Itajaí, uns vinte e cinco quilômetros do Balneário Camboriú. A viagem está
ótima, o pedal se desenvolve de forma deliciosa, os pneus não furaram mais após
a intervenção com selante para tampar os pequenos furos que aconteçam, e chuva?
Choveu ontem, anteontem e vinha chovendo já uns três ou quatro dias. Na manhã
de hoje começou chovendo, às vezes prefiro, porque apesar de molhar tudo, é
refrescante, portanto agora, por volta de nove horas, o sol surge no horizonte.
Eu estava com muitas saudades do astro-rei, quando o vi, senti uma felicidade
imensa, mas sei também que mais tarde ele vai esturricar minha cabeça. Quem
dera se o dia todo fosse igual o amanhecer, aquele solzinho no leste, bem
apático, cor de cúrcuma, açafrão-da-terra, no entanto, aquecendo o corpo de
forma sutil. Quem dera se o dia todo fosse assim, apenas quem dera, porque quando
o sol sobe na abóboda celeste, em cima do eco dome, fica a pino, é como se
estivéssemos num forno, ainda que esteja ventando, o dia é excruciante,
entretanto se estiver ventando temos um bônus da brisa. Porque ao pedalar e
transpirar, molhamos a camisa, essa camisa molhada age como um filtro
resfriando o corpo, ao transpiramos em junção com a brisa, criamos um auto
refrigerar eterno. O bônus maior é quando estamos suados e encontramos uma
descida.
Ao falar em goiaba, mais
uma vez é como lembrar a música de Cazuza: "exagerado" ou
simplesmente redundância, repetição, um tanto desnecessário, é de novo voltar
ao assunto, porém o que posso fazer. Não tenho certeza, entretanto acho que
peguei a temporada das goiabas. Sinto-me como Alico nos países das goiabeiras.
Desde quando estava em São Paulo e entrei no Estado do Paraná, agora em Santa
Catarina, goiabeiras abundantes e pasmem, todas bem maduras. Não se espantem se
até o final dessa expedição eu virar uma goiaba ou um pé de goiaba, para assim
eternizar o meu ser.
Finalmente, cidade
maravilhosa, essa quanto aquela, Balneário Camboriú cheia de encantos mil,
assim como fiz no ano passado, hospedei-me no mesmo acampamento, porque em vez
de ficar procurando novas opções eu opino por fazer algo que já deu certo, até
porque, o camping da chapecoense, na minha opinião é o mais bem localizado e
barateiro. Caso algum de vocês, caros leitores e leitoras, estiverem a fim de
saber detalhes desse camping, é só assistir o vídeo do meu canal, lá eu filmei
a placa onde consta a razão social e o telefone. A vantagem do camping, quando
se compara ao acampar nos postos de gasolina, é que a gente pode guardar as
coisas e curtir a cidade.
Balneário Camboriú,
semelhante à ilha de Floripa com o codinome, “ilha da magia”, eu classifico o
Balneário como “Terra mágica onde tudo pode acontecer”, tome cuidado com o que
você pede nesse lugar, mas também, aqui é semelhante a Vegas, tudo o que
acontece no Balneário, fica no Balneário. Na minha expedição, estive em
Guaratuba, lindíssima a cidade, entretanto não se compara ao Balneário. Se
fosse para fazer uma classificação de notas, essas duas cidades, Guaratuba
seria oito pendendo para nove, é uma boa avaliação e Balneário não teria como
eu dar mais de dez porque não existe. Do camping da chapecoense até as praias,
existe um elevador que transporta você de um lado a outro do rio, totalmente
panorâmico, passando por cima da orla do rio onde ficam os barcos dos magnatas,
assim começa a beleza da cidade. As praias são como nunca outras vistas,
longas, sei que houve intervenção humana, entretanto para melhor (a intervenção
humana se faz necessário quando assim desejamos, exemplo uma senhora que fazem
implante de silicone ou um rapazola que tem uma harmonia facial ou qualquer
outra que seja) eu sei que essa analogia é um tanto tosca, mas quis explicitar
que quando é para melhor tudo é válido, por toda extensão, areia branquinha de
um lado e do outro os prédios. Fato agonizante de Balneário, pelo menos para
mim, a maioria dos edifícios é superfino e alto, que dá até aflição na gente.
Quando eu falo que os prédios são finos, não é que eles são garbosos e sim
finos na espessura, assemelha uma tábua no sentido vertical.
Capitulo II
Já no dia de partida
para deixar essa maravilhosa cidade de Balneário Camboriú, volto enfatizar: o
camping da Chapecoense vale a pena verificar.
Não devo e nem vou
reclamar da chuva, do Sol, dos barulhos dos caminhões ou de outros fatores, mas
ela, aquela menina má, a chuva, não me abandona, abençoada água que cai do céu.
Não quero mais abordar sobre a chuva torrencial e sim falar de algumas
praticidades que venho adotando na minha viagem. Como sabemos, estou saindo de
Camboriú e ontem como eu estava na cidade, a bicicleta bem guardada e
aproveitei para ir ao mercado fazer umas comprinhas. Comprei uma porção de
pernil, já picado, tipo a passarinho, para o jantar de hoje e cozinhar uma
quantidade suficiente para comer amanhã. Costumo dizer que é comida francesa,
de “Dedontè”. Eu havia comprado o “Toddy”, ou achocolatado, entretanto
estava muito ralo, então quero incrementar, pois no mercado comprei da mesma
quantidade do achocolatado, a mesma de leite em pó, e também aveia. Os postos
de combustíveis da região sul, já falei, todavia falo de novo: tem maquininhas
de água quente que facilita a vida da gente, rimou. Pois, se quiser tomar um
chocolatinho gostoso, é só colocar essa mistura de achocolatado, leite em pó e
aveia em uma caneca, pegar água quente há quase 100 graus e “Voilà” eis aqui!
Na viagem de bicicleta,
ou cicloturismo, uma coisa que a gente deve fazer e não se furtar e facilitar
de todas as formas possíveis e imagináveis, conhecer histórias de outros ciclos
viajantes com seus exemplos, do que eles fizeram para facilitar a vida. Eu sei
que nem tudo enquadra, o que deu certo para um pode não dar para outro. Essas
ideias têm que proliferar e ressalto, se vier fazer uma cicloviagem para o sul,
com certeza o café já está garantido, porque um pacotinho de solúvel e
uma caneca é o suficiente, apesar que, noventa e nove por cento dos
estabelecimentos das estradas tem café cortesia. Com a tal maquininha de água
quente, pode até facilitar sua vida em cozinhar o seu alimento, pois ao pegar a
água quente para levar ao fogareiro, já é menos combustível que você vai
gastar. Já houve situações que eu até cozinhei ovos com a água quente, é lógico
que coloquei uma vez, aguardei três minutos, mais outra vez e mais outra vez,
totalizando 9 minutos, sem acender a espiriteira; ah sim, claro! Mas outra vez
trocando a água.
Quando passo por Santa
Catarina, me encanto e pode chover, chover, e chover, a paisagem nunca vai
alterar; ou, explicando melhor, o cenário vai ter seu bônus de serração e de
nevoeiro, entretanto ela continuará linda. Assim eu abordei em um vídeo no “Youtube”:
“Santa dos meus pecados chama se Catarina, entretanto como o pecado normalmente
é a parte melhor da vida, com todos os respeitos devidos e sem prejudicar
ninguém”; então amo o Estado de Santa Catarina. Que me perdoem as pessoas que
tenha uma religiosidade desse estado.
Cheguei ao posto e vou
pousar, como todos eles, ou quase todos, sou bem atendido. Já são mais ou menos
quinze horas e então vou comer minha comida francesa, “Resté D'Onté”. O
que estou percebendo aqui no Estado de Santa Catarina em comparação com a
última viagem é a quantidade de pessoas do trecho que encontro nos postos de
estrada. para especificar o que são pessoas do trecho, não são aquelas que
enquadram como mendigos, nem também as que tem problemas mentais ou abandonam
tudo e sai a andar pelo mundo, todo largado e sujo. As pessoas do qual me
refiro e encontrei nos postos de Santa Catarina, tem suas particularidades,
entretanto não acontece em todo o Estado, e sim, próximo das cidades grandes;
Florianópolis, Joinville e outras. Percebi ao contatar com elas, que as mesmas
abandonam tudo e sai caminhar pelas estradas, porém não muito longe de suas
casas e se estão longe, exemplo, estou próximo de Balneário Camboriú, elas
vieram ou de carona, ou de ônibus. Não é confuso, apenas quero dizer que elas
saem das suas casas, contudo sempre orbita a sua antiga residência, E no caso
das que moram longe, alguns gaúchos e outras paulistas ou paranaenses, foi
porque veio de carro, carona e ou outros e acabam andando de um posto a outro,
pois ali tem um lugar seco, comida e ainda outros apoios. De forma muito
rudimentar, vou traçar um perfil psicológico sem estender muito sobre elas: a
primeira vista, a gente fica assustado, entretanto, são pessoas de bom coração
e as características mais unânimes, é elas quererem repartir o que tem; caso
tenha dois pacotes de bolachas, elas querem dar a você um pacote; caso tenha
duas bolachas, elas querem dar uma a você; sobre a bolacha foi apenas um
exemplo.
Eu já estava quase
pronto para ajeitar o meu “cafofo”, então apareceram dois ciclos-viajantes,
dois jovens, bem jovenzinhos, que resolveram conhecer o Brasil em cima da bike.
Eles encostaram a bicicleta e eu fui recepcioná-los e mostrar que sou da paz,
Gaby e Luar resolveram ficar. A garota disse viajar levando o seu
gatinho, na minha santa inocência imaginei que fosse um recém-nascido, aqueles
gatinhos pequenos, entretanto não, era um gato parecido com o “Garfield” no seu
tamanho, é lógico, pois era todo marrom de uns oito quilogramas mais ou menos.
Na verdade, era uma matilha, ou por ser gato o seu coletivo é “gataria”: Gaby,
luar e Milton. Milton é o gato. Antes de encerrar o dia, fiz até uma entrevista
com eles, e o Milton se exibia, subindo e descendo do compartimento na
bicicleta onde ele estava alojado, na entrevista abordamos sobre a vida deles;
os motivos de caírem na estrada, os anseios e os medos; fatos interessantes que
tem acontecido até o momento; até onde almejavam seguir a viagem; e um
bate-papo descontraído. Eles disseram que estão vindo do Rio Grande do
Sul, cidade de Porto Alegre; Estiveram algum tempo na “ilha da magia”, é
assim que é conhecido a ilha de Florianópolis; pretendem fazer o Brasil através
do litoral e outros pontos turísticos, do sentido sul ao norte, apesar que esse
itinerário, na sua totalidade, é só subida, porém cada um vai para onde quer;
tiveram problema no Morro do Cavalo, pior Serra de Santa Catarina e assim
deu-se o final do dia, à noite, adormecemos e no outro dia bem cedinho,
despedi-me dos dois, desejando-os boa viagem e seguir meu caminho.
Não é que eu tenha muita
pressa, entretanto, gosto de sair dos postos de gasolina antes do amanhecer, o
motivo é que já que vou pedalar em um sol de arrebentar, então aproveito para
pedalar nas manhãs que são mais frescas.
Quem segue esse caminho
que estou fazendo, na rodovia federal BR-101, tem de um lado o oceano e do
outro as montanhas, poderia até não falar sobre esse assunto, entretanto é um
espetáculo ímpar. De onde estou nesse momento, mostrando aqui a minha localização,
no pedal de hoje eu vou passar por Florianópolis. Queria até entrar e
experimentar a “ilha da magia”, entender porque tem esse nome, no entanto, o
meu intuito é outro e sim chegar na Praia do Cassino. Tenho minhas reclamações,
porém minhas ressalvas sobre a cidade grande, que não é nada que aprecio, no
entanto, ela te oferece recursos. No ano passado, na minha expedição, serras
catarinenses, eu passei por aqui e tive um certo problema com a rodovia federal
BR -101, quando começa o perímetro urbano de Florianópolis e vai até a cidade
próxima, na BR, passa a ser inexistente os acostamentos, em pelo menos quinze
quilômetros. Esta situação não altera muito, pois você pode ir magiando a
rodovia federal, contudo é um empecilho, porque as margens são bem
movimentadas, pessoas, veículos e outros quesitos mais.
Retomando o assunto, vou
tentar ilustrar o que fizeram com os acostamentos; como é uma megalópole de
grande fluxo e ligações entre várias cidades, eles transformaram o acostamento
numa terceira via, falar que tá tudo bem para o ciclista, é mentira, entretanto
pensamos no bem da comunidade.
Relembrando de algo que
aconteceu na cidade de Morretes, Paraná, logo após a Serra da Graciosa, o meu
pneu traseiro vinha a todo o momento furando, dia sim e outro também. Até
relatei que em Piraí do Sul tentei encontrar o selante, mas na bicicletaria não
tinha e na cidade de Morretes coloquei o produto no pneu traseiro. A minha vida
no ciclo turismo é feita de experiências e tento aproveitar aquilo que é positivo,
não repetir o que não deu certo, então eu estava fissurado para fazer o mesmo
processo no pneu da frente. Antes de eu chegar na “ilha da magia” ou quer
dizer, na cidade de Florianópolis, já vinha pesquisando lojas de bicicletas
existentes, no “Google Maps”. Não gosto muito de adentrar as cidades, pois
sempre é trabalhoso e o que aconteceu? Fui a algumas bicicletarias e não havia
o produto, até que me informaram o local onde eles trabalhavam com bicicletas
elétricas, não que eu queira colocar motor na minha bike, tenho certeza que não
vai aguentar, no entanto, sim, resolver o meu problema com o pneu da frente.
Quando eu cheguei à bicicletaria, porém de bikes elétricas, o proprietário
informou-me de outro produto, ou o outro tipo de câmara de ar, a tal e
desconhecida por mim, câmara de ar de gel que resiste até pregos.
Antes de eu falar sobre
esse produto, quero descrever um pouco a bicicletaria, não sei se o
proprietário é maluco ou é o jeitão da madeira, porém tinha uma cozinha que
parecia uma cantina, bolo de tudo quanto é tipo e cafés. Quando adentrei o
local, imaginei que fosse pago, entretanto, o proprietário disse para eu ficar
à vontade, comer o que quisesse, tomar café à vontade, imagina só! Sobre o
produto, a câmara de ar, não era o que eu queria, entretanto, na vida do
viajante de bike, nem sempre tudo é o que ele quer, sim, o que tem para a
ocasião. Se essa câmera de ar era caro; talvez, sim, talvez não, entretanto se
funcionar vai valer a pena. Então disse a eles para “carcar o pau” e trocar a
câmara de ar. É como aqueles dizeres: já que não tem tu, vai tu mesmo; e não me
arrependi. Não vou dar “spoiler”, todavia estou escrevendo agora no conforto da
minha escrivaninha e meu notebook. Não me arrependi de nenhum dos dois, nem o
selante que coloquei lá em Morretes, nem essa câmera de ar de gel.
Antes de encerrar o dia,
eu trago nisso aqui os detalhes dos acontecimentos. Na estrada sempre
conhecemos pessoas, ao seguir a minha viagem, havia um vendedor de frutas que
me parou para conversar, querendo saber dos detalhes. O que mais gosto e às
vezes perdendo um tempão, o meu dia complicando, o meu itinerário incompleto,
ainda assim eu paro para conversar, mas nesse caso ganhei uma manga enorme, ele
queria que eu levasse mais e recusei, pois só iria comer essa hoje e guardar
para outros dias, poderia estragar.
Quando cheguei no posto
de gasolina para o acampamento, só queria descansar e relaxar, entretanto, algo
me incomodava que era o Morro dos Cavalos, para o próximo dia. Inevitável. É lugar
que não aconselho para cicloviajante, detalhes vocês saberão na trajetória de
amanhã.
Acordei cedo e logo sai
igual a todos os ouros dias, foi de madrugadinha, única diferença é o frio na
barriga e aquela sensação que hoje vai ser diferenciado; um misto de
muitas coisas: euforia; medo; angústia; alegria e outras muitas sensações,
porém o que acontece de diferente, justamente nesse dia, antes de tudo, quero
dizer que no meu itinerário, terei a Serra do Cavalo. Tive várias sugestões e
opiniões com as pessoas do qual conversei, os frentistas dos postos, os
motoristas e outros, sobre o tal Morro do Cavalo.
Quando estou em
"módulo" cicloviagem, viajando de bicicleta, uma das minhas práticas
é abordar as pessoas a respeito de onde vou passar e assim não ter surpresas.
As informações que tive é que eu poderia pedir ajuda a concessionária da
via, eles transportariam a bicicleta no trecho equivalente ao Morro do
Cavalo. Até achei interessante a ideia, entretanto não concordei, porque iria
quebrar o ciclo da "Expedição para a Praia do Cassino". O que fiz,
então, para aliviar essa tensão? Simples, montei na bicicleta, ajeitei tudo e
sai.
Antes da chegada ao
fatídico Morro, a uns cinco ou seis quilômetros à frente de onde pernoite,
parei no restaurante para tomar um café cortesia. Já até comentei e falo de
novo, sempre vou falar dos assuntos que acontecem nas estradas, mesmo sendo repetitivo,
esses estabelecimentos de estrada têm o café cortesia para os motoristas,
entretanto também, eles não negam aos viajantes aleatórios, caso eu. Solicitei
o café cortesia e eles me deram, além do café, dois outros lanches. Imagina só
se eu não gostei.
Sobre o Morro do Cavalo,
a primeira coisa que digo, principalmente aos viajantes de bicicleta, se tiver
como evitar é melhor, porém sendo impossível a mudança de trecho, alguns
cuidados. Pelo que eu sei esse tal morro é uma serra, é lógico, não é, também
uma reserva indígena. A intenção, quando fizeram a rodovia federal e até hoje,
era fazer um túnel, pois assim resolveria o problema, como tantos túneis
existentes. A questão é, não houve autorização do cacique, não entendo o
motivo de não autorizarem; analisa comigo, se faz o túnel, seria inexistente à
estrada que corta a reserva e com todo o respeito, pensa numa gente
besta, é esse tal de índio, diziam até que se tirasse uma foto deles, estaria
roubando a alma; no entanto, esse não é o problema por agora e sim o famigerado
Morro da Cadela, ou quer dizer, Morro do Cavalo.
A mãe do engenheiro que
idealizou deve ser uma santa, porém ele é um grande filho. A subida é íngreme,
são três vias de autofluxo, a direita preferencialmente, caminhões de grande
porte, um detalhe: aquela faixa branca que encerra a pista está em baixo do
“guard rail” ou a defensa metálica de proteção, como a gente conduz a
bicicleta? Empurrando? Para efeito de imaginação: a faixa branca está embaixo
do “guard rail”, o que se presume é que uma bicicleta carregada, com bauletos e
alforjes, ainda uma pessoa empurrando, totalmente vulnerável na pista, seria
quase um suicídio ou uma tentativa. As faixas são estreitas, tendo como
preferencial a direita para o motorista, então o perigo é muito grande; pois, o
que se entende por uma serra e não diferenciando essa (a do Cavalo) das outras,
é uma subida depois uma descida, o ditado diz: tudo que sobe desce. Se me
perguntarem onde eu tive mais medo, se foi na subida, do qual eu estive
empurrando a bicicleta, ou na descida em que desci montado, não saberei dizer;
as mesmas particularidades da subida, também foram a descida, no entanto, senti
o perigo um pouco maior, porque eu montado na minha bicicleta e na mão de
fluxo, os caminhões enormes tentando se desviar de mim. Por tal situação, volto
a destacar: você é um ciclista ou cicloviajante, faça uma pesquisa sobre a
Serra do Cavalo antes de adentrá-la, do resto é só alegria.
Depois dessa perrengue,
passei por um túnel, nesse contexto, os índios não colocaram empecilho para que
furasse a montanha e fui pernoitar no Auto Posto Baleia. Dispensa comentários,
um dos melhores lugares, dos bons que passei a noite,
Ontem, quando cheguei no
Auto Posto Graal Baleia, eu havia montado a barraca em um gramadinho nos
fundos, ao lado tinha um local coberto onde havia várias mesinhas de concreto.
Não escolhi montar no local coberto com as mesinhas, porque como eles me
deixaram pernoitar, então não queria atrapalhar. A minha barraca tem uma
particularidade, quando você a monta, e não coloca nada dentro, você pode
carregá-la para onde quiser e nesse instante chegou o gerente do posto e disse
para eu colocar a barraca aqui embaixo do coberto, porque vai chover, ele já
estive verificando que em Criciúma está caindo um temporal. Onde o gerente
mandou eu montar a barraca era um lugar bem melhor, pois era coberto, e se ele
mandou colocar a barraca num lugar melhor, quem sou eu para questionar e assim
o fiz. Ainda bem que fui alertado, porque alguns minutos depois, caiu um
temporal de chuva com ventos que até o local coberto já estava ficando
perigoso. O restaurante do posto forneceu me uma marmita gratuitamente, jantei
e dormi igual uma criança que aprontou o dia todo.
Pela manhã, como são os
meus "Modus operandi" é uma expressão em latim que significa
"modo de operação",333 sai bem cedo, o sol não ia dar trégua no hoje.
Não sei dizer ao certo se prefiro o tempo nublado com chuva. Para o
cicloviajante, às vezes tem preferência por um tempo a outro, chuva a Sol, frio
a calor, entretanto o que importa é o ânimo do pedal.
Sempre que eu puder e
lembrar, é lógico, quero mostrar o lugar que estou durante o escrito, hoje
estou próximo de Tubarão-SC, não sei bem certo qual cidade é, a única coisa que
tenho informação é que estou a 40 km de Tubarão, Santa Catarina. Quem conhece
os meus passeios, sabe que o ano passado tive que retornar desta cidade, quando
fazia as serras catarinenses. Choveu como nunca antes havia chovido e inundou a
cidade, tornando inviável a sequência da minha cicloviagem. Caso queira saber
do que aconteceu, é só ir no “YouTube” e ver a temporada anterior
Não sei se já falei – a
todo o momento estou narrando momentos -, sobre o marronzinho, é um parceiro
que está junto comigo nessa expedição Praia do Cassino. Se ainda não falei
sobre ele, então agora vou descrevê-lo: é um macaquinho muito astuto que
conversa pelos cotovelos e ainda que eu não tenha abordado sobre a sua
presença, ele é muito enjoado na questão da alimentação, enquanto eu, o
cicloviajante, como qualquer coisa, a sua base alimentar é bananas desidratadas
cultivadas na cordilheira do Himalaia, uma cadeia montanhosa localizada no sul
da Ásia, ou As montanhas Rochosas (ou simplesmente Rochosas) são uma importante
cordilheira localizada na América do Norte ocidental. Eu até falei a ele que
assim iria ficar difícil, porém fazer o quê, não é? Eu tenho um pensamento e
ajuízo que cada um faz o que quer, desde que não prejudique ninguém, quando o
marronzinho começou o trecho comigo, ou a Expedição Praia do Cassino, ele não
tinha nome e aqui vocês sabem, além de escrever essa história em forma de
diário, também faço os vídeos para “YouTube” e “Instagram”. Então lancei uma
enquete com os meus seguidores da rede social para que falassem nomes para que
eu colocasse no marronzinho, que antes, é lógico, não tinha nome, acredito que
pelo menos uma centena de nomes, entretanto a escolha dele, o Marronzinho e com
todos os nomes postos nos comentários, ele quem escolheu, achei razoável. A
única questão pendente entre mim e ele é a fonte de dinheiro que devo
disponibilizar, ou se ele pudesse encontrar outro tipo de alimento, a não serem
essas caríssimas bananas desidratadas cultivadas “na cordilheira do Himalaia,
uma cadeia montanhosa localizada no sul da Ásia, ou As montanhas Rochosas (ou
simplesmente Rochosas) são uma importante cordilheira localizada na América do
Norte ocidental”
Pretendo dizer a verdade
a vocês, não vou ficar enchendo linguiça, o marronzinho é um ser vivo que
conversa, respira e tem suas vontades, no entanto, no seguir desta expedição,
falo mais um pouco sobre ele, agora voltar às estradas.
Paraná nem tanto, mas
Santa Catarina e logo-logo Rio Grande do Sul com suas máquinas de água quente,
não quebram galhos e sim florestas. Eu tinha seis ovos, então resolvi cozinhar,
eu tinha Toddy com leite ninho e aveia, resolvi então fazer um achocolatado, já
não tenho mais. Certas coisas facilitam a vida e agiliza para que a gente faça
uma viagem de bicicleta tranquila, como já falei anterior, essas máquinas de
água quente é uma benção. Entretanto, todo cuidado é pouco, porque às vezes
quando a gente abre a torneira, ela espirra a água quente, sempre tem que fazer
um pequeno teste antes de abrir e existe uma possibilidade de vocês verem isso
que estou comentando no meu vídeo do “YouTube”, fiquem a vontade no canal, pode
usar sem moderação.
Estava eu, tranquilamente
fazendo o meu pedal e viajando despreocupadamente pelas terras catarinenses,
eis que a frente parou um veículo. No momento que avistei, não percebi
que tipo de veículo era, entretanto, percebo que às vezes os motoristas
encostam para poder atender o celular ou outras coisas, nada de novidades até a
este momento. Quando me aproximava, a pessoa que estava do lado do passageiro e
o motorista desceram e aguardaram a minha chegada, deu para perceber que
era uma Saveiro e tinha algumas inscrições religiosas na sua lateral. Fui
abordado e eles informaram-me que fazia um trabalho social distribuindo
marmitas para os trecheios ou pessoas em situações de vulnerabilidades nas
estradas, ou próximo da cidade de onde eles vieram. Perguntaram-me se eu
queria um “marmitex”; eu disse que não, porque não estava com fome, é claro que
é mentira que disse isso. Aquela marmita caiu do céu como se fosse Maná dos
deuses. Às vezes eu paro e penso, a humanidade ainda tem jeito, tal, a
humanidade, o homem e a mulher de uma forma geral, entretanto é o que mais
preocupa a gente com relação às suas atitudes, pessoas malucas, maníacos,
alguns prejudicam os seus próprios semelhantes, porém posso garantir que 99%
das pessoas são boas e por causa dessas minorias, a gente tem que estar
sempre com o pé atrás, esse tal ser vivente chamado humano.
Agradeci e segui viagem
para encontrar um lugar que pudesse detonar o “marmitex” A rodovia federal
(101) em Santa Catarina é ótima, apenas uma reclamação, a dificuldade de
encontrar uma árvore ou um local para sentar e comer. Andei por alguns
quilômetros, não vislumbrei o lugar cem por cento ideal, opinei por comer a
marmita em um espaço não tão legal, apenas uma sombra de árvores, porém igual
um cavalão, comer em pé, "ain" nem me fala em cavalo que eu lembro
daquele morro fatídico, e ainda não tinha noção do conteúdo daquele rango,
porém a surpresa foi espetacular.
No começo dessa
história, eu havia encontrado outro cicloviajante e com estilo diferente
"bikepacking", nós fizemos uma boa caminhada juntos, quatro ou cinco
cidades. Quando chegou a Curitiba, ele seguiu o sentido serras catarinense e eu
fui fazer a Graciosa. Laudenir Rodrigues, grande sujeito, gente boníssima,
entretanto o itinerário dele era diferente do meu, porque ele queria fazer as
serras e em Curitiba ele seguiu para um destino e eu outro, agora quem eu vejo
do outro lado da rodovia? Laudenir. O “guard rail” separando-nos e uma pequena
grade nós trocamos algumas palavras, ele sobre o que aconteceu pelo seu
itinerário e eu relatando as experiências desde o momento que nós nos
separamos. laudenir também tem um canal no YouTube, é recente, porém está
postando os vídeos das suas aventuras, quem quiser acessar é só colocar na
pesquisa Laudenir Rodrigues oficial, no final desse livro vou deixar o link
Para falar um pouco
sobre Laudenir, quero solicitar aos caros leitores para imaginar uma pessoa
engraçada, pois foi o que percebi naquele fragmento que fizemos, bom de
coração, qualquer pessoa seria capaz de viajar o mundo acompanhado dessa
figura. Não sei se ele vai ler estes meus registros, entretanto se estiver
lendo, envio a você, Laudenir, um grande abraço, valeu, qualquer dia a gente se
encontra.
Encerro esse meu dia
parando em um posto na estrada e como quase sempre acontece, eu peço permissão
para montar a minha barraca. Todas às vezes que chego a um posto de
combustível, de preferência nas estradas, abordo sempre de forma humilde e
escolhendo os piores lugares e assim também sempre eles me oferecem um lugar
coberto, ou um local que está desativado, no caso desse posto agora, acampei no
lavador que está desativado. Nem ia montar a barraca, porém como a gente
tem que estar sempre um passo à frente daquilo que pode acontecer, digo devido
aos pernilongos, então barraca posta.
Quando acampo em algum
posto de gasolina em que tenho a opção de montar ou não a barraca em um local
coberto, normalmente acordo bem cedo antes de clarear o dia e hoje não
foi diferente. Esses postos são tudo de bom, todavia nem tudo é cem por
cento, quase sempre existe um caminhão funcionando a noite toda, porem quem
viaja de bicicleta o dia todo, nem houve o barulho do caminhão e assim acontece
comigo. Uma coisa legal que posso relatar aqui sobre estes postos, é que cada
um tem seus cachorros e esse foi campeão, mais de meia dúzia de “doguinhos”.
Legal é que esses cachorros interagem conosco e de manhã cedo uns quatro ou
cinco cachorros querendo brincar.
Estou a uns dez
quilômetros, mais ou menos de Tubarão, Santa Catarina, a cidade em que tive de
abortar o meu passeio de bicicleta no ano passado, na inundação gigante, até
tiveram que utilizar do ginásio de esporte para socorrer as pessoas que foram
prejudicadas pelas enchentes e também dormi no ginásio de esporte. Passei pela
Ponte Anita Garibaldi, pensa numa estrutura gigantesca, dois quilômetros e
oitocentos e trinta metros. Admirável, linda e de um lado a represa, não sei ao
certo o nome e nem também, vou pesquisar agora, quando você passa por sobre a
ponte, um pequeno vilarejo margeia, uma visão quase romântica que nos remete a
algum país europeu, não sei se estou exagerando. A estrutura da ponte com seus
cabos nos remetem a Ponte Octávio Frias de Oliveira é uma ponte estaiada
localizada na cidade de São Paulo e essa analogia é tão somente a grandes
estruturas, não com a extensão em quilometragem, porque a Anitta com dois
quilômetros e oitocentos e trinta metros e em quilometragem acredito ser maior
do que a ponte estaiada de “Sampa”; porém, o que vale a pena o encanto do lugar
e não ter a liberdade por estar viajando de bicicleta naquela estaiada
paulista?
Observando nos
pormenores, cada minuto, cada segundo e enquadrado da paisagem em geral, cada
instante uma visão diferente, alguém possa vir aqui e dizer que de moto é
interessante, eu concordo; de carro é interessante também, não discordo, não se
chega mais rápido? E qualquer outro meio que não seja bicicleta; nunca discordo
de ninguém, uma boa aventura é uma boa aventura, independente quais são os
meios e ainda vou mais longe, mesmo que for fazer andando; entretanto, a minha
preferida é a boa e velha bicicleta, carregando barraca; o isolante térmico; as
panelas, caso necessário cozinhar; o saco de dormir; o travesseiro inflável e
parando onde quiser. O importante é levantar as nádegas do sofá, onde a
aventura maior é assistir os vídeos de pessoas fazendo aventura. Existe
dois lugares para um ser humano, na arquibancada, outra é no campo; ambos estão
curtindo o momento, entretanto prefiro estar eu e a minha amiga magrela, pois
quando na estrada, ela se torna uma pessoa nas minhas aventuras e comigo vai
interagindo.
Passando a Ponte Anita
Garibaldi, estou quase chegando na cidade de Tubarão e aos meus caros leitores
que tem vontade de fazer as serras catarinense, tanto do Corvo Branco como Rio
do Rastro, só uma dica: antes da cidade de Tubarão, existe uma entradinha com
sentido a Gravatal, então você segue sentido Serra do Corvo Branco. Uma vez que
subiu a encantada Corvo Branco e é uma loucura, dificuldades mil, chega-se até
a fenda que o”pointe”; tenho certeza que noventa e nove por cento das pessoas
vai fazer uma foto e postar no Instagram. Seguindo em frente, desce se a serra
novamente e vai até Urubici, onde pega destino a cidade de Bom Jardim da Serra,
“ver no Google”, posteriormente começa a subir até o mirante do Rio do Rastro e
é só alegria.
Agora a pouco
descrevi sobre as pessoas boas e ainda quero complementar, pois recebi uma
mensagem via “Instagram” e meu genro pagou o “marmitex” via “pix”. Já o
agradeci e a marmita do jantar comprada, assim minha noite vai ser mais
tranquila. Nada muda na minha viagem de bicicleta como sempre, mais uma vez
acampando nos postos de gasolina. Outra vez em um local onde era o lavador
veículo que estava desativado. Nesse posto não tive dúvidas quanto a necessidade
de montar a barraca, porque tinha cada pernilongo do tamanho de um
pardal. Tenho conhecimento que eu não falei nesses relatos anteriormente,
no entanto, além de pernoitar, a gente ainda tem a possibilidade de tomar um
banho e de forma gratuita, assim eu o fiz. Também, não resta lembrar que na
viagem do ano passado, eu abortei na cidade de Tubarão. Agora, nesse
exato instante, já passei por Tubarão a alguns quilômetros, então começa a ser
aqui o mundo desconhecido nos lugares por onde vou passar. Tenho ansiedade em
querer saber o que vai acontecer, se minha expedição vai chegar até a praia do
Cassino ou se possa acontecer algo que venha interromper, assim como aconteceu
o ano passado: as chuvas torrenciais nas serras, que por consequência inundou a
cidade de Tubarão, Santa Catarina. Toda a minha vida é como um barco, eu
levanto o leme e deixo o vento me levar, apesar de algumas angústias, às vezes
eu elimino todos os pensamentos da cabeça e acompanho os indefinidos ventos que
me levam a não sei para onde, ou a maré, ou seja lá o que for, nunca coloco
todos os ovos na mesma cesta, eu os divido em algumas outras, porque a
possibilidade de nada dá certo, é muito grande, sempre eu digo: eu não sei para
onde vou, pode até não dar em nada, a minha vida segue o sol, no horizonte
dessa estrada. Tenho consciência, o melhor de uma aventura, não é chegar,
porque sei que quando lá eu estiver, vou querer voltar e me desencano de tudo,
vou seguindo como se eu fosse um ser único no universo, como se mais nada houvesse
além das minhas respirações, como se o mundo resumisse apenas em mim, como se
mais nada existisse; e, parafraseando Caetano Veloso: eu vou, porque não,
porque não, porque não.
Auto Posto Rota (01), na
cidade de Jaguaruna e quase chegando no Rio Grande do Sul. Não tomo café no
posto que durmo.
Estou saindo do Auto
Posto Rota (01), em Jaguaruna, município do Estado de Santa Catarina e
sinto que quanto mais escrevo, mais repito o que aconteceu ontem, e anteontem.
Um jeito particular meu de fazer cicloturismo, não posso deixar de relatar: nos
postos de gasolina das estradas em que eu acampo, gosto de sair bem cedinho; se
a minha experiência com esse pernoite foi esplêndida; tive o wi-fi;e,
juntamente com energia elétrica para carregar eletrônicos; e, ainda conseguir
um jantar de graça; tive também sossego para dormir sem aquele barulho
característico de postos de combustíveis, sendo os caminhões que ficam ligados,
barulho do motor funcionando até de madrugada; caso tudo isso aconteceu, logo
de manhã, antes de clarear o dia, eu monto em minha bicicleta e caio na
estrada, sem ao menos tomar café. Por que eu faço isso e todo esse
ritual? É que na estrada são cheios de postos, eu posso tomar o meu café mais
tarde, é aquele café cortesia, entretanto com a minha cara de mendigo, se
alguém me oferece algo para comer, eu não enjeito.
Nem repleto que é uma
eterna descida, ou um retão, vários pés de goiaba, chove e faz sol, vamos
refletir sobre como sair para o cicloturismo. As minhas reflexões, são os meus
pontos de vista e quero deixar em aberto que pessoas pensam diferentes da
maneira que eu entendo o que é cicloviagem. Antagonismo, na forma de pensar e
agir, é a coisa mais legal, pois daí suscita uma discussão e ambos possam
crescer. Algumas pessoas pensam que para cicloviajar tem que haver um preparo
físico antes, porém vejo de maneira diferente, para cicloviajar é apenas montar
na bicicleta e sair, tendo em mente um itinerário, uma meta, o local de
chegada. Para cicloviajar, deve desprender uma preocupação com as condições da
bike, contudo não necessita estar em cem por cento, apenas que ela vá aguentar
os primeiros mil quilômetros e quando eu falo em mil quilômetros, quero dizer o
seguinte: não se deve sair com uma bicicleta que esta comprovadamente quebrada,
porém andando de forma bem rudimentar. Cicloviajar deve se aperfeiçoar a
utilização dos apetrechos, quero dizer, ser minimalista, calcular tudo
minuciosamente com relação ao peso, o tamanho dos objetos e a sua utilidade.
Vamos citar exemplo no quesito panela para cozinhar: na estrada quando a gente
para e vai fazer uma comida, é aquela quantia básica de uma pessoa, ninguém
cozinha para um pelotão de cicloviajantes; uma ideia mais prática, vamos
pensar no macarrão com molho de tomate; você cozinha o macarrão em uma pequena
panela, aquela quantidade suficiente para você comer e refoga o tempero em uma
pequena frigideira, ou outra panelinha, menor do que a que cozinhou o macarrão;
então eu apresento a vocês aquelas panelinhas compactas que se vende na “Shopee,
Wish, Aliexpress, enfim, da China ou do Brasil; são pequenas panelas que a
própria frigideira é do tamanho da tampa, uma entra na outra e ambas cabem na
palma da mão; tendo no interior dessa panela, a boquinha de fogo para o gás, ou
uma espiriteira; se duvidar, ainda dentro dessa panela, com esses quesitos,
cabe o kit gás, o pacotinho de café solúvel. Para dormir, você necessita
simplesmente de uma barraca de um lugar, pequena, leve e portátil e também um
isolante térmico; enfim, sem estender muito, cicloviajar é sinônimo de
minimalismo; e eu, nesse role insano, já na terceira temporada, vim por toda a
extensão jogando fora coisas, o que significa que mesmo com a experiência de
alguma cicloviagens, ainda cometo esses deslizes. Se você quer fazer uma cicloviagem,
analisa o cicloviajante e o “bikepacking”, fica no meio-termo. Neste contexto,
quero tratar minha próxima expedição, uma vez que o “bikepacking”, não leva
basicamente nada e o cicloviajante carrega o mundo, então quero balancear.
Alguns dias atrás eu
passei próximo a uma praia e ainda não citei aqui. Estava eu fazendo a minha
viagem sem me preocupadamente, quando vi uma placa dizendo sobre uma praia
privativa de naturalistas, então compreendi que era a praia de nudismo; pensei
comigo mesmo, é lógico, por que não? E fui lá. Estou abordando este assunto,
para falar minhas impressões ao ver pessoas desnudas, ou no linguajar popular:
peladões e peladonas. A princípio, achei estranho, não talvez a palavra
estranha, entretanto diferente, todavia depois comecei a perceber que tudo era
normal e dentro da normalidade as pessoas serem iguais, porque é apenas um
corpo, tanto de homem como também de mulher, nas suas várias faixas etárias e
todos se igualando, uma vez que, nada os diferem se for rico, ou for pobre, se
houvessem ali o rei, e uma rainha, e um plebeu, e uma plebeia. Conclusão que
cheguei é quanto à futilidade daquilo que levamos em nossos corpos, como roupas
de marca, ou adereços de ouro e prata, ou ainda os carros, indicando sua
posição social; no mundo naturalista tudo isso inexiste.
Como sempre, outra vez,
novamente, mais um posto e mais um cair na estrada logo de manhã, como no ontem
não falei nada sobre o lugar que pernoitei e estava filosofando, parágrafos
anteriores, vou abordar um pouquinho desse posto e da minha saída.
Estou a um dia de Rio
Grande do Sul, não marquei a cidade porque a noite de ontem não foi muito
legal. Quando eu cheguei ao posto no ontem, falei com o gerente para montar a
minha barraca na parte dos fundos, o mesmo disse que não poderia e que
autorizaria montar do outro lado de uma pequena rua e os viajantes que por ali
passavam, na sua totalidade, acampavam naquele espaço. Pensa num cara teimoso,
sou eu, se meu coração diz que eu não devo montar uma barraca em nenhum lugar,
de pirraça passo quase a noite sem dormir. Sou pirracento até altas horas. E,
não montei, todavia fiquei em um canto do posto onde cochilei a noite toda,
contudo não era como dormir em uma barraca e tal, já abordei alguns trechos
dessas escritas, ou alguns dias atrás sobre passar uma noite sem dormir. Na
verdade, não ligo, porque sei que ninguém morre de não dormir uma noite, porque
se assim fosse, ou morresse, o pessoal do turno noturno estavam todos mortos.
Eis que amanhece no posto e a minha nota é cinco.
Numa viagem de bicicleta
minimalista até o tamanho da blusa é necessário, porque roupas compactas ocupam
menos lugares; mesmo no calor, sempre nas madrugadas, faz frio, então não tem
como fazer essa viagem de bicicleta sem levar uma blusa. Até a questão do
café, é necessário a gente compreender que todos os postos, ou quase na sua
totalidade, têm café e noventa e nove por cento é cortesia e não existe
necessidade de você tomar um café nos um por cento dos postos nas estradas.
Porque estou falando isso, para tornar desnecessários os apetrechos de fazer
café, apenas um pacotinho de solúvel, caso tiver que acampar na natureza.
Cada dia da minha viagem
de bicicleta, eu faço uma reflexão, porque os dias são longos. Hoje eu pensei
na tal liberdade e o significado da sua essência. Lembrei me dos dizeres da
Constituição Federal: “direito de ir vir e permanecer” (Este direito
encontra-se acolhido no art. 5, XV, CF, no qual menciona ser livre a locomoção
no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens), direito de ir, é você
resolver ir a algum lugar sem que não haja nada que o impeça, a não ser os
compromissos, porque acima desse direito, somos seres sociais e temos boletos,
no entanto, dentro do direito de ir, existe o direito de vir; que significa que
você vai até onde que você quer e quando não quiser mais, surge no seu âmago o
direito de vir, de encerrar, de ter a liberdade de não mais querer. Achei
interessantes os dizeres da constituição: “ir, vir e permanecer”, esse último
significa que você pode não querer mais ir, nem querer mais voltar e ficar.
Liberdade é você fazer aquilo que quer, sempre lembrando que os compromissos
sociais devam ser respeitados, exemplo trabalho, famílias, esposas, filhos e
amigos. Não esquecendo também que o que prevalece é o que você quer. A gente
nasce sozinho e morre sozinho, não trazemos nada e nem levamos nada.
Passei mais uma
fronteira de Estado, já no Rio Grande do Sul e pela primeira vez em terras
gaúchas, se tudo o que falaram sobre esse Estado realmente for o que disseram,
com certeza vai ser muito legal, entretanto a única coisa que sinto é que ao
passar pelas cidades, assim foi em Santa Catarina como também no Paraná, é que
a gente sabe o nome, porém estamos só na rodovia. Estou em Torres, Rio Grande
do Sul, pronunciei isso, porque não vou adentrar a cidade e vou parar em um
posto de combustível que está a uns cinco quilômetros daqui.
Dos postos que parei,
esse é o melhor; a princípio, você não dá nada por ele, até ser informado que o
posto construiu um espaço para os viajantes. Local de apoio,
principalmente para os motorhome, com toda infraestrutura de banheiro, tanque
para lavar a roupa, cozinha, wi-fi e tudo que você imagina. Eu descrevendo a
respeito dessa maravilha, não dá para ter muita noção, entretanto se você for
até o vídeo verá a estrutura. Quando faço um pernoite em um posto, não costumo
dar nota dez, porque sempre falta algo e nesse estou contrariado porque queria
dar uma nota acima de dez e não existem possibilidades. Rio Grande do Sul, pelo
jeito eu comecei com o pé direito.
Percebi aqui no Estado
Gaúcho, trafegando pela BR 101 é sua planície; por todo o caminho que estou
passando, é sempre um reto, tanto para frente, como para trás e dos lados.
Mais um anoitecer. Essa
noite eu vou pernoitar no Auto Posto Túlio, desde o início do Estado do Rio
Grande do Sul, na cidade de Torres, eu estou a uns sessenta quilômetros à
frente. Agora, outro dia. O meu pernoite no Auto Posto Túlio fora perfeito e o
grande e maravilhoso Rio Grande do Sul inteirinho só para mim. Meu projeto para
hoje é parar em um camping que localizei a vinte e oito quilômetros, no
“Google”, se vai estar aberto ou se ele existir, são outros detalhes;
entretanto, caso contrário, vou ter que estender um pouco mais para montar
minha barraca em um posto a mais de setenta quilômetros, segundo minhas
pesquisas no “Google maps”. A princípio penso que vinte e oito é muito pouco,
porque como me disseram, o Estado do Rio Grande do Sul é uma planície, estradas
eternamente retas, ou pequenas descidas.
A reflexão do dia
é a diferença entre o “cicloviajante” raiz e “nutella”, eu talvez sou um
“cicloviajante” raiz. Quando eu saio para as minhas viagens de bicicleta,
tenho em mente que é viajar sem gastar quase nada, a verdade o gasto zero é
utopia. Entretanto, a minha felicidade é quando bato o recorde de vários dias
sem desembolsar um centavo, talvez mais adiante eu volto abordar sobre o
assunto e tento explicar como que é viajar sem gastar.
Passei por dentro da
cidade de Osório para continuar a BR-101, não sei se fiz confusão ou se a
101 em vez de BR transformou-se em RS, rodovia estadual, contudo a única coisa
que posso afirmar é que o “retão” não se acabou e o camping que eu havia visto
no Google mapas está fechado, então o pedal vai ser um pouco mais puxado, até o
posto de combustível a uns setenta quilômetros, não daqui, pois já pedalei uns
trinta e cinco.
Parei no posto de
combustível, felizmente cheguei depois de uma eternidade pedalando, é o posto
Rota dos Ventos, com uma particularidade característica desse lugar meio
deserto, ele fecha às sete horas e nem guarda tem, todavia enfim, a única coisa
que quero é montar minha barraca e dormir, hoje serei o guarda do posto e
amanhã saio bem cedo.
Capitulo III
Às vezes esqueço,
entretanto, faço questão de lembrar, estou saindo do Auto Posto Rota dos Ventos
na cidade de Palmares do Sul, Rio Grande do Sul; o nome é bem chamativo, Rota
dos Ventos, não sei, mas acho que vou plagiar esse nome para incorporar a minha
viagem e esperar que as rotas dos ventos estejam a favor, não de frente para
mim. Existem determinadas situações em que os ventos são bons, batendo em
minhas costas, que a bicicleta chega quase a deslizar sozinha e fico imaginando
se tivesse uma vela para transformar em “windsurfe”, ou bicicleta a vela.
Desde ontem às dezenove
horas, com a evacuação dos funcionários, ou falando sério, quando
todos foram embora, até a este momento, a paz reinou, eu fiquei um pouco
preocupado, entretanto, o que poderia acontecer? Nada, talvez. Como a frente
dos banheiros é um coberto, tipo marquise e não havia pernilongos, então não
montei barraca. O movimento de veículo é muito pequeno, à noite é quase zero.
Ocasionalmente, alguns automóveis passam, por ser um posto de combustível e as
placas estarem sinalizando, alguns acabam entrando, entretanto, vê que não tem
atendimento de vinte e quatro horas, mas eu ali na marquise, como um
guarda sempre atento. Ainda que o posto não fosse vinte e quatro
horas, tinha uma fonte de energia para eu carregar o celular, o “Power bank”,
as lanternas, e ainda o wi-fi ficar ligado à noite toda e então faço a vocês
uma pergunta: O que mais eu posso querer?
Nesse instante em que
relato, estou saindo de manhã cedo em direção ao fim do mundo, ou
direção ao início da Praia do Cassino, mas antes de chegar lá, ainda vou levar
uns três ou quatro dias, não sei dizer, nada sei, só sei que não sei. Ao sair
do posto e na estrada, o que permanecia, como vem sendo já há uns quinhentos
quilômetros, o “retão” interminável. Além da estrada sempre reta, algo
interessante a gente observa nesta localidade, os pontos de ônibus, acredito
passar um ônibus uma vez por mês, é em forma de silo de secagem de grãos em
tamanho reduzido, achei muito interessante e peculiar. Plena convicção que
esses pontos de ônibus em formato de silo arredondados, dá até no
caso de uma necessidade extrema, passar a noite
Eu percorria
tranquilamente a estrada e na contramão de fluxo, pois a estrada é estreita e
em um trecho o desnível entre a estrada e o acostamento é de mais ou menos um
palmo. Explicando melhor, a estrada estava a um palmo acima do acostamento, em
um determinado momento quando o carro passou beirando a minha bicicleta, eu
tentei descer para o acostamento e a inevitável fatalidade que
acontece quase sempre, tornou realidade. A roda da frente bateu na altura do
desnível entre a estrada e o acostamento e a roda de trás ficou em cima, eu caí
de frente batendo o joelho da perna direita no asfalto e a batata da perna ou a
panturrilha batendo no pedal, tudo da bicicleta esparramou-se pelo chão.
Naquele instante, antes de verificar os rescaldos, pensei: é o fim da minha
expedição Praia do Cassino. Entretanto, como deve ser feito em caso de
acidentes com vítimas, “procedimento
operacional padrão – POP, do role insano 60”, para ver a gravidade do impacto
(casos em que a gente mesmo é a vítima), deve-se ir movimentando vagarosamente
os membros que sofreu a colisão. O joelho, apesar de estar na carne viva, senti
que não havia nada interno. A dor na batata da perna era tremenda. Empurrei a
bicicleta até um pequeno silo que estava como ponto de ônibus, sentei e percebi
dar para continuar a expedição. Como sempre passa pela cabeça de um acidentado,
o que vai ser de mim agora. A minha conclusão foi que eu iria fazer a praia do
Cassino de qualquer maneira, é lógico, salvo hipótese que eu não pudesse,
entretanto, em minha mente eu julgava que se não desse para fazer os sessenta
quilômetros por dia e eu fizesse dez, ou cinco, ou um quilômetro, contudo
haveria de concluir. Desistir jamais foi uma opção plausível, exceto a
fatalidade, até como justificativa para mim mesmo. Então bravamente montei na
bicicleta e vi que ela estava perfeita, apenas dolorido e segui meu trecho.
Para não haver necessidades de voltar no assunto no futuro desse diário, já
falo o que aconteceu: no outro dia eu estava pleno, sem dores, apenas sentindo
o impacto do joelho nas escoriações visíveis e novamente estou no páreo. O jogo
é bruto e eu sou feito de tungstênio, todavia não posso abusar porque pela
minha idade são muito perigosas essas quedas, como é mês de março tenho
sessenta e um anos e vou fazer sessenta e dois em julho no dia cinco. Aceito
presentes
A região que estou
pedalando, basicamente é um banhado, ou uma planície, ou algo que eu não sei
explicitar, porém, repleto de natureza. Quando eu vinha despreocupadamente,
avistei algo que a primeiro momento pensei que fosse um capacete velho;
capacete com as cores desgastadas, meio amarronzado e a curiosidade que faz
parte do meu ser, na minha viagem, tudo que vejo e não sei o que é, eu paro
para verificar, tive um grato prazer de ver uma tartaruga, toda plena na beira
da estrada. Acredito que ela imaginava que eu fosse um predador e a minhas
intenções não fossem assim tão republicana, é uma pena, porque eu só queria
observar e ela toda tímida dentro do casco, se eu fosse essa tartaruga, também
faria o mesmo. Fiquei ali umas meias hora e depois deixei, pensei que ela não
se mexia, não queria mais importuna-la, troquei a bicicleta levemente para
frente, quando olhei para trás, a tartaruga que dizem ser lenta, virou um saci
e sumiu. Virar um saci é um sentido figurado de quem foge repentinamente, pelo
menos na minha região quando eu era pequeno as pessoas falam desta maneira.
Ritmo da minha viagem,
pelo menos por enquanto, pois futuramente haverá algumas mudanças, é ir de
posto de gasolina em posto de gasolina. Novamente depois de uns sessenta ou
setenta quilômetros desde o posto Rota dos Ventos na cidade de Palmares do Sul,
estou em outro, Auto Posto Braga e da mesma forma que o anterior, não era 24
horas, o Braga também não, entretanto o gerente não viu empecilho nenhum e
ainda me indicou uma pequena casa com uma área externa onde eu poderia
pernoitar com a minha barraca. Quando paro em algum posto, sei que já falei,
porém, falo de novo, sou eternamente repetitivo, observo se o local que vou
dormir se é coberto, nem monto a barraca. Apenas estico o isolante térmico.
Encho o meu travesseiro inflável e utilizo do meu saco de dormir, como coberta
e à noite é uma criança e assim eu fiz. Porém, alguns pernilongos estavam me
detonando. Fatos que às vezes acontece, quando estou instalado em algum posto,
é chegar outros ciclos viajantes e quando ali eu estava deitado, chegou um
casal que disseram o seguinte: vamos montar barraca porque tem muito
pernilongo. Eu imaginei que usando uma telinha do tipo véu de igreja da
congregação cristã no rosto impedisse que os pernilongos picassem-me, porém
eles eram especializados em picar as pessoas por sobre a roupa, por sobre a
telinha, ou qualquer outra coisa que você colocasse. O ferrão, ou não sei o que
era aquilo que usam para perfurar e sugar o sangue, era tão
comprido, mesmo com o véu no rosto, estavam me picando, então montei a barraca
e eles ficaram todos do lado de fora e a noite foi uma criança.
Desde Osório, Rio grande
do Sul, até o último pernoite, Auto Posto Braga na cidade de Solidão, dá cento
e onze quilômetros, estou em uma reta indeterminada, pois foi informado sobre
isso pelos caminhoneiros, não estou reclamando, eu não reclamo de nada, nem do
meu joelho ralado, nem da chuva gelada, nem do Sol ardido, e sim só falando.
Normalmente ao pernoitar em um posto, pela manhã, eu costumo não fazer o meu
café, porque posto é uma questão complicada, combustível inflamável, e outros;
então eu pego estrada de manhã cedinho e por volta das nove horas, paro para o
meu “desejun”. De novo, o que não é novidade, a manhã já estava ensolarada,
parei em um pequeno ponto de ônibus de madeira, não aqueles em forma de silo,
porém, sim, de outro formato e preparei, como um ritual que faço questão de ter
direito, o meu café. Meu café, eu quero dizer, não é um cafezinho simples, o
café, o chocolate quente, que em sua composição tem achocolatado, é lógico,
leite em pó e acrescentando aveia.
Vamos resmungar um
pouco, também sou filho de Deus, também quero reclamar, as coisas acontecem de
formas estranhas comigo e pela manhã um sol de rachar mamona no momento que
preparava o café, tomei sem pressa e despreocupadamente, então o clima deu uma
virada, um “revertério”, um reboliço, porque ao sair daquele ponto de ônibus, a
chuva. Quando pretendo sair de algum lugar e está chovendo, costumo pensar o
seguinte: eu vou assim mesmo; então as pessoas, não nesse caso que estava
sozinho, entretanto elas dizem o seguinte: aguarda, deixa o tempo melhorar
e eu respondo que se por um acaso eu sair com o tempo bom e no meio
da estrada a chuva me pegar, que isso acontece quase sempre, o que eu faço?
Tomo a chuva. Minhas resalvas é que pode estar chovendo, pode estar sol, ou
qualquer outra situação climática que saio mesmo assim. Se estiver chovendo, eu
saio na chuva; se estiver sol, eu saio no sol; se estiver ventando, eu saio no
vento. Minhas pautas, são feitas por mim mesmo e não é a situação
climática que vai ditar, as normas que devo tomar, exceto em caso de extremo
temporal, entretanto Só se tiver granizo.
O pedal estava bom, mas
os ventos contra estava terrível, já pedalei com esses ventos, no entanto, o de
agora é fora do comum. Quando eu saio do posto, tinha ciência que iria ir até o
camping Poente na cidade de Mostardas e até essa certeza eu já estava colocando
em cheque, porque com esses ventos, torna inviável eu tentar chegar até o
camping e pela primeira vez pensei que eu iria ter um “piripaque”, ou ia ter um
troço, um ataque cardíaco. Não deu o ataque do miocárdio. Não morri. Estou
escrevendo. Na vida, uma das coisas que sempre gosto de fazer é persistir,
principalmente quando o inesperado dificulta o meu dia; pois, como diz o
ditado: de forma atabalhoada fui seguindo o meu caminho, pedalando, parando;
assim tal a letra de uma velha música: caminhando e cantando e seguindo a canção;
enfim, cheguei no camping Poente na cidade de Mostardas, Rio Grande do Sul. Na
verdade, só agora eu posso dizer, até que cheguei cedo, porém o desespero
devido aos ventos contra, induzia-me a imaginar que chegaria à tarde.
O camping Poente na
cidade de Mostardas, foi um grato privilégio de ali eu me hospedar, a começar
pelo proprietário que parecia mais um colega de acampamento e ele gremista
doente, eu lá de São Paulo, corintiano nato. No camping, eu experimentei o
melhor camarão do Rio Grande do Sul, melhor porque o proprietário disse ser
melhor, não concordei muito, entretanto como eu não paguei, então disse que era
uma delícia, o camarão era mesmo uma delícia, também nem tanto para
dizer que era o melhor.
Devo apresentar aqui
nestes meus relatos, ainda não sei se é livro ou continua sendo apenas um
diário, outro ciclo viajante, o Hélio, estava hospedado no camping já há uns
quatro dias porque permanecia convalescendo de uma contusão na perna. Todavia,
eu já adiantando o expediente aqui na leitura, ele irá seguir comigo até a
cidade de Rio Grande no começo do Cassino. Ele faz suas viagens de bicicleta no
estilo bikepacking (O bikepacking é a modalidade de viagens feitas com mochilas
e bolsas presas na estrutura da bicicleta) e desenvolve um trabalho pela
internet, qualquer lugar que ele tiver existindo o “wi-fi”, estará produzindo.
No camping Poente,
tomamos uma cervejinha para descontrair e pela manhã, bem cedo, no
outro dia, eu saí antes do Hélio, sabia que ele me alcançaria. Às vezes é bom
trocar experiências no ciclo turismo. Saindo do camping na cidade de Mostardas,
a próxima à parada seria outro camping, que já de antecipadamente digo que não
encontramos e o pedal só não iria ser mais puxado do que o de depois de amanhã,
esse era o motivo de eu sair cedo. Essa estrada é um “retão” interminável, como
venho falando já há uns quinhentos quilômetros atrás e quando você sai, já no
asfalto, a impressão é que você vai para o limbo; não tem nada, nem postos de
gasolina, nem comércios, nem cidades. O gerenciamento especializado é de suma
importância, a logística desse dia tem que ser minuciosa, se não você acaba
perecendo. O pré-requisito para estas incursões é apenas um, a água; ou você
leva uma quantidade suficiente quando entra nesse módulo, limbo, ou
você sucumbe, entenda por quais motivos de eu sair mais cedo, bem
antes do Hélio, minha bicicleta carrega muitas bugigangas e a dele é bem
simplificada bikepacking. Eu já tinha conhecimento que a
uns vinte quilômetros, mais ou menos, existia uma pequena cidade com o nome de
Tavares. Os ventos ainda estavam levemente contra, no entanto, direção noroeste
o que significa que ele vinha lateralmente, estava perfeito para secar a camisa
de suor.
Desde que saí, no início
da expedição na minha cidade, eu levo comigo um cooler de cinco litros e ainda
não tinha utilizado, então entrei na cidade de Tavares, parei em uma oficina,
no início da cidade e pedi para encher o cooler, tudo pode acontecer no limbo
do vazio, até eu ter que acampar na natureza, porém não pode faltar água para
cozinhar, beber, fazer café e sobrando um pouco mais para o devido banho.
Quando eu estava na entrada da cidade enchendo o cooler de água, eis que chegou
o Hélio, algo que ele tem sempre e nunca falta, é a tal da fome, de imediato,
antes de dar bom dia, veio indagando onde teria uma padaria ou algum outro
lugar que ele pudesse tomar o café. Cidade pequena tudo é fácil, mais uma vez
ele seguiu até o local do desjejum e eu voltei para estrada, mas não demorou
muito para alcançar-me. O cara quando é gente boa, ao me alcançar disse o
seguinte: parei na padaria, comi dois cachorros quentes e trouxe um para
você, é quase igual um almoço. O que eu digo é o seguinte: pensa num
cachorro-quente que você nunca comeu na vida, tem de tudo ali dentro, esse
ainda era melhor, depois deste instante seguimos juntos e fomos ate o início do
Cassino.
O Hélio é um
especialista em plantas, frutas silvestres PANC, apresentou-me o “araçá-rosa e
butiá”, fomos chamados para fazer uma série na Discovery Channel, cardápio
selvagem.
Hélio é um morador
de Santa Catarina, próximo de Urubici e conhecedor das plantas
nativas, até brinquei que a gente ia ser contratado pelo “Discovery”
para fazer um programa do estilo “Menu Selvagem”. Quando estávamos na estrada
ele disse: encontrei o café da manhã e mostrou-me uma frutinha no pé, araçá,
nas modalidades amarelas, vermelhas, e outras. A planta é um pequeno arbusto,
pode até pesquisar no “Google” para ver, entretanto, pensa numa frutinha
deliciosa e saber que o trecho que fiz antes do camping Poente, onde encontrei
o Hélio, eu vi vários arbustos dessas plantas, o aprendizado é ótimo e o Hélio
é um perito, principalmente dessas “PANC” regionais -, PANC: conheça
as plantas alimentícias não convencionais. A única coisa que sinto é que
desconhecia o Araçá, mas a vida que segue.
Depois de quase noventa
quilômetros de pedal, chegamos a Bojuru, Bujuru (às vezes grafado como Bojuru)
, uma cidade pequena quase próximo à cidade de Rio Grande, calculo que em cem
quilômetros e é o que faremos amanhã, porque hoje encontramos em um centro
cultural abandonado uma mini floresta, um cantinho selvagem para a gente montar
a barraca, fazer a nossa comida e pernoitar. Hélio, garoto esperto,
conseguiu até o wi-fi de uma casa nas proximidades do nosso camping, é certo o
quê tínhamos que ir até o meio do mato para conseguir conectar, entretanto, foi
interessante. Algumas fotos postadas no “Instagram”, outras novidades do
“Facebook” e dar um alô para família no “WhatsApp”.
A noite foi chuvosa, mas
a barraca aguentou o tranco e é assim que deve ser. No amanhecer, juntamos os
pertences, cada de nós fizemos nossos devidos cafés, devido preferências
diferentes e caímos na estrada. Ainda continua reta e será por mais cento e um
quilômetros, daqui do camping selvagem na cidade de Bojuru RS, até
atravessar a balsa de São José para a cidade de Rio Grande. Entendo que se
ficar aqui relatando o que nos aconteceu, nos por menores, será apenas
repetição de ontem. O tempo todo colhendo Araçá, até enjoar, a outra fruta que
esqueci o nome, lembrei: butiá. Caso alguém perguntar se acabaram as goiabas,
vou dizer que não, é que ficou muito trivial falar dessa fruta. Que sorte, as
três frutas maduras nessa época, tomara que quando, se de novo eu vier fazer
essa expedição ou uma jornada como estou preparando até o Ushuaia, encontro
essas farturas na estrada: a goiaba, o araçá e a outra que esqueci o nome,
lembrei: butiá.
Já chegando ao final
dessa parceria, porque ao chegar na cidade de Rio Grande o Hélio seguirá outros
caminhos. Atravessamos a balsa da cidade de São José a Rio Grande e chegamos ao
Chuí. Para pernoitar, fomos até um camping e devido aos caminhos diferentes a
serem seguidos a partir de amanhã para ambos, nós compramos algumas cervejinhas
e algo para cozinhar e festejar está nossa parceria e o final dela, amanha será
outro dia e “alone”, sozinho não, sim, com Deus, cada um fazendo o seu destino
eu entrando no limbo do abismo horizontal de duzentos e quarenta quilômetros de
praia, e o Hélio tomando rumo aos seus compromissos.
Praia do Cassino, primeiro dia.
Antes de pisar nas
areias do Cassino, necessita-se de uma logística muito bem apurada, levando-se
em consideração que são aproximadamente duzentos e quarenta quilômetros de um
abismo horizontal. O único ponto de apoio que temos é a Marinha do Brasil no
farol de Albardão, bem no meio. Será? “risos”. Particularmente nessa minha
história, eu cometi um erro sobre a localização da Marinha e quase pereci.
Entretanto, vou deixar mais para frente para que eu possa falar sobre. Praia do
Cassino não é lugar para se cometer erros, porque a resposta pode ser fatal.
Além desses, cometi outro erro que poderia ser fatal, mas deixa para depois.
Calculando que a Marinha
do Brasil, farol de Albardão, está situada bem no meio do itinerário da Praia
do Cassino, Santa ingenuidade minha, enchi um galão cooler de cinco litros e
mais uma garrafa de dois litros e meio, totalizando sete litros e meio,
pois calculava ser uma quantia razoável. Sai do camping bem cedinho
e direcionei-me ao início da praia, não vou explicitar, entretanto, foi um
trabalho imenso para adentrar as areias fofas. Nesse exato momento, quero
deixar registrado a minha sensação ao estar pisando pela primeira vez em solo
sagrado do Cassino e no marco zero da minha expedição. “Solo sagrado”, forcei
um pouquinho a barra, porem dígamos que nesse momento sou eu e esse abismo,
tanto posso chegar até o final, como posso permanecer nele pela eternidade.
Quando a gente está preste a fazer algo desconhecido, inusitado, fora do comum
para minha espécie, ou simplesmente diferente; as minhas sensações, devo
admitir que estou sentindo as agora, minhas sensações são de um frio na
barriga, a expectativa, uma mistura de medo, euforia, seja lá o que Deus quiser
e vamos lá! Quando isso acontece, vou passar o remédio que estou tomando agora:
eu paro por uns cinco minutos, me desligo de tudo; desvio meu pensamento de
tudo o que possa vir de forma involuntária; concentro-me no universo; faço a
respiração contando quatro na inspiração, quatro eu seguro nos
pulmões, quatro eu libero; elevo meus pensamentos aos deuses
criadores, ou criador desse universo, seja ele qual for, seja
ele independente de qualquer coisa; em meditação, entrego-me aos seus desígnios, se
for para eu fazer farei, se for para eu voltar, voltarei, se for
para eu ficar ficarei, e ainda solicito as suas proteções. Tudo isso que falei
é apenas para dizer que permaneço cinco minutos em silêncio, deixando a euforia
baixar e sigo viagem meio que sem pensar.
Nos primeiros cinco
quilômetros da Praia do Cassino, a gente consegue pedalar na pista
batida por onde passam os carros. Acredito que deva ser um fluxo mais elevado
de veículo, por que estou afirmando isso? Porque adiante fica intransitável.
Vou tentar explicar. De um lado o oceano, nas suas margens onde as ondas
arrebentam e começa a areia, não podia ser diferente, pois é uma praia,
entretanto quero especificar detalhadamente o que a gente observa por aqui. Da
arrebentação das ondas onde começa a areia e seguindo em direção ao continente
em linha reta, serão aproximadamente uns mil metros para começar algumas
pequenas dunas, onde nascem gramas e arbustos ressecados e
espinhosos. Os raros veículos que transitam por ali, não circulam na
arrebentação e sim há uns cinquenta a cem metros da água onde deixam as marcas
na areia. Deixa-me dar a triste informação aos viajantes de bike,
por onde passa esses veículos e quanto mais marcas tiverem no chão, mais fica
impróprio para bicicleta, que é de atração animal. Mesmo que tentasse fazer um
pedal por onde passa os veículos, fica intransitável, porque as rodas entram
nas areias e acaba derrubando o ciclista, pelo que consegui diagnosticar aqui,
se alguém tiver uma explicação diferente, fique à vontade.
Deixa-me dar uma
informação, não muito agradável, segundo o pessoal da Marinha e os
pescadores que abordei, muitos veículos acabam encalhando e em resumo eu digo
que depois do quinto quilômetro, mais ou menos, o ciclista só vai ter condições
de trafegar a praia do Cassino na arrebentação das ondas quando a maré está
baixa, pelo menos isso aconteceu comigo. Tudo isso que falo, são sensações que
sinto agora, no início do Cassino.
Aqui é um bom lugar para
a gente ter e sentir a sensação de infinito, já estou pedalando a uns quinze
quilômetros e até agora ainda nenhum carro, moto, alma
viva. A ilusão de infinito é quando você para, olha para um lado
e outro, e sente a visão do abismo horizontal. Notando esse abismo
horizontal, a gente não tem medo, nem angústia, nem muito menos
outras sensações análogas. Uma ilustrar figurativa e de forma bem rudimentar,
não sei se possa encaixar, entretanto, é a sensação de uma estrela,
a bilhões e trilhões de ano-luz de qualquer outro corpo, qualquer outro astro,
ou qualquer outra, qualquer coisa. Ensejo buscar mil palavras apenas
para dizer que a gente não sente nada, exceto a imensa paz. Exceto a sensação
de eternidade. A não ser a unificação do eu com o todo. Viajei nas palavras e
não consegui responder, mais adiante tentarei decifrar o que é a sensação do
infinito que a gente se encontra quando está aqui na Praia do Cassino.
Estou passando nesse
exato momento em frente ao “Navio Altair, pego por uma forte tempestade, que o
fez naufragar ao sul do litoral gaúcho, no inverno de 1976, o Navio Altair
permanece encalhado a cerca de 12 quilômetros à direita da avenida Rio Grande,
a principal do balneário, constituindo hoje em mais uma das atrações turísticas
da Praia do Cassino.” As minhas reflexões com relação a tudo que pertence à
natureza, mais cedo ou mais tarde a incorporação será feita. Vamos tentar
visualizar um pensamento, quando esse navio naufragou há alguns anos, acredito
que daria até para acampar em seu interior. O mesmo tempo que transforma um bebezinho
em um velho, é o mesmo que vai degradar tudo até as galáxias e o
navio, até se tornarem o tudo em nada. Pela forma que ele se
encontra agora, o navio Altair um dia, formoso, nesse instante retorna ao berço
mãe da grande Gaia, a terra, assim como nós, um dia, nos transformaremos em
sol, talvez alguns bilhões de anos.
Acabei de passar por um
arroio, estes são esses pequenos rios que cortam do continente para o oceano e
no trajeto todo da Praia do Cassino, são muitos. É um ótimo lugar para se repor
o reservatório de água, caso aconteça algum incidente e creio que seja potável,
principalmente no tocante a produtos químicos, porque de onde elas vêm, no
continente, é uma reserva segundo o (Wikipédia) “A Estação Ecológica do Taim é
uma unidade de conservação de proteção integral da natureza localizada no sul
do estado do Rio Grande do Sul, com aproximadamente 30% de seu território
estando no município de Rio Grande e 70% no de Santa Vitória do Palmar.”. O que
pode haver nessas águas são algumas bactérias patogênicas, “Escherichia coli” e
outras que não saberei citar aqui, mas que existem, elas existem, nada como ter
um purificador, ou aqueles comprimidos de cloro que conhecemos por “Clorin” ou
simplesmente água sanitária, mais conhecido como “Candida”
Como eu estou no meu
primeiro dia ainda, no início desses relatos, relatei aqui que trouxe comigo
sete litros e meio de água, sendo um “cooler” de cinco litros e uma garrafa pet
de dois litros e meio, então não vejo necessidades, porque passando estes arroios
ou digamos pequenos riachos, posso me socorrer, eles são de água doce.
Estou ao lado de um
hotel abandonado em ruínas “Hotel El Aduar”. Poderia acampar aqui, entretanto
no meu caso, que estou de bicicleta, fica inviável, é muito cedo, todavia
acredito que quem esteja fazendo a praia do Cassino a pé, é um bom local de
acampamento com pernoite, porque ainda restam alguns resquícios de paredes, só
não sei até quando, semelhantemente ao navio Altair naufragado.
Desde o dia dois de
fevereiro que iniciei a expedição, hoje oito de março, no meu primeiro dia na
Praia do Cassino, eu decidi que essa minha travessia seria uma travessia “zen”.
Como assim, tranquila? Sim. Sem pressa, sem estresse. Traduzindo em compreensão
lógica significa que se for para gastar três dias, vou ficar cinco, se cinco,
gasto dez. Não é sempre que estamos imersos em uma praia deste naipe, a Praia
do Cassino. Uma travessia sem estresse, sem pressa e aproveitando de tudo que o
conjunto da ópera lhe oferece.
Agora deve ser umas
13h00min e estou às margens de um arroio, ou um pequeno riacho que corre do
continente para o mar, fui informado que se você margear as laterais do riacho
a dento encontrará grandes piscinas. Vou encravar minha bandeira neste
esplendido local, daqui não saio e ninguém me tira. Primeiramente,
segundamente, terceira e quarta mente, é o meu merecido relaxamento nas águas
morna e doce, tirando os resquícios dos sais da minha testa. Quero ter a
sensação de nosso senhor Jesus Cristo no rio Jordão. Desejo parar no tempo até
o momento de montar a barraca que acredito que vá demorar. Ambiciono fazer um
desligamento temporário em mim e me dar esse presente do banho até o momento de
fazer minha comida, porque comer agora é segundo plano. Anseio parar os
ponteiros do relógio e desfrutar dessa imensa banheira quente. Aspiro parar no
tempo, congelar o espaço-tempo apesar do calor que acontece agora e contemplar
a realidade, o tempo que não existe quando estamos em pleno mês de março na
Praia do Cassino e refrescando-se na imensa piscina dos arroios que vem do
continente para o mar. Sei que após parar todo esse tempo e fazer minha comida,
e montar minha barraca, eu tenho todo o tempo para o jantar, para as imagens do
mar, e do lado inverso ao leste do oceano, o pôr do sol. Só uma reflexão: como
sou pobre! Acredito que possa alguém pensar assim! Eu e o mar; eu e a praia; e
pôr do sol, e a brisa que vem do mar, amena; e a piscina de águas mornas; e à
noite plena para dormir.
O sol se pôs. Escureceu.
A brisa continua. Eu sentado olhando o início do nascer da lua cheia. Outro
tipo de claridade começa a surgir, do qual nunca havia notado; uma claridade
prateada da lua. Minha primeira abertura de boca, bochecho, porque meu relógio
biológico já cobra o sagrado sono. No interior da barraca, deitei, fechei os
olhos e como um passe de mágica já estava no outro dia. Bom dia!
Estou vivo. Amanheceu e
ainda está escuro. Agora em que relato, eu estou deitado no interior da
barraca; não está calor nem frio; apenas o som do mar. Manhã do
primeiro para o segundo dia em acampamento no Cassino. Não clareou, apenas
começou em um tom alaranjado a leste, sinalizando a vinda do astro-rei. Estou
sentado no isolante térmico e uma particularidade da minha barraca, nela tem
como se fosse uma janelinha de tela em sua frente e antes de eu descer o zíper,
fico observando uma leve claridade que vem da direção do mar. Dispensa eu dizer
sobre o eterno som das ondas quebrando na areia, apesar de onde estar a minha
barraca, dá uma distância de mais ou menos uns duzentos metros.
Minha pretensão aqui, é de escrever a sensação segundo por segundo,
então dando sequência na cronologia da minha manhã, eu abaixo o zíper da
barraca. Agora a brisa que vem do mar, invade todo o espaço existente no interior
da barraca e me embriaga, fico inebriante com um aroma característico que
podemos identificar só quando estamos na beira do oceano. É uma fragrância de
peixe fresco, misturado com camarões, lagostas e outros frutos-do-mar,
entretanto o aroma suave. Ainda está escuro, saio da barraca tomando
as precauções de colocar, primeiramente na areia, o pé direito, apesar de eu
não ter muito essas crendices. Estou sozinho, eu e o universo; o oceano não se
importa se vou seguir viagem, ou vou ficar com ele eternamente nessa
praia. Quando eu saio da barraca e tomo aquela posição de braços
abertos, sinto a brisa que passa pelo meu corpo, se eu fechasse os olhos agora,
era como se um imenso véu estivesse deslizando por sobre mim.
Antes do sol nascer já
providenciei o meu café, pois a facilidade de fazê-lo é muito grande, cafeteira
italiana é muito prática. Resolvi deixar pronto o café antes de o
sol surgir no horizonte, porque a minha ideia era ir até próxima arrebentação
das ondas, sentar e apreciar o momento e de bônus um cafezinho fresco e assim
eu fiz. Deveria classificar aqui por notas, contudo os três bônus que tenho
são: em primeiro lugar, relato o meu momento e sentado um pouquinho depois da
arrebentação do mar, aguardando o nascer do sol, ficarei estático até quando o
astro-rei, o sol estiver me observando; segundo lugar, o pôr do sol semelhante
ao nascer, é maravilhoso, ambos são nota dez, queria eu dar uma nota maior,
entretanto não existe, ansiava eu em poder dizer qual é mais espetacular,
todavia também não consigo, esperava eu falar alguma coisa e encontrar alguma
diferença entre o pôr e o nascer do sol, também não tenho palavras; o terceiro
bônus aqui, é que por sorte ou por azar, apesar das dificuldades da lua cheia
devido à alta das marés, o terceiro bônus é apreciar a noite com a lua no céu,
parecendo uma bola de basquete iluminada e
prateada. Nesse último, existe algo diferente, uma
experiência inédita, sempre quando sinto algo inédito, quero dizer que é para
mim, até sei que muitas pessoas já viveram esta sensação; a experiência do qual
o relato é da adaptação dos olhos para a claridade da lua noturna. As
configurações das suas córneas mudam, elas reduzem o foco, ajustam-se
automaticamente e possibilita uma nova imagem à luz prateada. Retrato o meu
amanhecer, anoitecer, a lua, o acampamento, as brisas e muitas outras, se por
um acaso quiserem ver essas imagens elas estão no “Instagram”, “YouTube” “tik
Tok“.
No trajeto que faço
agora no Cassino e talvez bem antes, percebi a necessidade do
minimalismo. Há uns cinco minutos, fazendo o meu pedal nas rebentações das
ondas, acabei deixando a bicicleta cair, falando o português correto, o mar me
derrubou, e danificando os alforjes de balde de margarina, então tive a
necessidade de retirá-los, ele havia sido avariado. Eu sei que toda a extensão
da Praia do Cassino é inimaginável, entretanto os lixos produzidos, devemos
conduzir até um ponto de apoio e assim eu fiz, deixando os com uma caminhonete
que tinha pequena carretinha, eles levaram os restolhos da minha bicicleta para
a cidade.
Talvez não seja
necessário colocar isso, um pano em volta da cabeça, pensa, quando o
sol vai subindo a pino, estando no alto da cabeça da gente, o forno de estufa
liga-se, não devo reclamar, porque ainda sobra a brisa. Para tentar diminuir a
sensação de calor, utilizando a técnica dos árabes, eu enrolo uma camisa que
deixo especificamente para isso, turbante em minha cabeça. Entretanto, na hora
que a gente molha essa camisa em um arroio, aí episódios maravilhosos
acontecem. Eu tinha até vontade de molhar a camisa nas águas do mar, entretanto
como não sei qual seria a sensação de ter um pano com água salgada na cabeça,
nem experimentei. Mas os arroios que vem do continente em direção ao mar com
suas águas doces límpidas, essa oportunidade eu não perco. No momento que você
molha a camisa e põe na cabeça, é indescritível, existe uma sensação
psicossomática que parece que dá mais força no pedalar.
Caso alguém for estar em
“módulo” sobrevivência neste lugar, tenho a plena consciência que a pessoa não
terá dificuldades, começando pelos riachos de água doce. Por toda a extensão do
oceano, em que venho pedalando, eu observo pequenos crustáceos, siris ou
caranguejinhos que se enterram na areia e são muitos. Outra
observação que tive no deslocar por toda a extensão do Cassino, é que em alguns
pontos pessoas vem pescar de forma manual e além desses, existem os pescadores
profissionais, quando a gente passa pedalando nas areias, vê aquela corda
esticada que vai até a rede e está mar adentro, não sei a distância, entretanto
não é muito. E por que é que eu falo isso? Nota-se que esse pessoal, tanto os
profissionais como também aqueles de fim de semana, fazem suas pescas, creio
que uma boa linhada o sobrevivente possa pegar algo. Tem pequenos caranguejos,
pode cronometrar, em questão de dez minutos é suficiente para encher uma caneca
média desses pequenos caranguejinhos, ou sirizinhos, se assim poço
denominá-los. O que sei é: ninguém irá ser um nômade nesse lugar, devido à
imensa solidão, a gigantesca, a ausência de qualquer coisa, a não ser o oceano,
a praia, a areia e o sol.
Estou passando neste
exato momento em frente ao primeiro farol, “Sarita”, não é o Albardão, onde
está a Marinha, o farol, Sarita encontra se desativado. Entretanto, nem digo
que fiz uma confusão, vou dizer sim: das minhas logísticas de águas e pontos de
apoio, calculei que a Marinha estivesse bem no meio da rota, ou itinerário,
sendo a praia do Cassino duzentos e trinta, então estaria a Marinha a cento e
quinze quilômetros, mas, para infelicidade, ou até possível fatalidade minha,
estava um pouco mais adiante, vocês vão perceber que por esse erro infantil
quase que arrumo complicação, porque a Marinha está a cento e cinquenta
quilômetros da cidade de Rio Grande e oitenta da Barra do Chuí,
pequeno detalhe vai fazer a diferença mais adiante. O primeiro
farol, este que estou passando ao lado, é o “farol, Sarita”, a distância dele
até Rio Grande é de cinquenta e oito quilômetros, por aí percebe se que algo
está errado, até a Marinha, deste ponto que estou, ainda tem mais de noventa
quilômetros. Essa informação que passo aqui e agora em que estou
relatando, não é a informação que eu tenho conhecimento agora. Na minha santa
ingenuidade, quando vi esse farol, Sarita, pensei que já fosse a Marinha. Todo
cuidado é pouco ao fazer a travessia do Cassino, um pequeno erro pode ser
fatal. Não devo ser tão dramático no meu escrever, porque fatalidade seria se
não houvesse esses arroios de quilômetros a quilômetros. Não tão perto assim como
eu disse, entretanto, a cada dez a quinze quilômetros a gente percebe pequenos
rios fluindo do continente para o oceano, uns com maior quantidade de água,
outros com menor, porém é o suficiente para socorrer um peregrino ou um
aventureiro desavisado.
Uma coisa interessante,
eu sei que já falei sobre, é a sensação abismo para o horizonte; como assim
abismo horizontal? Você olha para um lado e não tem profundidade,
semelhantemente ao outro lado. A sensação de eternidade do oceano, já que ele está
ali o tempo todo com as suas eternas águas arrebentando na areia e produzindo
um som de trovoada, mesmo o céu estando azul, o sol queimando a cabeça da
gente.
Sem conseguir
chegar à Marinha e não entendendo o erro que cometi, porque por toda a extensão
da Praia do Cassino a forma de GPS é muito rudimentar e internet zero, em minha
mente imaginando se não tinha pedalado o suficiente, porém
percebendo que já estava tarde, então procurei um local para acampar. Talvez
por eu pensar que o hoje estivesse na Marinha do Brasil, eu gastei muita água e
ao fazer a comida percebi ter só o fundinho do cooler. Na Praia do Cassino, de
todo o azar que você tem, de todas as falhas que você comete, dos deslizes de
não fazer umas logísticas perfeita, eu digo que apesar de tudo sou presenteado
por um grande bônus, tenho como brinde, o acampamento de hoje, ao lado de uma
represa de água doce, é um fio de água pequeno que armazenou em forma de
piscina e desce uma pequena quantidade para o mar. Ajuíza bem meus caros
leitores, É nesse lugar que vou montar acampamento. Nada, por coisa nenhuma,
pode ser melhor, acredito eu; pois a combinação certa é a piscina de água doce
para o banho demorado, totalmente sem roupa, peladão de corpo e alma, o local
de areia fofa para montar a barraca, aguardar um pouco do entardecer para
cozinhar a janta. Sentado dentro das águas mornas dessa piscina, eu
fico imaginando se qualquer outro lugar, daqueles bem chiques, que a gente ouve
falar por aí tipo Cancun, México, Ka’anapali Beach – Maui, Havaí, EUA, Maldivas,
possa ser melhor do que esse momento. Tem se a sensação de proprietário do
universo, o herdeiro de tudo isso, porque somos filhos do Criador. Ao citar a
palavra “Criador”, não quero anexá-la ao pensamento judaico cristão, nem também
a forma de ver a espiritualidade do budista ou hinduísta, ou como descreve os
muçulmanos, ou quaisquer outras formas de divindade. Remete nos a
um paradoxo isso que eu quero dizer, não é nenhuma forma dessas
divindades acima e é todas as formas dessas divindades acima. Eu sou o filho
dele, dEle com e maiúsculo, pois sou o proprietário de tudo isso, quem poderá
dizer contra nesse meio de mundo, longe de tudo. Antes de entardecer
totalmente, resolvo fazer a minha comida e deixá-la pronta para noite, um
jantar as margens do oceano, com as minhas costas acontecendo o pôr do sol, ou
o inverso: o pôr do sol, com as minhas costas o oceano. Tudo que eu poderia
complementar sobre o anoitecer do segundo dia, eu vou me furtar em dizer por
que estaria expondo uma história repetida de ontem. Ontem não chovia e estava
uma noite perfeita, hoje também; hoje o sol se pôs a oeste e o mar arrebenta-se
a leste nas praias, ontem idem; o mesmo, nos detalhes e até a Lua do mesmo
formato.
Amanheceu o terceiro
dia, tenho uma dúvida se eu escrevo minuciosamente, com requintes de
detalhes, entretanto serei repetitivo; o que eu posso relatar de diferente hoje
que eu não vi ontem nos relatos descrevi. Todavia em poucas
palavras. Ainda está escuro e saio da barraca. Caminho até o mar mesmo antes de
clarear o dia. Sinto todos aqueles aromas do qual descrevi anteriormente, no
dia de ontem e fico dando um tempo até o sol surgir no horizonte, observando a
lua e a sua magnitude. Areia está gelada agora, na manha que não clareou ainda,
com as águas do mar passando por sobre meus pés. Faço o café e aprecio a
natureza. Quando a gente está na praia do Cassino no esquema de aventura em
vários dias, com intervalos de acampamentos, o que acontece é perder a noção de
tempo e de espaço. Hoje pela manhã eu já estava confuso, apesar de ser apenas o
terceiro dia; a impressão que temos, é que estamos nesta praia a uma
eternidade, não o que a gente queira ir embora, apenas perde a noção. Ontem à
noite, já percebendo a escassez das águas e só para lembrar, lá da cidade de
Rio Grande eu saí com sete litros e meio; e, ontem à noite, seria meu segundo
acampamento resumindo, sete litros de água não foram o suficiente para dois
dias. A água não tinha acabado, entretanto, acredito que deveria ter perto de
uns meios litros. Entendo que hoje, a distancia de uns dez quilômetros, tem a
Marinha, onde posso me socorrer e repor meus mananciais de água que acabou,
porém, para não ter surpresa, eu vou encher minha garrafa PET de dois litros e
meio de água da represa, a que tomei banho. Tenho certeza que não há
contaminação química, entretanto alguns patogênicos possam existir e para cada
litro de água, eu coloquei a quantidade de três gotas de água sanitária,
hipoclorito de sódio, tudo isso ontem à noite, agitei bem a garrafa e guardei
para que eu não fosse surpreendido no dia posterior. Ainda, ontem à noite, ao
fazer o meu jantar, assim como hoje de manhã o café, eu utilizei a água do
riacho e guardei o resto da potável para beber. Já sabendo que caso
aconteça alguma anormalidade, eu tenho dois litros de água purificada com
cloro, não é meu intuito tomar essa água, porém se acabar o meu restinho de
água potável, farei o uso dela com toda certeza. Por isso agora, nesses
relatos, venho com dicas ao fazer esses tipos de aventuras, não só o Cassino,
como qualquer outra; tenha em mãos com purificador de água, pode ser do tipo
filtro que vendem em lojas especializadas, também pastilhas de cloro, não
havendo possibilidade dessas pastilhas, devido à dificuldade em comprá-la, uma
boa e velha água sanitária, nós nunca sabemos quando estaremos numa situação
real de falta de água.
Hoje não será tão
difícil, porque apesar do engano de ontem, que imaginava chegar a Marinha, ele
agora está apenas a dez quilometro de onde acampei essa noite. Retrocedo aqui
mais uma vez com uma grande redundância, sendo repetitivo, a Marinha não está
na metade da Praia do Cassino e sim a cento e cinquenta quilômetros de Rio
Grande, passando a Marinha até a Barra do Chuí, mais oitenta. Duas são as
opções, ou você estica e faz os cento e cinquenta quilômetros, dividido em dois
dias, ambos de setenta e cinco, ou já ciente disso, se prepara para dois
acampamentos, totalizando em três dias até a Marinha, assim como aconteceu
comigo, que, na verdade, esse último, eu espero ser o melhor.
Certas coisas eu não
consigo entender, por exemplo, a pessoa vem fazer a praia do Cassino e quer
voar baixo, eu vi um vídeo em que um ciclista fez a praia do Cassino em um dia.
Apenas não consigo entender, tendo uma possibilidade ímpar de aproveitar essa
aventura, acampando, nadando nos riachos, arroios, vendo o pôr do sol e o
nascer com toda tranquilidade, até quem sabe trazer linhas e anzol para pescar,
eu não entendo como alguém não faça isso. No mínimo, a praia do Cassino para um
aventureiro de bicicleta, deve ter se dois acampamentos antes da Marinha e
totalizando três dias em duas noites nos seus cento e cinquenta quilômetros,
após pernoitando na Marinha e depois, dois dias nos seus últimos oitenta
quilômetros. Se estiver de bicicleta, traga no mínimo nove litros de
água para poder fazer um percurso tranquilo, mas se você levar o filtro ou as
pastilhas, aquelas águas dos arroios são potáveis e água doce. Bicicleta, até
dá para levar os dez litros, nove litros para uma aventura a pé, fica um pouco
mais complicado, então caso for fazer essa aventura caminhando no estilo
peregrinação, traga consigo os purificadores de água.
Nos dez quilômetros de
hoje, que faço até a Marinha, o que mais vejo na praia são os
pequenos crustáceos, os caranguejos, entretanto quando neste itinerário percebi
uma tartaruga viva, porém encalhada e debilitada há uns três metros das
ondas. Pela minha percepção, mesmo na maré alta, não iria atingi-la,
por todo esse trecho que fiz até agora, eu vi várias carcaças destes répteis,
tartaruga, que deva ter acontecido à mesma coisa. Portanto, utilizando do lema:
faço bem sem querer saber a quem, dei uma forcinha a ela, colocando a nas águas
do mar. A cena mais emocionante foi vê-la com todo o sacrifício querer ir lá ao
mar adentro. Deparei também com pescadores puxando a corda que fica
estendida na praia. Quando você passa pelo Cassino, de uns trinta a quarenta
quilômetros, uns trinta a quarenta quilômetros, você vê cordas que sai dentro
do mar em direção ao continente. A princípio, não tinha conhecimento da
utilidade, entretanto fazia uma ideia, mas ao abordar um pescador com o seu
trator, ele disse-me que a rede fica ancorada em alto mar, não tão alto assim,
entretanto uma boa distância da praia e presa àquela corda, de tempo em tempo,
eles vem e arrasta a rede para fora, como o que estou testemunhando agora, só
não sei como que eles levam a rede até aquela distância em alto mar, porque o
mar é muito revolto. Nem sei, nem perguntei.
Cheguei à Marinha, agora
são umas dez e pouco, apesar de sentir aquela tranquilidade de estar salvo,
porém, a preocupação. O que falo agora, faz parte do contexto da história,
entretanto que sirva como dica importante. Ao programar uma aventura, seja de
bicicleta, seja a pé, não se esqueça de contactar a Marinha na cidade de Rio
Grande e informá-los que vai passar pela base, Farol do Albardão, pois eles
enviam um memorando aos marinheiros que estão na base para recebê-lo, caso
contrário, a Marinha não tem obrigação de lhe socorrer, apesar que em situação
de necessidade eles socorrem, entretanto, esse é o ritual. Quando eu cheguei na
Marinha, eu sabia que eu tinha falhado nesse quesito, entretanto que só me
permitisse repor as águas e dar uma carga no celular e para mim já estava
ótimo, porque eu acamparia fora dos terrenos militar, ou fora do espaço de
segurança federal, acho que estou ficando biruta. No instante que fui atendido
pelo marinheiro, ele perguntou se eu havia passado no departamento, se assim eu
posso dizer, da Marinha em Rio Grande e eu exibi a minha falha. Diretamente,
levei uma bronca, até porque sou militar aposentado e não poderia ter cometido
esse erro, entretanto eu disse a ele que só queria água e poder dar uma carga
no celular. O marinheiro comunicou aos seus superiores imediatos e determinaram
que a Marinha me socorresse, com tudo o que esta instituição militar pudesse
fazer ou mais. Digo aqui, tudo que a instituição pudesse fazer ou mais, porque
nunca na história deste cicloviajante, fui tão bem recebido. Logo de início já
me deram banana e bolacha, dizendo que era para segurar até a hora do
almoço, convidaram-me para almoçar, instalaram-me no alojamento com
banheiro, cozinha, geladeira e beliches. Almocei com eles, a comida estava
maravilhosa, conectei o “wi-fi” no meu celular para saber notícias da minha
esposa Irene, a última informação é que ela convencia de covid. Voltando ao
passado um pouco, na manhã do dia oito de março, quando estava no camping
pronto para ir em direção ao Cassino, minha esposa, informou-me que tinha
diagnosticado o covid, e olha a minha situação, quando entrei para o abismo da
Praia do Cassino e iria ficar quase três dias, “offline” sem comunicação
nenhuma e a última notícia que eu havia tido é a situação da enfermidade de meu
amor. Compreendo que essa doença agora não está como outros tempos, entretanto
devemos nos precaver. Entendo tudo isso, porém ficar três dias sem comunicação,
sem saber o que está acontecendo, é um pouco difícil. Voltando agora a Marinha
no ponto em que parei. Já com “wi-fi” no celular, contatei com a esposa, ela
disse estar tudo bem, entretanto era daquela maneira, pois nos comunicávamos
por áudio, era assim, ela dizia: eu estou bem, já estou me recuperando, a tosse
interrompia sua voz, afirmava: estou medicada “cof cof cof”. Não sei se me
senti aliviado por saber que estava sendo medicada e já teria sido
vacinada por várias vezes, ou por eu não estar presente e provavelmente também
iria me contaminar. Esquecendo um pouco esse assunto, tudo que eu disser da
Marinha será a pura repetição do que já falei, somente que eles me convidaram
para jantar, mas eu disse que iria fazer a minha própria comida.
Todas às vezes que tenho a possibilidade de cozinhar, eu faço
sempre um pouco a mais, é o jantar de hoje e a comida francesa amanhã, “Restô
Dedontê”. Noite perfeita
Sai bem cedo, e para
termos uma ideia, a construção, ou o espaço físico da Marinha com seu farol e
alojamentos é bem retirada, areia adentro da praia, o mar está a quase
quinhentos metros. Eu, minha bicicleta, ainda pesada, mas com o auxílio do
marinheiro empurrando-a. Torno mais uma vez lembrar a vocês, antes de partir
oitenta quilômetros até a Barra do Chuí, com certeza mais um acampamento.
Portanto, quando forem fazer essa aventura pelo Cassino e tiver interesse de pernoitar
na Marinha, até porque dá para trazer provimentos até aqui, depois da Marinha
adiante se renova, no quesito água, recarregar o celular, outros eletrônicos e
até o “wi-fi” para poder se comunicar com os entes e amigos. O contacto com a
Marinha na cidade de Rio Grande é de suma importância.
Acredito que virei o
salva-vidas da beira-mar, quando estava fazendo o meu caminho, passei por um
peixe e ao olhá-lo, percebi que ele se mexia. Só uma particularidade, conforme
a gente vai fazendo o Cassino, a gente vê carcaças de
tartarugas, peixes, e quero dizer, peixes grandes. Passei e não
liguei muito, porque pensei: ah, é apenas um peixe, entretanto a minha
consciência não me deixava em paz, o porquê de eu diferenciar entre uma vida e
outra; o motivo de eu banalizar apenas por ser um peixe; a causa de eu
menosprezar, porque era um peixe e não uma tartaruga; será que é porque quando
olhamos uma tartaruga, a gente imagina fofinha e quando olhamos um peixe a
gente imagina um bom prato com batatas. Retornei, e para minha grata surpresa,
as auréolas dele estavam mexendo, quando eu peguei na mão, ele deu uma
sacudida. Imagino que se ele tivesse consciência, iria pensar assim, esse é o
meu fim. Talvez outra pessoa que estivesse passando por ali iria pensar o
seguinte: nossa, que presente que o mar me deu, vou fazer um peixe na brasa.
Pensa num peixe bonito, até parece aqueles que a gente vê nas vitrines das
peixarias. Quando eu o peguei nas mãos, senti que ele deveria ter um quilo e
meio mais ou menos e disse a ele: vai peixinho, vai viver e o coloquei no
mar. Meu intuito, nesse momento, não é fazer
demagogia, até porque sou carnívoro, e sim, irei salvar vidas o máximo que eu
puder, independente, se de peixe, tartarugas, ou qualquer outro ser
vivente. Todas as vidas importam. Ah, sim, salvei um
mosquito, humor.
O que não deve esquecer
quando for fazer o Cassino, além dos filtros que já disse também uma boa lona
que possa lhe proporcionar em alguns instantes sombras. Quando você faz o
pedal, ou a pé, no Cassino, não existe nenhum ponto de sombra, nem mesmo indo
em direção às dunas que são apenas arbustos. Durante o dia e
alguns momentos que são intransitáveis, então, ou você tem que
empurrar a bicicleta ou parar, todavia parar como? Não tem sombra em lugar
nenhum, então agora vem a dica que vou passar e também que fiz, relatando as
minhas experiências vividas a poder de suor e sangue, nem tanto! Tenha um bom
pedaço de sarrafo de madeira para escorar a bicicleta e ela ficar bem fixa na
areia, se possível, cave até um pouquinho onde fica o pneu e acerte o dentro do
buraco para dar firmeza, a lona por cima da bicicleta estendendo por fixador no
chão, pode ser pedaços de madeira, pode ser as estacas da barraca, que tenho
certeza que não vai aguentar muito, porém pedaço de madeira enterrado na areia
é mais resistente, porque você pode estender a lona e ancorá-lo. Pode ter o sol
que tiver, embaixo da lona vai cair a temperatura de forma que você nem
imagina, o local onde está a sombra da lona, a areia vai ficar geladinha, talvez
nem tanto geladinho, porém bem fresquinha e digo com experiência própria, pois
cada vez que eu fazia esse abrigo, chegava até cochilar, agora imagina o sol de
pleno verão praia do Cassino.
Da Marinha até a Barra
do Chuí, eu já disse que são oitenta quilômetros, é claro que não tinha a ideia
de fazer toda essa distância, entretanto o dia estava bom para o pedal, não
cheguei até a Barra do Chuí, entretanto sim, até o vilarejo Hermenegildo.
Chegando no povoado, estava com intenções de procurar um camping, mas o
proprietário de uma casa em construção autorizou-me que eu ficasse ali à noite.
Quando eu estava no
pedal, (retornado um pouco a história) ante de eu chegar ao povoado
Hermenegildo, até tinha procurado um lugar de acampamento,
entretanto como o vento estava nas costas e havia este povoado, imaginei assim,
nem que eu tenha que pedalar à noite, vou chegar até o Hermenegildo, contudo
não cheguei à noite, e sim na luz do dia. E onde eu parei para acampar,
retornado a história novamente, uns dez quilômetros antes, estava muito difícil
de montar a barraca, o vento que vinha em direção ao sul, esse mesmo vento a
favor da bicicleta não possibilitava que eu montasse ali meu acampamento e
sabendo que faltava pouco, então decidir cair na estrada ou quer dizer, cair na
praia, ficou meio estranho esses dizeres com a palavra cair, mas o que eu quero
dizer é: pedalar o restante do caminho. Quando abandonei o acampamento
frustrado, dez quilômetros antes do povoado, devidos os ventos e decidir voltar
para as Areias e fazer o pedal até o Hermenegildo, eu tinha quase certeza que
iria chegar à noite, não seria nada fora do comum porque começa a
anoitecer bem cedo nesta região, montei na bicicleta e seja o que
Deus quiser.
Quando a gente vem
chegando próximo a um povoado, aqui na Praia do Cassino, a gente começa a
perceber algumas movimentações, a gente vê na praia alguns carros do tipo
caminhonetes paradas e as pessoas pescando. Tive contato também com alguns
pescadores profissionais, aqueles que puxam as cordas que estão ancoradas as
redes em alto mar. A sensação e que se necessitarmos socorro, começa a se
tornar mais fácil. Depois que a gente sai de uma extensa área desértica da
praia e começa a sentir a presença da civilização, o sentimento é uma mistura
de saudade, euforia e tristeza, não aquelas do tipo de angústia e sim a
melancólica, a nostálgica. Ao chegar ao Hermenegildo, sei que ainda não acabou,
pois até a Barra do Chuí ainda tem nove quilômetros. Quando eu fiz a proposta
de atravessar o Cassino, pensei em atravessar o Cassino de bicicleta,
entretanto se por um acaso ela se quebrasse, ou qualquer outro problema, eu a
abandonaria e seguia meu trecho a pé, então quanto mais eu chego no final da
expedição, mais facilidade será para mim caso aconteça algo desafortunado. Este
algo desafortunado que cito, significa se caso acontecer qualquer coisa com a
bicicleta, porém quero eu e ela, nos chegarmos juntos e retornarmos para minha
cidade de origem juntos, mesmo que ela desmontada e embalada e eu na poltrona
do ônibus. Alguém dirá assim: que injustiça, ela vai toda desmontada
e embalada e você vai sentado na poltrona, eu respondo que sim e digo que ela
está melhor do que eu, porque uma particularidade da minha vida é: eu posso
viajar o mundo inteiro pedalando, andando, a pé, ou de qualquer outra forma;
entretanto se eu estiver de ônibus, de carro ou qualquer outro meio de
transporte sentado, as minhas pernas começam colapsar, não sei dizer ao certo
quais são os problemas dela, porque os meus pés incham já nos primeiros
cinquenta quilômetros e imagina vir do Chuí até Porto Alegre, de Porto Alegre
até Ourinhos. No primeiro ônibus foram nove horas de viagem e no segundo
dezenove horas. Pois faço a pergunta a quem falou de injustiça dos meios de
transporte da bicicleta e a mim: quem viaja melhor, a bicicleta toda embalada e
deitada ou eu com os meus pés parecendo dois pãezinhos caseiros fermentados?
Ela é claro.
Cheguei ao povoado
Hermenegildo. As pessoas informaram-me a ver vários campings neste
povoado. Entrei feliz na cidade com a sensação de: olha aí a civilização e uma
vontade de tomar uma Coca-Cola. A primeira informação, um tanto
confusa, era que se eu virasse a primeira, contornasse a
segunda, seguisse em frente e tornasse a rodear, haveria um camping.
Eu nunca consigo compreender o que as pessoas me informam a respeito de
localidade, então agradecei e entrei sentido povoado. A ideia principal era
encontrar um pequeno estabelecimento comercial para eu tomar algo, entretanto
no início da cidade ao pedir informação a uma pessoa sobre o camping e ela
falou ser proprietária de uma casa em construção de frente para o mar e que eu
pudesse ficar ali, montar minha barraca e ainda tinha até uma torneira para meu
devido banho, pois assim eu fiz.
Para encerrar a expedição,
os nove quilômetros adiante, já no outro dia, dispensa os pormenores: do nascer
do sol; do arder do Sol; da arrebentação das águas do mar na praia; e, enfim, a
bandeira quadriculada mais adiante. Com o tremular dessa Bandeira, a da reta
final, tenho a sensação de expedição cumprida, ou missão cumprida, entretanto,
minha mente fervilha por outros desafios e posso dizer que existem vários,
todavia só consigo pensar no Ushuaia que fica no sul da Argentina, depois da
Patagônia. O Ushuaia é comparado ao Everest do cicloviajante, não
literalmente falando, porém, a título de análogo. O meu estilo de viagem de
bicicleta deve modificar um pouco, até pela experiência que tive nesta
expedição.
Roteiro de um
vídeo do YouTube
Perrengues e fatos a
serem observados, recompensas e os bônus. Neste vídeo (desculpem, entretanto,
esse trecho é o roteiro de um vídeo) eu quero falar sobre os perrengues e os
fatos a serem observados.
- Perrengue. Perrengues
são as dificuldades encontradas neste meu particular, a viagem de bicicleta
pela praia do Cassino, não adentrando a outras viagens de outros
cicloviajantes, porque sei que alguns entraram nos comentários e dirão: eu fiz
a praia do Cassino e não foi bem assim, então volto a afirmar são os perrengues
que eu os encontrei.
- Fatos a serem
observados. Fatos a serem observados são alguns detalhes que conversei com os
ribeirinhos, alguns dados de pessoas que vivem o exército função naquele,
exemplo os militares da Marinha, pescadores e outros.
- Recompensas e bônus.
Agora no quesito recompensas e bônus, eu quero diferenciar bem enfaticamente as
recompensas como sendo aquilo que encontrei de bom na Praia do Cassino e o que
fez refletir sobre o presente que estava recebendo naquele momento.
- Bônus. O bônus é algo
fora do comum, que eu não tinha ideia, porém estava incluído no pacote
expedição Praia do Cassino.
- Com os subtítulos:
perrengues, recompensas, fatos a serem observados e bônus, vem comigo a minha
linha de raciocínio e tentar compreender como foi minha viagem de cinco dias e
quatro noites na Praia do Cassino. Começarei o contexto com perrengues,
deixando o bônus para o final, porque essa história teve um final feliz.
- Já iniciando, um
"perrengue", a saber, senhores ciclistas, também motociclistas e
motoristas, na areia fofa não se consegue pedalar, apesar de que, os dois
últimos têm motor, mas existe uma dificuldade muito grande em se locomover na
areia fofa e toda praia, na sua extensão lateral, é na sua totalidade areia
fofa; alguns trechos existem marcas de veículos, porém volto afirmar, moto e
automóvel conseguem passar, mas bicicleta não. O cicloviajante só consegue
pedalar na arrebentação do mar, com as águas batendo nas rodas da bicicleta.
- Perrengue fato de
fazer um pedal na arrebentação, existe o lado do perrengue, mas também tem a
recompensa; abordando sobre o perrengue é, todo cuidado é pouco, pois a água a
todo o momento passa pelas rodas e às vezes tão altas que chega cobrir o pé de
vela. Bonificação, o fato de fazer o pedal na arrebentação das ondas, margeando
a praia, lhe dá uma sensação de leveza do contato da água com os seus pés e
tirando restos de Areias entre os dedos e o chinelo. Fatos a serem observados
do pedal sendo feito na arrebentação das ondas do mar com a praia, deve se
observar os cuidados, pois a água pode desestabilizar pilotagem e derrubar a
bicicleta. Também ainda, cuidado que as margens ligando o mar e a areia existem
piscinas ocultas, alguns tipos de mini barrancos, aonde a água das ondas vem
mais resistente e o que aconteceu comigo, derrubou-me.
Perrengue. Como
perrengue ligado ao pedal na arrebentação do mar com a praia, não se consegue
pedalar nas areias, mesmo onde os veículos passam, porque Como já disse,
veículo tem motor e mesmo em dificuldades, eles seguem, já na areia não se
consegue pedalar, porque os pneus da bicicleta afundam, fica inviável.
- Perrengue para
acampar, deve se conduzir a bicicleta até as dunas e atravessar toda aquela
areia fofa e no esforço incrível, tendo em vista que, só as dunas podem
proteger um pouco dos ventos.
- Perrengue ao montar a
barraca, deve se observar que sempre está ventando, então necessita colocar
pesos nos cantos da barraca, xxx senão voa tudo. O interessante é abri-la antes
de armar e colocar os “pererecos” dentro dela, pois só assim terá paz para
armar as varetas. Mesmo depois da barraca armada, a dificuldade é com o preparo
do alimento, porque o vento não dá trégua, no entanto, o que fiz é: apesar de
não indicar, desta maneira eu fiz, porém, é perigoso, cozinhar na barraca,
tomando o máximo cuidado para não derrubar a espiriteira ou o fogareiro.
- Perrengues, não existe
falta de perrengue quando a quilometragem é alta, duzentos e trinta
quilômetros, contudo enfim, essa é a proposta da Praia do Cassino.
- Perrengue. Areia. Não
se deve classificar areia em uma praia como perrengue, no entanto, se a sua
bicicleta, ou é daquela bike "nutella", pode ter certeza que areia
entrará por todos os vãos, furos, catraca, comando, engrenagem, freios e assim
sucessivamente.
- Recompensação. Existe
uma praia gigantesca, só e exclusivamente para você, raramente uma viva alma
passa por ali, toda a imagem, toda brisa, todo o visual é único e só você tem
esse acesso.
- Recompensação. Quando
você está inserido naquele ambiente, a Praia do Cassino em sua imensidão, mesmo
com todos os perrengues e as dificuldades, você é tomado por uma paz imensa,
até parece que a sua existência e os mares, os dois se unem em intimidade. Os
acampamentos, com certeza, será a tranquilidade total; porquanto, durante o dia
não se vê uma penada alma, a noite então é solidão total com relação à outra
pessoa que poderia estar passando por naquele lugar.
- Recompensa. A
imensidão de tempo, quase uma eternidade em que você está em companhia do mar,
praia, areia, brisa; indescritível a sensação de paz que recai naquele momento
em você.
- Bônus. Com relação a
minha viagem, posso descrever uns três: assistir o pôr do sol único,
sensacional, sem interferência de nuvens; xx assistir o nascer do sol a leste,
todas as manhãs, idem ao pôr do sol, sem interferência alguma; e, ainda, ter
uma imensidão de um mar com suas ondas à disposição.
- Cuidados a serem
tomados. Verificar as marés por meio de aplicativos e outros. Observar as
melhores luas para que as marés preferivelmente estejam baixas.
- Cuidados a serem
tomados. Não é uma boa ideia fazer essa viagem no inverno, segundo militares da
Marinha.
- Precaução com água.
Nessa viagem, eu levei um galão de cinco litros, mais uma garrafa PET de dois
litros e meio e não deu para chegar até a Marinha, apesar de que tem os arroios
que possa abastecer, todavia eu aconselho levar ou um filtro, ou clorin.
- Cuidados a serem
tomados. Entrar em contato com a Marinha, talvez na cidade de Rio Grande, pois
eu não fiz dessa maneira e não deu para eu passar até a sede da Marinha para
pedir autorização de pernoitar na base Albardão. É de suma importância o pedido
de autorização, pois desta forma os marinheiros já tem ciência que vai passar
por ali, caso contrário como aconteceu comigo, eles não têm obrigação de dar
abrigo, entretanto devido ao bom coração daqueles homens de bem, fui socorrido.
- Entre outros quesitos
mais, se alguém tiver alguma dúvida coloca nos comentários, se eu puder responder
responderei.
Parte I
Trinta de novembro. Angústia da
partida.
Contagem
regressiva para minha saída
Começa
hoje, dia trinta de novembro;
É
um ignóbil soneto e não a despedida,
Chegarei
ao Cassino final de dezembro.
Quem
quiser de mim, ser um membro;
Divulguem
minha perturbada insana vida.
Nada
esquecerei, pois sempre me lembro:
Sou
grato por suas ternuras e guaridas.
Vamos
nos jogar de cabeça nesse infinito;
Sigam
os meus trechos neste manuscrito;
Eu
sei que é mirabolante e muito esquisito.
Também
estarei no meu canal “Role Insano”
Compartilhem
e deem um joinha lá no YouTube,
E
a vocês, o cicloturismo sagrado e profano.
Primeiro de dezembro. O sonho de Liberdade.
Primeiro de dezembro, enfim
O
mês doze, pleno verão, chegou,
Ainda
faltam quatro dias para mim,
Para
o cicloturismo insano que vou
Balão
cheio da minha liberdade inflou
E
eu sinto no ar o aroma de jasmim,
A
cicloviagem ainda nem começou,
Convido
lhes, para do começo ao fim.
Vou
sim; voltar? Quem sabe, talvez!
Se
duvidar, de novo eu vou outra vez,
Só
não peça para eu ter a sensatez.
Não
vou seguir nenhum itinerário,
O
meu percurso é o horizonte,
É,
tão somente, não quero o horário.
Dois de dezembro. Vem
comigo.
Sexta-feira,“
sextou” e sem pressa,
A contagem
regressiva continua;
Se quiser
vir, também vamos nessa,
Vamos
pedalar no mundo da lua.
Somatória
das decisões minhas e suas,
Nada além
da cicloviagem nos interessa,
Aversão de
preconceito, tabu e alma nua;
Bulhufas
em troca e nenhuma promessa.
Apenas ir
até a linha do Horizonte,
E se der
sede? Beber água na fonte,
E
mergulhar feito um rinoceronte.
Só sei,
não haver nenhum pacto,
É apenas a
essência do que vier,
Talvez
mais um, ou só um último ato.
Três de dezembro. Para ir, é só dar o pontapé inicial.
Faltam
três dias para o “gran” início,
Como está
o psicológico do bacana?
É como se
eu me jogasse em um precipício,
Pelado,
descalço, sem nenhuma havaiana.
No
entanto, a mente tonta, a gente, engana;
E enche de
prazer sem nenhum sacrifício;
Vai lá,
Somewhere! É a perfeita gincana,
É o que
você sempre faz, sem compromisso.
O coração
gela, o peito palpita;
No
entanto, é bom fazer e se permita,
Ainda de
bônus, deixar a história escrita.
No
entanto, que eu não me esqueça
De
convidar lhe a ir, quem comigo quiser:
No
YouTube, insta, ou aqui, só permaneça.
Daí eu prometo, apenas prometo eu, a mim terá.
Quem
quiser vir comigo e fazer meus trechos,
A única
coisa que prometo, é um nada;
Quem
quiser vir comigo e fazer meus trajetos,
A única
coisa que prometo são contos de fadas.
O que
acontece no cicloturismo é secreto;
As coisas
boas ou males, a gente deixa na estrada,
Não diga
que está viagem seja uma empreitada,
É como
tal, ler em braile sendo analfabeto.
De nada
precisa, só um camping e à noite estrelada
Para
descansar a alma e repor o velho esqueleto,
São
palavras sem sentido e disse acima.
Dia de d! Estou perdido, não sei o
que fazer.
A partida era para ser hoje, quinto
no dia;
Mas, motivos, outros, eu deixei para amanhã;
Talvez esse, últimos versos da minha poesia;
Então, Vem comigo, faça parte do meu clã.
Hoje amanheceu com aroma de hortelã,
E sinto um misto de expectativa e alegria,
Se você vier, juro, de antemão, sou seu fã,
Vem! Vai, vem comigo, faça-me companhia.
Eu e Você, nós somos uno, só um universo,
Não somos bonzinhos, nem tanto perversos,
Apenas nessas loucuras estamos imersos.
O amanhã nem faço ideia de onde estou,
A beleza do cicloturismo é não ter previsão;
Mas, só posso afirmar, a certeza é que vou.
O que será que está escrito nas
estrelas? Desesperado, joguei fora meu relógio.
Mal posso esperar, mas que
"#inquietação",
Sei que o amanhã haverá, sempre há de vir,
Bate apertado, solícito, e feliz meu coração;
Sei lá se hoje à noite vou conseguir dormir.
Entretanto, que eu quero mesmo logo é fugir
Pedalando abestadamente em outra dimensão
Antes do sol nascer, amanhã cedo, eu vou sair,
Eu não sigo nada, nem talvez a minha intuição.
O que tem a fazer? É sair ligeirinho sem pensar,
É como pular desvairamente de cabeça no mar,
Não pode, porém, nem também para trás olhar.
Do que escrevo, é o que meu coração sente;
Tento expor a vocês todo o meu tempo real,
E tudo que passa em minha delirante mente.
Eu egoísta, desligo-me de tudo.
Quando você vai fazer um
ciciculturismo,
Dias antes é um processo de
desligamento,
E o que eu não sabia, tal é como um
abismo,
E vai pedalar a mercê dos incertos
ventos.
Tudo isso, que sinto agora, nesse
momento,
É a busca de si só e sem singelo
egoísmo;
Que some da mente até os
pensamentos,
Ninguém é a favor e nem há
antagonismo.
Não queira agir como uma pista de
corrida,
Nem tão pouco ser mais veloz que a
vida,
Cicloviaja você! Esquece um pouco a
torcida.
Porque, o que vai ficar é os seus
momentos,
Os perrengues, as consternações, as
alegrias;
No amor, no ódio, no regozijo e no
sofrimento.
Liberdade é ir vir e
permanecer, entretanto, até quando?
Não fui ontem, dia cinco; então, e
daí!
Amanhã pode ser uma nova história.
Senti que não devia, pois, ontem
sair,
Cicloviajar a obrigação não é
obrigatória.
Porque, até esses detalhes ficarão na memória;
Não, não! Nem a mim, nem a ninguém,
eu traí;
Sim! Meus leitores dão a mão à
palmatória,
Vamos comigo, sem rumo, sem destino
por aí.
Como eu falei, hoje é dia cinco e eu não fui,
Se alguém se decepcionou,
digo: ui-ui;
Desculpa, recuperei-me, assim a
gente evolui.
Não desdenho, vem comigo no cicloturismo,
A cada um de vocês, mando um abraço;
Use-me e abuse, sou o próprio consumismo.
Vou com Deus, se voltar volto com Ele, se não voltar, estou
com Ele.
"I
Will Be back" um contundente bordão
Que
Schwarzenegger no filme entoou,
Significa:
"eu voltarei", irmãs e irmãos,
Também
digo; mas, se não, nada acabou.
Tudo pode,
ou não ser, ou com Deus estou;
Pois, sim,
porquanto, uma nova configuração,
Serei
apenas um pássaro que no céu voou,
Ou igual a
Ícaro devaneador e sua ilusão.
A sério,
se eu estiver perdido sem destino,
O que
posso dizer, não sabe, nem eu imagino!
O segredo,
tudo ou nada, o profano e o divino.
Entenda,
nem tudo é real, somos marionetes
Seguindo o
infinito do sempre, eternamente,
O começo e
o fim, onde tudo cíclico, se repete
O que deixar fácil, no
quesito tralhas, para pegar no bauleto ou no alforje, facilitando em
caso de emergência. Logo pela manhã, vou fazer meu café e talvez cozinhar
alguns ovos, então o que eu preciso ter em mãos é: a aveia, açúcar, minha
canequinha, espiriteira a álcool, café e os ovos, é lógico. Capa de
chuva e a lona, caso vier uma tempestade repentinamente, porque na estrada as
coisas acontecem assim, está um sol de rachar e de repente cai um dilúvio.
Produtos de limpeza, também devem ter prioridade, pois a todos os momentos a
gente precisa fazer uma higienização, pasta de dente, toalha. E para cozinhar,
as panelas e frigideira, dependendo do que vai ser usado, o arroz e a lentilha,
e o óleo, e o sal.
Esses detalhes que citei acima, todos, são bons, o cicloviajante ter
em mente para não passar transtorno. Facilitar também, na viagem os, os
equipamentos de reparos da bicicleta, de troca de pneu. As noites no camping,
já é outro departamento, pois é o final do dia,
dizer que a barraca deva estar acessível, isolante térmico, saco de
dormir e travesseiro e considerando que o cicloturista, na maioria
das vezes, pernoitam em posto de gasolina, não devemos esquecer das outras
vezes, que não são muitas, o pernoite em camping selvagem, na natureza, então
uma boa lanterna deve estar as mãos.
Diário de bicicleta
Bom dia grupo, já na
estrada para ciclo-viajar, acompanhe pelo "Insta" e pelo
"YouTube" eu vou, não sei até onde, mas a minha proposta é até onde
Deus quiser ou até a linha do Horizonte. Essa foi a mensagem que
transcrevi no grupo da família.
Enfim, começa meu
ciclo-turismo e sempre falo na minha viagem, ou lembro esses dizeres de Leandro
e Leonardo: eu não sei para onde vou, pode até não dar em nada, a minha vida
ela segue o sol no horizonte dessa estrada. A bicicleta está carregada, levo
tudo que preciso e espero não ter que
jogar nada fora, porque cada item eu percebo uma necessidade, porém digo, tem
muita "badulaqueira" em cima da bicicleta, aproximadamente trinta
quilos, distribuído entre a frente e atrás, saindo no meu primeiro dia.
Hoje, dia oito de
dezembro de dois mil e vinte e três,
saindo de Assis, São Paulo, com destino, primeiramente, a Ourinhos, a bicicleta pronta, gigante, acredito que não
falta nada. No trevo de platina, rodovia Raposo Tavares, bateu uma
fraqueza, acredito que seja falta de sais, porque saí de casa e tomei apenas
café, deveria ter feito um de jejum. Estacionei a bicicleta, peguei o
leite em pó e coloquei com a água que eu tenho no meu reservatório, se vocês
observarem lá no meu “Instagram” ou no “YouTube”, o meu pequeno reservatório,
ele mantém a água bem gelada. Agora são onze horas e trinta e três
minutos, acredito que estou a uns vinte quilômetros de casa, traduzindo melhor,
já pedalei uns vinte quilômetros e o dia tá muito quente, como eu não vou até
Ourinhos, então vou ficar aqui no trevo de Platina esperando um pouquinho dar
uma refrescada. Eu sei que tudo que vocês lerem aqui, também encontrará no
vídeo do “YouTube”, a parte do qual eu descrevo é a parte do vídeo que
mostrei. Aqui no trevo, eu deitado em baixo de uma árvore, dois passarinhos
quero-queros e evitei de parar na sombra de outra árvore, para não atrapalhar
as aves. Não sei se já aconteceu em outra obra, ao mesmo tempo, em que se
escreve um livro, também se filma, não deixe de visitar meu canal no “YouTube
Role Insano e no Instagram”. O que eu digo meus Caros leitores: na viagem
de bicicleta a vida é isso, são os instantes. Não tenho pressa, alguém está com
pressa de algo? Então nesse momento, deitado á sombra de uma árvore, esse
pequeno trecho faz parte do vídeo.
Quais são as
programações? Os projetos? Para hoje eu tinha planos de acampar embaixo de uma
ponde na rodovia, pouco ante de chegar a Salto Grande, que passa um rio, vocês
podem ver na “playlist” da primeira temporada o primeiro vídeo, entretanto,
também, posso acampar em um posto nas proximidades, como dizia a filósofa minha
mãe querida: sei lá, sei lá, sei lá. Realmente eu não sei, porque no
momento em que escrevo, deitado embaixo desta árvore, ainda nada aconteceu, o
ciclo-turismo é uma caixinha de surpresa e estamos ainda no primeiro dia
dos muitos que virão.
Agora são
aproximadamente vinte e duas horas, estou no posto pernoitando, na
marquise do Restaurante São Mateus, com
minha barraca de acampamento montada e faltando uns sete quilômetros para
chegar à cidade de Salto Grande. Teria ido dormir, mas o “YouTube” deu problema
para fazer “upload” demonstrando que os dados não tinha sido salvos, estou até
agora, entretanto amanhã, eu saio bem cedo, a viagem é mais curta. Para chegar
até aqui, não foi fácil, o dia estava quente, massacrante, mas cheguei e olha
que são apenas quarenta e oito quilômetros, não sei se estou preparado ou foi
que não tinha comido nada no meu desjejum matinal quando saí de casa, esse foi
o meu erro. Todavia, agora, a barraca já está montada, estou a quarenta e
oito quilômetros de Assis e o posto de combustível não é vinte quatro horas e a
lanchonete também fica fechada, ainda estou acordado para pegar o wi-fi e fazer
subir o meu vídeo. O que posso dizer agora é: o amanhã promete,
espero que esteja perfeito, porque será menos quilometragem, uns vinte e oito a
trinta. Vi aqui na meteorologia, online, não sei se é confiável, porque quando
eles falam que vai fazer sol, aí chove e quando eles falam que vai chover, aí
faz sol, que amanhã vai fazer sol, enfim prefiro sol, porque quando
pedalamos, colocamos manguito, chapéu para cobrir o rosto e capacete e a brisa
que bate refrescando; agora na chuva é complicado, porém, não digamos que é
ruim. Também eu poderia exemplificar vários motivos para preferir a chuva, já
nem sei o que eu prefiro; prefiro, sim, fazer meu ciclo-turismo em paz. Se
vocês observarem os meus vídeos da segunda temporada, nas serras catarinenses,
Corvo Branco e Rio do Rastro, foi praticamente regado por uma chuva torrencial
e frio de gelar os ossos da canela, lembro com saudades.
Uma pessoa pode até
questionar sobre o ciclo-turismo e dizer: bicicleta é sofrimento, porque não
vai de moto, ou de carro; o que digo é o seguinte: não existe liberdade maior
que bicicleta, pelo menos sobre o meu prisma, você escuta os sons, observa a
natureza nos seus mínimos detalhes, coisa que talvez de moto fosse impossível,
no entanto, eu complemento que cada um, é cada um.
De bordo segundo dia
Noite perfeita, o dono
da lanchonete autorizou-me a montar a barraca no corredor, em um local coberto,
pois facilitaria caso chovesse, todavia o tempo não estava propício para chuva,
porém como sempre digo, uma pessoa prevenida vale por dois. Montei a barraca,
comi mais um pouco da marmita e dormi como uma criança, a única coisa que
incomodou um pouco, era porque estava embaixo de um bico de luz, entretanto
depois do cansaço, dia repleto, nada importava. Acordei às 04h00min da
manhã para desmontar a barraca e dar uma carga no celular. A lanchonete estava
fechada, não tinha nenhum ponto de tomada, então fui até o posto. Uma das
preocupações de um viajante de bicicleta deve ser acordar cedo para carregar o
celular e outros eletrônicos, que pela manhã, no mínimo deva ter pelo menos cinquenta
por cento de bateria, na estrada a gente nunca sabe quando vai ter
necessidades, caso mais extremo, um socorro.
Hoje tem jogo da seleção
brasileira, já estou com a minha camisa
canarinho, não sei afirmar com quem a seleção vai jogar, contudo, vou torcer,
não é porque estamos ciclo-viajando que devemos desconectar do mundo, ainda
porque, as redes sociais não deixam a gente viver na bolha.
Nesse exato momento, o
sol já desponta no leste, hoje o itinerário é curto, mesmo a
bateria não estando totalmente carregada, eu preciso vou pegar estrada, vou
deixar meu café para ser feito lá para as nove horas.
Uma breve parada embaixo
da ponte que transpassa a rodovia Raposo Tavares em Salto Grande, próximo a
Ourinhos, a uns cinco quilômetros atrás, eu parei para fazer café. A gente
vive sem tudo, entretanto sem café simplesmente não existe vida, também
cozinhei seis ovos, para não perder, agora uns cinco quilômetros à frente, vou
comer lá na base de atendimento ao usuário, a base é lugar de repor as baterias,
tanto água gelada, também banheiro e quem sabe um wi-fi, ela é quase chegando
em Ourinhos, comerei o resto da marmita de ontem, se não estiver estragado.
Hoje, o que eu não tenho, é pressa; como se percebe, eu sair 06h00min do
posto de combustível e Restaurante São Matheus, onde pernoitei, agora são
08h16min e andei apenas cinco quilômetros; andei não, pedalei.
A uns dez quilômetros à
frente, na base de atendimento ao usuário da “Cart”, quase chegando a
Ourinhos, parei para comer o resto da marmita de ontem, porém como já tinha
tomado um café reforçado com dois ovos, lá em Salto Grande, não comi
muito. diferente de ontem, estou superalimentado, comi até demais, tendo
em vista o café com aveia, no começo da viagem, debaixo da ponte, ou pontilhão,
em Salto Grande, três ovos e agora aqui na “Cart” quase chegando em Ourinhos,
uns quatro pedaços de carne substancialmente.
Para efeito de horários,
agora são 10h33min, o pessoal de Ourinhos, filha, genro, cachorro, gato,
periquito e beija-flor, já estão me cobrando, se vou chegar a tempo para
assistir ao jogo, todavia a “inhaca” está falando mais alto, nesse exato
instante estou à sombra de uma árvore, sem camisa, já tirei o tênis, estou com
um chinelo no pé. Ciclo-viajar é mais ou menos isso, um dia você anda
oitenta quilômetros, outro dia dez, não é a distância que você vai
percorrer e sim que você está transitando ou ciclo-viajando, caso você pensar
de forma diferente e achar que ciclo-viagem é igual andar de carro em que você
tem horário para chegar, então nem vai.
Cheguei a tempo para
assistir ao jogo do Brasil, entretanto não preciso nem comentar como foi, eu
acredito que você que está lendo esse diário, já sabe, porém, as coisas são
assim. Croácia e Brasil, no empate de um a um, o Brasil foi derrotado nos
pênaltis.
O que posso dizer das
sensações dessa bicicleta pesada após hoje o terceiro dia, não sei se eu ando
cansado, ou ela tá muito carregada, no entanto, nada que levo na minha bagagem,
eu possa dispor, porque acredito que estou levando só o essencial - daqui a
quinhentos quilômetros eu volto fazer essa análise -, esse é um dos cuidados
que devemos ter quando e só escolhemos o essencial, põe algo em sua cabeça,
devemos adotar o minimalismo, no entanto, não vai deixar de levar alguma coisa,
mas se não levar, falta não vai fazer. Entenda, você leva uma linha, pesa; leva
um parafuso sobressalente, aumenta o peso; uma chave de fenda, o peso vai
aumentando; resumo: não tem jeito, no entanto, existe um peso limite, penso que
você puder levar menos. No bagageiro traseiro no máximo 20 kg, à frente,
bagageiro dianteiro, o máximo 8 kg, se conseguir levar menos dos
parabéns.
Segunda-feira, doze de
dezembro de dois mil e vinte e dois, oh meu querido diário, "risos".
Sendo hoje uma segunda-feira, como se percebe, passaram dois dias e aqui nada
foi escrito, o sábado e o domingo.
Encerrei o último trecho
da minha viagem na sexta-feira quando cheguei na casa da filha em Ourinhos e a
bicicleta precisava reparos, então dei uma pequena pausa nos dois dias. De
sexta-feira no final de tarde até hoje, eu estava em Ourinhos e sábado de manhã
bem cedo retornei a Assis para ficar com meu amor, segunda-feira de
manha retorno a Ourinhos e tomo as providências com relação a
bicicleta cargueira, predator, a pregadora.
Projetos para amanhã,
entenda quando eu falo projeto não quero dizer que vai acontecer e sim o que
pretendo fazer. Amanhã terça-feira, pretendo sair cedinho, quando começar
a clarear o dia, existe duas hipóteses: a primeira é ir até o camping de
Ipaussu e a segunda estender um pouco mais e chegar até a enseada
Marianinho. Prós e contra das duas opções, o camping de Ipaussu é um lugar
fenomenal, todavia da cidade de Ipaussu até o camping é uma ladeira violenta, e
caso eu for acampar lá, o problema não é a ida e sim, o dia seguinte para
retornar a rodovia, além de ser uma subida de oito quilômetros, ainda na sua
maior parte de terra. Já a enseada Marianinho, não tem muitos empecilhos e
eu já acampei por lá, é um lugar esplêndido, ainda bem que exponho as minhas
pretensões, ainda que não aconteça, porque isso é apenas um diário de
cicloviajante e na maioria das vezes escrevo antes de acontecer, tenho um norte
a tomar. Acabei de chegar na enseada Pirajú, também conhecida por
Marianinho, foram quarenta e oito quilômetros hoje, não sei dizer se foi puxado
ou foi leve, porque tudo é relativo.
Alguns dias após, hoje é
20 de dezembro, prefiro colocar a data para saberem a cronologia dos fatos e se
é um diário, então escrevo no momento o que em que os fatos acontecem. Eu
retornei na quinta-feira dia quinze a cidade de Ourinhos. No parágrafo anterior
eu havia encerrado quando estava na enseada Piraju, passei a noite e no outro
dia sai bem cedo. Já alguns quilômetros a frente, notei a falta do meu RG.
assunto esse que vou abordar mais adiante. Retornei e mais uma vez, agora
novamente estou pernoitando na enseada Piraju, mais conhecida por
enseada, ou cachoeira Marianinho.
Quando eu estava a
caminho do destino do meu cicloturismo, percebi estar sem meus documentos e resume-se
apenas no RG físico. sei que alguns de vocês dirão: qual é o motivo de eu
não ter optado pelo de forma digital? É uma falha? Acredito que sim, porém a
gente vive e aprende. Quando retornei na quinta-feira, dia quinze para
Ourinhos, minhas expectativas é que
estivesse esquecido na casa da minha filha, entretanto, procurei por todos os
cantos, mas não o encontrei, o RG que estou falando Claro. Ainda que eu
não tenha encontrado o RG em Ourinhos, a minha esperança é que tivesse deixado
em Assis. Resumindo, perdi o RG. o que vai acontecer com o meu
cicloturismo? Vou tentar descrever de forma rápida: não encontrando o RG, vou
ter que pedir segunda via. Posterior ao ter a segunda via em mãos, vou baixar
de forma digital; é claro, hoje sendo dia vinte de dezembro, mesmo que eu
encontrasse esse famigerado RG, não irei iniciar o cicloturismo agora, pois
seria até injustiça minha com os meus familiares, então vou passar
as festas natalinas e de fim de ano com eles; a data específica para retornar a
viagem de bicicleta, é começo de janeiro, não podendo afirmar o dia,
entretanto, se você está lendo, tudo aconteceu. Só para entender um
pouquinho como eu escrevo esse diário, no momento, como eu citei acima é
dia vinte de dezembro, conjecturando as hipóteses, e ainda consternado pela
perda do meu documento e se você está lendo, então presumo continuei
escrevendo e a viagem seguiu. Desculpem as minhas incertezas, nem sei se meu
nome é Samuel, mudarei o mesmo nome que tem meu primo que mora no sítio,
Somewhere.
Hoje, vinte e sete de
dezembro.
Eu sei que na vida tudo
se resume em acontecimentos, mas nem todos os fatos são registrados, no
entanto, como aqui é um diário, então descrevo de como está a senda de uma
viagem de bicicleta e onde tudo acontece. Hoje dia 27 de dezembro de 2022,
novos fatos e novas versões: na data de ontem, eu agendei para hoje 27 no
Poupatempo em que providenciaria a segunda via do meu RG, fatídico documento e
na hora que mais precisava dele ele escafedeu, foi para onde eu não sei. Ao chegar
para o atendimento, imaginava eu que em uma semana estivesse com uma segunda
via nas mãos, além de pagar uma taxa de quarenta e sete Reais; ainda, no
Poupatempo, eles me disseram que estaria pronto no dia dezessete de janeiro,
portanto o ano que vem. Naquele instante, eu lá no Poupatempo, caia um
balde de água gelada com vários cubinhos de gelo sobre minha cabeça, mas como
diz o velho deitado, ou o ditado: para melhorar tem que piorar" então me
acalmei. Percebo que às vezes eu escrevo demais para o nada que está
acontecendo, porém, estes fatos são algo que devo aqui no diário lembrar e
ainda tenho uma esperança, caso venha encontrar meu RG antigo, que está em
local incerto e não sabido, partirei. O certo é, os meus propósitos era
sair em nove de janeiro de dois mil e vinte e três, no entanto, como o RG está
pronto para o dezessete de janeiro, então é uma semana a mais e se eu
começar a demorar muito, vou chegar na Praia do Cassino no inverno. Nada
que esteja ruim possa melhorar, também o inverso nada que esteja bom, possa
piorar e assim sigo a minha senda.
Hoje é dia quinze de
janeiro de dois mil e vinte e três, 10h12min E como sempre eu digo, ou escrevo:
isso é um diário e diário tem uma sequência cronológica, então não devo
furtar-me de relatar o que vem acontecendo, pois ainda não estou na
estrada. Depois de amanhã é dezessete e como já vimos é a data de eu ir ao
Poupa tempo pegar a minha segunda via do RG. Caso não tenha nenhum compromisso
pendente, a única sugestão é montar na bicicleta, não olhar para trás e sair em
cicloturismo, pois o que tiver para se resolver, assim será feito, por quem
ficou. Qual o motivo de eu explicitar sobre compromisso a ser resolvido,
talvez seja, não sei se vocês vão entender,
"enquanto você está na sua casa e não saiu para a aventura, sempre
alguém fala: ah faz isso ou faz aquilo" e no próximo parágrafo quero
deixar bem claro o que vai acontecer.
A minha vontade é
intenção era montar minha bicicleta, parar em frente o Poupatempo, pegar o RG,
e cair na estrada, mas as coisas não são da maneira que a gente quer e também
existem detalhes que a gente faz questão de estar presente. Do dia
dezessete ao dia trinta e um (transformando em pormenores, não viajar no dia
vinte e sete e mudar para o dia trinta e um) são três detalhes, que vem
logo a seguir:
— Um, em casa nós temos
cachorros, então se um viaja outro fica para alimentar os "dogs", dia
dezesseis a Irene vai levar o Pedro, filho, em Londrina, voltando às aulas em
odonto UEL;
— Dois, dia trinta e um
é aniversário da minha sogra e imprescindível que minha esposa deixa de ir,
minha sogra Maria José irá fazer 95 de idade.
— Três, resumindo minha
agenda de compromissos, minha filha Juliana está colando grau em Medicina
Veterinária.
Após então, como percebe
se houver algum compromisso para fevereiro, com certeza estarei longe, porque
já no dia primeiro, dou o último retoque na bicicleta que ela está com o selim,
banco quebrado, depois destes compromissos, que de antemão digo que eu os fiz
com muito prazer, acionarei a tecla única da minha vida "#fui" Samuel
pé na estrada ou Samuel pedal na estrada.
Se você está lendo, é
porque tudo aconteceu, e eu mando uns parabéns para mim lá no futuro, nesse
momento eu daria meu reino por uma bola de cristal. Estou tão ansioso para sair
na minha cicloviagem, pois fiquei sabendo via internet que no dia dois vai
ser visível na madrugada e poderei avistar um cometa que passa de cinquenta a
cinquenta anos, C/2022 E3 (ZTF) quero nessa data estar
desfrutando de um acampamento, você está lendo, então aconteceu. Só
para encerrar, esse instante que ainda não estou em cicloturismo, relatar
que as minhas aventuras, as viagens, as loucuras do dia a dia na estrada, são
apenas um por cento da minha vida, porque 99% são preparativos, sinto maior
êxtase em ficar o tempo todo pensando e preparando, mas tudo com o
consentimento maior que é de Deus.
Ontem dia dezessete, fui
buscar meu RG, estou muito emocionado, pois agora tenho documento e já posso
cair na estrada, porém como já relatei alguns parágrafos atrás existem algumas
coisinhas a serem feitas aqui que não vou citar apenas que pretendo sair, ou
dia primeiro, ou dia dois no mais tardar.
Muito entusiasmado com
os eventos astronômicos, já falei, mas como é um diário falo de novo, eventos
que irão acontecer a partir do dia primeiro de fevereiro no céu do hemisfério
sul. Esse cometa visita os entornos da terra de cinquenta mil anos em
cinquenta mil anos e a última vez que
ele ficou visível da terra, os nossos habitantes eram os Neandertais, e agora
de retorno, não vejo a hora de estar em um camping na natureza para
observa-lo, apesar de não parecer, sou apaixonado por esses eventos. Tenho
consciência que mesmo estando em loco, na natureza, será difícil registrar,
pois meu único aparelho é o celular, como sabemos nenhum celular é capaz de
fazer uma boa imagem de um cometa. No entanto, estando em módulo acampamento,
registrei a sensação de saborear um evento deste quilate.
E assim encerra meu
diário por hoje.
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